Clínica lacaniana das psicoses

De um ponto de vista lacaniano, o tratamento psicanalítico da neurose visa fundamentalmente suscitar um processo de DESESTABILIZAÇÃO.

Com efeito, na neurose, o sujeito encontra-se excessivamente ESTABILIZADO em função do forte apego que tem ao seu eu ideal.

Esse apego o leva a rechaçar as dimensões de seu psiquismo que são incompatíveis com a imagem idealizada que tem de si mesmo.

E são justamente essas dimensões rechaçadas que estão na origem dos problemas emocionais que levam o neurótico a buscar ajuda.

É por isso que o analista precisa desestabilizar o sujeito: para estimulá-lo a sair deste estado de alienação e se abrir para o encontro com suas outras facetas.

Por outro lado, quando estamos trabalhando com um paciente psicótico, a análise precisa caminhar na direção oposta, ou seja, rumo à estabilização.

Afinal, na psicose falta essa espécie de centro gravitacional com o qual o neurótico pode contar para fugir de si mesmo.

No psicótico, ao invés deste centro, existe um buraco. Por isso, ele encontra-se num estado de errância, de desorientação fundamental.

Nesse sentido, o tratamento lacaniano da psicose deve ter como objetivo ajudar o sujeito a construir algo que funcione como um suplemento para essa lacuna.

Se, na neurose, o trabalho visa desestabilizar, na psicose precisamos ajudar o sujeito a encontrar caminhos para a estabilização.

— Ok, Lucas, mas, na prática, como isso acontece? O que o analista, na perspectiva lacaniana, deve e não deve fazer com pacientes psicóticos?

Eu respondo justamente essas perguntas na aula especial que foi publicada hoje na CONFRARIA ANALÍTICA, a minha escola de formação teórica em Psicanálise.

O título dela é “Clínica lacaniana das psicoses (II): tratamento” e está disponível no módulo AULAS TEMÁTICAS – LACAN.

A Confraria é hoje a maior e mais acessível escola de formação em teoria psicanalítica do Brasil.

Para se tornar nosso aluno e ter acesso a essa aula e a todo o nosso acervo de mais de 500 horas de conteúdo, clique aqui.


Participe da CONFRARIA ANALÍTICA, uma comunidade exclusiva, com aulas semanais ao vivo comigo, para quem deseja estudar Psicanálise de forma séria, rigorosa e profunda.

➤ Adquira o meu ebook “Entenda-se: 50 lições de um psicanalista sobre saúde mental”

➤ Adquira o meu ebook “Psicanálise em Humanês: 16 conceitos psicanalíticos cruciais explicados de maneira fácil, clara e didática”

➤ Adquira o meu ebook “O que um psicanalista faz?”

➤ Adquira o pacote com os 3 e-books

Como saber se o paciente é psicótico?

Muitas pessoas acreditam que a presença de alucinações e pensamentos delirantes no quadro clínico é suficiente para diagnosticar um paciente como psicótico.

Mas isso não é verdade.

Sujeitos neuróticos também podem relatar que estão vendo coisas inexistentes ou construir certas interpretações que passam muito longe da realidade.

Anna O., por exemplo, a conhecida paciente histérica de Josef Breuer, alucinou que uma serpente negra se aproximava de seu pai para mordê-lo.

O “Homem dos Ratos” de Freud, embora fosse um neurótico obsessivo, relatava certas ideias que podem muito bem ser classificadas como delirantes.

Portanto, tais fenômenos não são exclusividade da psicose.

Para usá-los como índices diagnósticos, é essencial considerar como o paciente se relaciona com eles.

O neurótico está aberto à possibilidade de questionar a veracidade de suas alucinações e pensamentos delirantes. O psicótico, não.

Como dizia Lacan, na psicose, a pessoa não só acredita que ouve vozes, mas crê NAS VOZES, no que elas dizem.

Essa CERTEZA é um dos traços que permitem a identificação de um quadro psicótico. Mas existem outros, igualmente importantes.

Eu falo sobre eles (e também sobre a certeza) detalhadamente e com exemplos na aula publicada hoje (sexta) na CONFRARIA ANALÍTICA.

O título dela é: “Clinica lacaniana das psicoses (I): diagnóstico” e já está disponível no módulo AULAS TEMÁTICAS – LACAN.

A Confraria é a maior e mais acessível escola de formação teórica em Psicanálise do Brasil.

Para se tornar nosso aluno e ter acesso a essa aula e a todo o nosso acervo de mais de 500 horas de conteúdo, acesse este link.


Participe da CONFRARIA ANALÍTICA, uma comunidade exclusiva, com aulas semanais ao vivo comigo, para quem deseja estudar Psicanálise de forma séria, rigorosa e profunda.

➤ Adquira o meu ebook “Entenda-se: 50 lições de um psicanalista sobre saúde mental”

➤ Adquira o meu ebook “Psicanálise em Humanês: 16 conceitos psicanalíticos cruciais explicados de maneira fácil, clara e didática”

➤ Adquira o meu ebook “O que um psicanalista faz?”

➤ Adquira o pacote com os 3 e-books

“Não fica louco quem quer” (Jacques Lacan)

“Antes de eu nascer, eu já sabia disso tudo! Antes de eu estar com carne e sangue… E, é claro, se eu sou a beira do mundo!”

Esta é uma das inúmeras expressões delirantes proferidas por ESTAMIRA, no extraordinário documentário homônimo de 2004, dirigido por Marcos Prado.

Acompanhando as falas da “protagonista” ao longo do filme, somos tomados por um estranho FASCÍNIO.

Com efeito, não entendemos quase nada do que ela diz, mas, ao mesmo tempo, sentimos um intenso desejo de continuar a escutá-la por horas e horas a fio.

Esta-mira (assim mesmo, de forma escandida, como ela mesma se denomina em vários momentos) é, do ponto de vista psicanalítico, uma PSICÓTICA.

Apesar de achar que a Psicanálise não era capaz de tratar a psicose, Freud sempre se manteve interessado em compreender esse tipo de subjetividade.

Em 1924, no artigo “Neurose e Psicose”, ele propõe a tese de que o psicótico é alguém que rompeu sua relação com a realidade em função de um conflito insustentável com ela.

Em outras palavras, o que Freud está dizendo é que o nosso mundo se mostra tão INSUPORTÁVEL para certas pessoas que elas acabam sendo obrigadas a criar um OUTRO mundo só para elas.

A história de Estamira ilustra essa tese perfeitamente: perdeu o pai aos 2 anos, ficou aos cuidados de uma mãe “perturbada” (palavras dela), sofreu os mais variados abus0s desde criança…

Enfim, motivos não faltaram para que essa mulher voltasse as costas para a realidade compartilhada e forjasse para si um mundo PARTICULAR, no qual tinha “controle superior” (sic).

Mas por que será que ela não conseguiu encontrar outra saída para lidar com a crueldade da vida?

De fato, a existência pode ser extremamente dura e impiedosa com muitas pessoas, mas não são todas que se tornam psicóticas.

Que condição precisa necessariamente estar presente na história de certos indivíduos para que eles só tenham como saída o rompimento com a realidade compartilhada?

Para responder essa pergunta, o psicanalista francês Jacques Lacan formulou uma consistente e rigorosa teoria sobre as psicoses.

E na AULA ESPECIAL desta sexta-feira na CONFRARIA ANALÍTICA eu começo a explicar essa teoria para os alunos — em linguagem simples, didática e acessível.

O título da aula é “AULA ESPECIAL – Introdução à teoria lacaniana das psicoses (parte 01)” e já está disponível na Confraria no módulo “AULAS ESPECIAIS – LACAN”.


Participe, por apenas R$49,99 por mês ou 497,00 por ano, da CONFRARIA ANALÍTICA, uma comunidade exclusiva, com aulas semanais ao vivo comigo, para quem deseja estudar Psicanálise de forma séria, rigorosa e profunda.

➤ Adquira o meu ebook “Psicanálise em Humanês: 16 conceitos psicanalíticos cruciais explicados de maneira fácil, clara e didática”

➤ Adquira o meu ebook “O que um psicanalista faz?”

A fantasia é o delírio inconsciente do neurótico

Em 1924, Freud publicou um artigo chamado “A perda da realidade na neurose e na psicose”.

Ele começa o texto esclarecendo o próprio título.

Com efeito, naturalmente somos levados a pensar que apenas na psicose aconteceria uma perda de realidade, já que, nessa patologia, assistimos ao surgimento de uma realidade “alternativa” marcada pelas alucinações e delírios.

Em outras palavras, temos a tendência de pensar que é só na psicose que ocorre um rompimento da relação do indivíduo com a realidade.

Na neurose, por sua vez, haveria supostamente um excesso de apego à realidade, que levaria o sujeito a reprimir seus impulsos.

Freud,  no entanto, mostra que o neurótico também se afasta da realidade na medida em que “apaga” da sua consciência as ideias relacionadas a seus impulsos reprimidos.

Além disso, de modo análogo ao que acontece na psicose, o neurótico busca compensar a impossibilidade de expressar determinados impulsos por meio da criação de fantasias inconscientes que se materializam nos sintomas.

São justamente essas fantasias que perturbam a relação do neurótico com a realidade, fazendo com que, por exemplo, ele tenha medo de coisas absolutamente inofensivas.

Assim como o psicótico, o neurótico também cria sua realidade particular imaginária e vive nela.

A diferença é que, na psicose, essa realidade “alternativa” é vivenciada conscientemente pela pessoa na forma do delírio e das alucinações.

Na neurose, por sua vez, tudo acontece no plano do Inconsciente.

Conscientemente o sujeito sabe que está apenas conversando com seu chefe no trabalho, mas no Inconsciente pode estar rodando uma fantasia homossexual na qual ele é sodomizado por seu pai.

Inconsciente dessa fantasia, o neurótico experimenta apenas os efeitos que ela produz no plano da consciência: angústia, medo, inibição.

É por isso que o sujeito do exemplo acima não conseguiria entender porque se sente tão tenso na presença do chefe, mesmo ele sendo uma pessoa acolhedora, gentil e compreensiva.

É que conscientemente o indivíduo está apenas conversando com o patrão, mas inconscientemente está EM OUTRA REALIDADE, vivendo uma relação sexual com seu pai…


Participe, por apenas R$39,99 por mês, da CONFRARIA ANALÍTICA, uma comunidade exclusiva, com aulas semanais ao vivo comigo, para quem deseja estudar Psicanálise de forma séria, rigorosa e profunda.

➤ Adquira o meu ebook “Psicanálise em Humanês: 16 conceitos psicanalíticos cruciais explicados de maneira fácil, clara e didática”

➤ Adquira o meu ebook “O que um psicanalista faz?”

Sofrendo o suficiente para não sofrer o insuportável

Psychosis-Bangour-Village-Hospital-Mono-Print-Copy1Diferentemente do que pensam os leigos, o delírio apresentado por um indivíduo psicótico não é uma manifestação direta de sua doença, mas sim uma tentativa, digamos, capenga de se autocurar. Sim, um paranoico que acredita piamente estar sendo monitorado e perseguido pelo FBI não padece propriamente dessa ideia delirante. Ela o faz sofrer, evidentemente, mas, por outro lado, é justamente essa crença que o impede de provar um sofrimento ainda maior: aquele que está em jogo na experiência de desmoronamento da realidade que acomete o psicótico nos momentos iniciais da doença. O delírio é uma espécie de colagem de fragmentos psíquicos que foram, por alguma razão, espalhados. É como se a tendência espontânea de integração presente desde o início da vida impulsionasse o indivíduo a fazer um mosaico com os pedaços de si mesmo. O delírio é, portanto, uma terapêutica “natural” para a experiência de desintegração e de ausência de sentido presente na psicose.

É interessante notar que delirar, em certo sentido, não é uma prerrogativa apenas dos psicóticos. Se levarmos em conta a função eminentemente terapêutica do delírio de possibilitar uma saída diante do sem-sentido, podemos dizer com certa segurança, parafraseando Lacan, que todos deliram. A vida inevitavelmente nos oferece experiências que não podem ser processadas pelos nossos “esquemas cognitivos prévios” (expressão que usada livremente, isto é, fora da teoria piagetiana, possui o seu valor). A morte de uma pessoa querida, por exemplo, experimentada sem o apoio reconfortante das crenças religiosas, apavora muito mais por sua incompreensibilidade do que pela perda de quem se foi. Há quem diga que as religiões não passam de grandes delírios que nos servem de consolo para o sem-sentido da morte. De fato, a experiência de compreender aquele evento como um processo de desencarnação ou de adormecimento espiritual é, sem dúvida, menos sufocante do que lidar de forma imediata com ele.

Entre o delírio psicótico e as inevitáveis construções que fazemos diante de determinadas experiências a fim de enfrentá-las de modo menos doloroso, estão certas fantasias que, assim como os delírios, produzem um sofrimento suportável como “remédio” para um sofrimento insuportável. Algumas dessas fantasias são típicas, como a convicção jamais confirmada pela experiência que alguns pacientes têm de que seus pais possuem uma preferência ou predileção por seus irmãos. É óbvio que uma situação como essa pode se configurar efetivamente, mas, no caso dessas pessoas, não há nenhuma evidência de que ocorra. Quando se analisa a história do paciente, verifica-se com certa clareza que a fantasia de que se foi preterido pelos pais funcionou, na verdade, como uma tentativa desesperada de dar sentido a determinadas experiências que, à época em que aconteceram, não puderam ser compreendidas. Um exemplo simples: um indivíduo pode ter construído a fantasia de que não era amado pela mãe porque, quando criança, sua genitora precisou ser internada num hospital em função de uma doença grave e ninguém lhe explicara na ocasião o que de fato havia acontecido. Em outras palavras, a fim de lidar com a experiência bruta e intensamente angustiante da ausência inexplicável da mãe, a criança forjou sua própria explicação, a qual, embora dolorosa, lhe permitiu compreender o episódio.

Vemos na clínica que muitos pacientes experimentam um sofrimento intenso justamente por interpretarem os diversos eventos da existência a partir do seu “paradigma fantasmático”. Não percebem que o seu ponto de vista diante das situações é o ponto de vista que a fantasia lhe proporciona. Não percebem, ademais, que, de forma indireta e inconsciente acabam “produzindo” situações que justificam a fantasia, como um policial que “planta” evidências a fim de incriminar uma pessoa. Isso acontece porque a fantasia precisa se manter sólida a fim de evitar o retorno da experiência incompreensível e angustiante. Nesse sentido, o que se busca na psicoterapia é proporcionar as condições afetivas suficientemente boas para que o paciente possa se permitir experimentar novamente o incompreensível sentindo-se seguro para dar a ele um sentido novo, criativo e aberto à mudança.