Lucas Nápoli é psicólogo, psicanalista e professor. Possui os títulos de Doutor em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É autor do livro "A Doença como Manifestação da Vida".
Esta é uma pequena fatia da aula “LENDO KLEIN 10 – O poder ansiolítico da interpretação” que já está disponível no módulo AULAS TEMÁTICAS – KLEIN da CONFRARIA ANALÍTICA.
Na Psicanálise, nós tradicionalmente acreditamos que o analista só deve interpretar quando a transferência positiva já está consolidada.
O racional que fundamenta esse princípio é muito simples:
Uma boa relação com o analista permite que o paciente possa suportar o peso das interpretações — e não sair correndo da análise.
Por isso, costuma-se recomendar aos analistas iniciantes que evitem interpretar nas primeiras sessões.
Mas… E se eu te disser que essa visão clássica é unilateral e deveria ser relativizada?
Quem nos ensina isso é a “mamacita” da Psicanálise, a sra. Melanie Klein.
Ela mostra que a ideia de interpretar somente após a transferência positiva nasce de uma concepção reducionista da interpretação.
Na visão clássica, interpretar é sempre algo que tende a angustiar o paciente na medida em que aponta para o que nele está recalcado.
Porém, diz Melanie Klein, para muitos pacientes, o efeito de uma interpretação pode ser justamente o contrário: uma redução da ansiedade.
Isso porque, ao interpretar, o analista está dando nome e, portanto, contorno àquilo que o paciente vivencia como intensamente caótico dentro de si.
Por isso, muitos analisandos, especialmente os que apresentam uma estrutura egoica mais frágil, podem sentir alívio ao ouvirem uma interpretação.
E quando o paciente se sente assim, a tendência é que a relação com o analista melhore, concorda?
É por isso que Melanie Klein acredita que a interpretação pode fortalecer a transferência positiva ou até abrir caminho para ela.
A autora demonstra essa tese ao narrar o tratamento bem-sucedido de Ruth, uma garotinha de 4 anos, extremamente ansiosa e resistente à análise.
E é justamente a narrativa desse caso clínico que eu comento na aula publicada hoje (sexta) na Confraria Analítica, minha escola de formação teórica em Psicanálise.
O título da aula é “LENDO KLEIN 10 – O poder ansiolítico da interpretação” e ela já está disponível para todos os alunos no módulo AULAS TEMÁTICAS – KLEIN.
A dificuldade de ser franco é um dos maiores obstáculos que as pessoas enfrentam ao fazer terapia.
No dia a dia, a falta de sinceridade pode não ser muito prejudicial. Aliás, em muitos casos, é até vantajosa.
Se aquela influencer famosa fosse sincera e confessasse que 60% dos seguidores que ela tem foram comprados, certamente perderia vários contratos de publi.
Nas redes sociais, onde o mais importante é como você aparece e não como você realmente é, a sinceridade é uma competência praticamente dispensável.
Mas vale dizer que nem sempre somos falsos e hipócritas por decisão consciente.
Às vezes, a gente só não dá conta mesmo de ser franco — porque não suporta a própria verdade…
Há pessoas, por exemplo, que simplesmente não conseguem admitir para elas mesmas (e, consequentemente, para os outros) que sentem ciúmes.
Em vez disso, elas dizem: “Não é que eu estou com ciúme. Eu só exijo respeito da pessoa que está comigo”.
Mentira! É ciúme mesmo. Ci-ú-me.
Elas só não reconhecem isso porque, na base do ciúme, está o medo de perder o outro e, portanto, vulnerabilidade, insegurança, dependência…
Portanto, dizer que “é só uma questão de respeito” não passa de uma racionalização narcísica, ou seja, uma forma de “ficar bem na fita” consigo mesmo.
Como eu disse anteriormente, no cotidiano, esse tipo de autoengano é benigno, não traz grandes consequências.
Porém, no contexto psicoterapêutico, ele atrapalha. E atrapalha muito.
Quanto mais você recorre à hipocrisia, mais distante se coloca da “cura” — com as devidas aspas para os chatos de plantão.
Sabe por quê?
Porque o abandono de nossos sintomas passa fundamentalmente pelo reconhecimento e integração das verdades que nos habitam.
Ok, eu sei que muitas delas escapam completamente à nossa consciência e, nesse sentido, não têm como ser admitidas simplesmente por “força de vontade”.
Porém, existe uma ATITUDE, ou seja, um tipo de disposição psíquica, que facilita a emergência dessas verdades inconscientes.
E é essa atitude que eu gostaria de recomendar a você que começasse a adotar, caso esteja em terapia. Eu a chamaria de atitude CONFESSIONAL.
Ela consiste num esforço deliberado de falar sobre si buscando ativamente retirar todas as máscaras, adornos e proteções narcísicas.
Frequentemente, a gente tem aquela sensação de que, no fundo — seja por medo, vergonha ou culpa — não estamos sendo verdadeiramente sinceros em terapia.
É natural… Todos nós temos narcisismo. Todos nós queremos ficar bem na fita.
Mas é preciso resistir conscientemente a essa tendência natural em nome de um bem maior: o amadurecimento emocional.
A hipocrisia pode até dar dinheiro, seguidores, likes. Mas não gera crescimento real.
***
A terapia só funciona quando você decide parar de se esconder de si mesmo.
Na Confraria Analítica, a gente aprofunda essas questões com aulas semanais, linguagem clara e teoria aplicada à vida e à clínica.
Esta é uma pequena fatia da aula “Bion: elementos-alfa, elementos-beta e função-alfa” que já está disponível no módulo AULAS TEMÁTICAS – TEMAS VARIADOS da CONFRARIA ANALÍTICA.
A principal ferramenta de trabalho do psicanalista é a interpretação.
Ao recebê-la, o paciente fica cara a cara com aquilo que mais teme: seu próprio avesso.
E ajudar o sujeito a fazer contato com esse avesso é um dos objetivos centrais de uma análise.
Mas, afinal, o que é a interpretação?
Em bom humanês, interpretar significa compartilhar com o paciente uma inferência sobre aquilo que provavelmente está se passando no inconsciente dele.
O analista escuta com atenção flutuante, coleta pistas e indícios, observa conexões e, no momento oportuno, interpreta.
Mas perceba: se a interpretação é uma inferência, ela só pode se apoiar no que aparece representado na fala do paciente.
Afinal, toda inferência depende de premissas que apontam para a conclusão.
Logo, se certos conteúdos inconscientes não produzirem suas “premissas”, isto é, se não se representarem no discurso do analisando, eu não tenho como inferi-los.
Esse é justamente o caso dos elementos-beta, termo criado por Wilfred Bion para nomear marcas psíquicas que não possuem representação.
Eles estão em nós, fazem parte do nosso avesso, mas não podem ser deduzidos porque ainda não foram simbolizados na fala do paciente.
Para que possam se tornar interpretáveis, os elementos-beta precisam primeiro ganhar representação, ou seja, se transformarem em elementos-alfa.
E isso só é possível por meio da função-alfa — operação psíquica fundamental que, em alguns pacientes, pode estar profundamente comprometida .
Quer entender melhor o que são os elementos-beta, como lidar com eles na clínica e como ocorre sua transformação em elementos-alfa?
Então, assista à aula “Bion: elementos-alfa, elementos-beta e função-alfa”, já disponível na Confraria Analítica, minha escola de formação teórica em Psicanálise.
A razão pela qual temos tanta dificuldade para abandonar nossos problemas emocionais é que eles são como aquela marca de palha de aço:
Possuem 1001 utilidades.
Por meio deles, conseguimos equacionar certos conflitos internos, satisfazer desejos de forma simbólica, obter ganhos em nossas relações interpessoais.
Enfim… Por mais dolorosos que sejam, nossos sintomas são tão vantajosos que não podemos abrir mão deles com muita facilidade.
— Ah, Lucas, lá vem vocês da Psicanálise com essas ideias malucas. Até parece que minha depressão e minha baixa autoestima me trazem alguma vantagem! 😠
Hum… Você duvida?
Então, faça análise. Encontre-se toda semana com uma boa psicanalista e, logo logo, começará a perceber os ganhos que obtém com esses problemas emocionais.
Um deles pode ser a evitação de uma angústia, sabia?
Uma angústia infantil, para ser mais preciso.
Como ainda possui poucos recursos psíquicos, a criança pode não conseguir lidar com certas angústias que a vida lhe impõe.
Por exemplo: uma menina pode ter uma mãe que lhe proporciona o básico em termos de nutrição emocional, mas um pai que não lhe dá muita atenção.
Essa falta pode fomentar uma angústia terrível!
“Será que meu pai não gosta de mim?”
“Será que eu não tenho valor?”
“O que preciso fazer para ser amada por ele?”
Estas são algumas das angustiantes perguntas que podem invadir a mente da criança diante da indiferença do pai.
Ora, um problema emocional pode se apresentar justamente como resposta a essas questões e, portanto, como um tamponador da angústia.
A menina pode se convencer de que sim, o pai não gosta dela, ela não tem valor e não há nada que possa fazer para ser amada por ele.
Ela se torna, então, triste, apática, com baixa autoestima, ou seja, entra num quadro depressivo.
Mas, fazendo essa depressão, pelo menos estanca a angústia de se perguntar sobre seu lugar no desejo do pai.
Entendeu?
É como se essa menina tivesse trocado a angústia pela depressão, pois a segunda é mais suportável do que a primeira.
— OK, Lucas, eu entendo que isso possa acontecer com uma criança. Mas eu já sou adulta!
— Ah, é? Quem te falou?
***
Na Confraria Analítica, eu explico como nossos sintomas podem funcionar como defesas contra dores mais antigas.
Esta é uma pequena fatia da aula “ESTUDOS DE CASOS 23 – Uma vida bloqueada pela fixação ao trauma infantil” que já está disponível no módulo ESTUDOS DE CASOS da CONFRARIA ANALÍTICA.
Existem algumas razões pelas quais um trauma infantil pode prejudicar significativamente a sequência da vida de uma pessoa.
Às vezes, o sujeito pode, por exemplo, se tornar ansioso e inibido em função do medo de passar novamente pela experiência traumática.
Em outras situações, o trauma pode comprometer o desenvolvimento de certas estruturas psíquicas, dependendo da idade em que ocorreu.
Mas há uma possibilidade sobre a qual pouco se fala (fora da Psicanálise) e que merece ser destacada:
A pessoa pode permanecer emocionalmente fixada à experiência traumática na esperança de que receberá uma compensação por ter passado por ela.
É como se o sujeito paralisasse a continuidade da sua vida para reivindicar inconscientemente uma “indenização” afetiva pelo trauma.
Foi isso o que aconteceu com uma moça atendida por uma aluna da Confraria Analítica, minha escola de formação teórica em Psicanálise.
A paciente foi αb*sαdα sε*uαlmente pelo pai na infância e passou por outras injustiças relacionadas a essa, sem receber qualquer tipo de reparação.
Mas o grande problema é que ela, sem perceber, converteu sua vida numa espécie de protesto silencioso contra tudo o que sofreu.
Quando o desejo, de vez em quando, se apresenta, ela logo dá um jeito de calá-lo a fim de retomar a demanda de indenização ao Outro.
Por isso, precisa permanecer presa à imagem de si como alguém que foi essencialmente estragada na infância.
Sua reivindicação é justa, mas estéril.
Na aula “Estudos de Casos 23 — Uma vida bloqueada pela fixação ao trauma infantil”, eu analiso esse caso em profundidade e mostro como essa armadilha subjetiva pode ser trabalhada clinicamente.
Ela já está disponível no módulo Estudos de Casos da Confraria Analítica, no qual comento casos clínicos reais relatados por alunos da nossa escola.
Primeiramente, deixe-me definir o que é superego, pois talvez você nunca tenha ouvido falar nessa expressão.
Superego foi o nome que Freud deu para a parte da nossa mente responsável por monitorar e controlar nosso comportamento em termos morais.
Ele se forma na infância à medida que vamos internalizando o monitoramento e controle que nossos pais exercem sobre a gente.
Ou seja, inicialmente nós somos disciplinados pelo OUTRO e, pouco a pouco, passamos a NOS disciplinar.
Normalmente, a relação que temos com nosso superego é tão conflituosa quanto a relação que tínhamos com nossos pais na infância.
Você se lembra que volta e meia queria fazer alguma coisa e seus pais não permitiam?
Ou, de repente, você efetivamente fazia alguma coisa que eles não deixavam e ficava de castigo. Lembra disso?
Pois bem, essa mesma dinâmica tende a se repetir em nossa relação com o superego.
A diferença é que agora os conflitos são internos, pois o superego nada mais é que uma parte de nós mesmos.
Então, em vez de ser impedido ou castigado por seus pais, você mesmo SE impede e SE castiga.
Pessoas emocionalmente imaturas sofrem muito com esses inevitáveis conflitos, pois lidam com o superego exatamente como uma criança lida com seus pais.
Há crianças que sentem tanto medo de serem punidas ou decepcionarem os pais que se tornam exageradamente obedientes, quietinhas, sem vida.
Adultos emocionalmente imaturos podem se comportar exatamente da mesma forma, mas porque têm um medo neurótico de desagradar… o superego.
Por outro lado, há crianças que estão sempre “aprontando” não como expressão espontânea de sua vitalidade, mas PARA sofrerem castigo.
Afinal, há certos pais que só dedicam atenção a um filho quando é preciso discipliná-lo.
Assim também, alguns adultos emocionalmente imaturos podem manter essa relação meio sαdmαsoquistα com o superego:
Periodicamente, metem o pé na jaca PARA se sentirem culpados e se depreciarem. A autopunição evoca a escassa atenção que vinha junto com o castigo dos pais.
Fazendo análise, tais sujeitos podem conquistar gradativamente a capacidade de lidarem de uma forma mais adulta com o superego.
E como seria isso?
A pessoa emocionalmente madura é capaz de CONVERSAR com seu superego. Ela não fica obedecendo-o cegamente nem provocando-o.
Essa pessoa reconhece a utilidade do superego (sem ele a vida em sociedade seria impossível), mas sabe que, de vez em quando, ele mais atrapalha do que ajuda.
Seus pais monitoravam e controlavam seu comportamento porque, no fundo, queriam que você fosse a criança ideal que tanto desejavam.
Da mesma forma, seu superego quer que você seja o Paulo ideal, a Alessandra ideal, a Natália ideal, o Fernando ideal, o Lucas ideal…
Por isso, não raramente, é preciso RELATIVIZAR o que o superego diz.
Mas, para fazer isso, é preciso sair da posição de criança e tirá-lo da posição de papai e mamãe.
Quer saber mais sobre como funciona funciona o superego?
Na CONFRARIA ANALÍTICA, minha escola de formação teórica em Psicanálise, temos diversas aulas que abordam esse tema.
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Esta é uma pequena fatia da aula “Racionalização: as desculpas que damos para nós mesmos” que já está disponível no módulo AULAS TEMÁTICAS – TEMAS VARIADOS da CONFRARIA ANALÍTICA.