
Recentemente, Viviane Mosé disse, em entrevista ao programa “Sem Censura”, que, do ponto de vista dela, não existem doenças psíquicas, mas apenas “diferenças”.
Segundo ela, a categoria “doença” é utilizada ideologicamente para patologizar certas configurações subjetivas que não se encaixam “na ordem social”.
Este argumento me parece facilmente refutável.
Tomemos, por exemplo, o caso de pessoas que são viciadas em apostas.
Elas comprometem seu patrimônio, usam o jogo para fugirem de emoções negativas, sentem-se irritadas e inquietas quando tentam parar de apostar etc.
Ora, ninguém em sã consciência diria que essas pessoas não estão doentes.
Não obstante, o comportamento delas está perfeitamente encaixado na “ordem social”.
Com efeito, existem milhares de casas de apostas que obtêm lucros exorbitantes justamente graças a tais viciados. Sem eles, muitas delas entrariam em falência.
Ou seja, o vício em aposta é um comportamento que reconhecemos como doentio e que, apesar disso, está inteiramente em harmonia com a “ordem social” vigente.
É verdade que existem certas configurações subjetivas que talvez não deveriam ser chamadas de “doenças”, mas reconhecidas simplesmente como “diferenças”.
É bastante sustentável, por exemplo, a tese de que muitos casos de autismo podem ser considerados tão-somente como formas diferentes de lidar com o mundo.
O grande problema da fala de Viviane é que ela é GENERALIZADORA, colocando situações muito díspares no mesmo balaio:
Uma criança que é só um pouco mais desatenta do que a maioria e recebe o rótulo de TDAH e uma pessoa gravemente deprimida que pensa em tirar a própria vida.
Para Viviane, nos dois casos estamos falando apenas de “diferenças”.
Eu, por outro lado, defendo que só o primeiro caso deve ser classificado como uma mera diferença. Para o segundo, devemos, sim, preservar a categoria de doença.
Uma pessoa que pensa o dia todo em não mais existir deve, sim, ser reconhecida como doente, justamente para que seja incentivada a buscar tratamento.
Reconhecer o sofrimento como doença não é estigmatizar — é abrir caminho para o cuidado.
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