Aírton, a pornografia e a repressão da agressividade

Às quinze horas em ponto, a psicóloga Letícia iniciou a chamada de vídeo com Aírton, seu novo paciente.

Assim que o atendimento começou, o rapaz já foi logo pedindo desculpas antecipadas à terapeuta por eventuais falhas na comunicação entre eles por conta de sua conexão de internet.

Num tom apaziguador, a psicóloga disse que problemas desse tipo são comuns e que ele não precisava se sentir culpado por eles. Em seguida, perguntou o motivo que o levou a procurar ajuda.

— Eu tenho até vergonha de falar, doutora, mas vamos lá: o meu problema é a pornografia. Eu te procurei porque eu preciso parar com esse negócio e não tô conseguindo.

— Hum… Continue — pediu a terapeuta.

— Eu nem acho que sou viciado. Se eu entro três ou quatro vezes num mês é muito. O problema é que eu me sinto um bosta quando faço isso.

— Bosta? Como assim?

— É… Me acho um fracassado. Depois que eu termino de me masturbar, fico com tanto nojo de mim mesmo que sinto uma necessidade incontrolável de tomar banho.

— Então, o problema não é exatamente a pornografia, mas o que você sente depois que consome esse tipo de conteúdo, né?

— É… Pode ser… Mas o pior é que eu tenho namorada, doutora. Quando eu penso nela, minha consciência pesa mais ainda.

— Como é a relação entre vocês?

— Agora tá muito boa, mas no ano passado a gente quase terminou. Eu descobri que ela me traiu. Porém, como ela insistiu e eu gosto muito dela, decidi que valia a pena perdoar.

— E como é que você ficou quando descobriu a traição?

— Ah, eu me senti um bosta, né? Um fracassado.

— Hum… “bosta”, “fracassado”… o mesmo que você sente quando consome pornografia, né?

Ao longo da sessão, foi ficando evidente para Letícia que Aírton nutria um forte desejo de vingança latente contra a namorada.

Todavia, o paciente ainda não era capaz de sequer vislumbrar esse desejo.

Afinal, aprendeu desde criança a reprimir sua agressividade e a descarregá-la… sobre si mesmo por meio da autopunição.

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O superego não é um anjinho

Não, o superego não é um anjinho que fica tentando te convencer a não ceder às tentações do diabinho do id.

Na verdade, uma associação muito mais apropriada seria justamente entre o superego e… o diabo.

Afinal, no campo teológico judaico-cristão, Satanás exerce fundamentalmente um papel de ACUSADOR.

Isso mesmo. Veja, por exemplo, o que o diabo diz a Deus a propósito de Jó, o arquétipo do homem virtuoso:

— Será que ele teme ao Senhor sem interesse? Estende a tua mão e toca em tudo o que ele tem, para ver se ele não blasfema contra ti na tua face.

Se o demônio aparece como tentador no mito do Éden e em várias outras passagens da Bíblia, não é porque ele quer ajudar o ser humano a satisfazer seus desejos.

Pelo contrário! Como o texto deixa claro, o objetivo do tinhoso com a tentação é levar os homens a desobedecerem a Deus para, assim, ter motivos para invejosamente ACUSÁ-LOS diante do Criador.

É por isso que faz muito mais sentido comparar o superego a um diabinho e não a um anjinho.

Com efeito, o papel que o superego exerce em nossa alma nunca é o de um paciente e bondoso conselheiro que nos alerta para os riscos da realização de certos desejos.

Em vez disso, ele já nos CONDENA simplesmente por TERMOS determinados anseios.

É claro que socialmente essa ação acusatória do superego tem lá o seu valor na medida em que inibe a expressão direta de muitos impulsos.

No entanto, isso pode se dar às custas de muita culpa, de muita ansiedade, de muito sofrimento…

Pessoas, por exemplo, cuja vida é dominada por um superego excessivamente feroz estão o tempo todo se sentindo inadequadas e insuficientes.

Quase nunca conseguem usufruir de suas conquistas ou elogios porque a voz acusatória do superego não permite a elas escutar o que a REALIDADE lhes diz.

A Psicanálise consegue ajudar essas pessoas na medida em que as ajuda a fortalecerem o próprio Eu.

Dessa forma, o sujeito passa a não depender mais do MEDO DAS ACUSAÇÕES DO SUPEREGO para lidar com seus impulsos.

O superego continua existindo, mas agora… exorcizado.


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Até quando você vai ficar só se criticando e ignorando seus pontos positivos?

Qual foi a última vez que você se elogiou?

Sim, qual foi a última vez que você olhou para si mesmo e reconheceu seus méritos, seu esforço, seus resultados, seus sacrifícios diários?

Ah, Lucas, mas eu não tenho nada para elogiar em mim. Não me considero competente, tenho defeitos morais, não me vejo como uma pessoa legal.

Será que você é essa tragédia mesmo ou será que o seu olhar está “viciado” pela autocrítica, esse movimento autopunitivo que você repete à exaustão desde criança?

Será mesmo que não há nada que você seja ou faz que mereça ser valorizado, reconhecido, elogiado?

Ontem eu atendi uma paciente e fiquei especialmente sensibilizado com o fato de ela não conseguir reconhecer o quanto vinha sendo forte, valente e esforçada no cumprimento de seus deveres profissionais.

Trata-se de uma pessoa extremamente comprometida em trabalhar da melhor forma possível, mas que vinha se sentindo diariamente insatisfeita consigo mesma. Sabem por quê? Porque, ao invés de reconhecer suas qualidades e méritos evidentes e indiscutíveis, ela ficava se comparando o tempo todo com a versão ideal e perfeita de si mesma que só existe na imaginação dela.

Por isso, recomendo a vocês o mesmo que recomendei a ela: parem de olhar para si mesmos buscando enxergar apenas imperfeições, insuficiências e falhas a serem corrigidas. Valorizem suas características positivas. Não espere que outra pessoa faça isso.

SEMPRE haverá alguma. Basta saber olhar. Basta retirar as viseiras diabólicas da autocrítica.

Ah, Lucas, mas mesmo tirando essas viseiras, eu ainda não consigo me ver de forma positiva. Continuo me achando uma péssima pessoa!

Ah, é? Então, pronto: valorize sua sinceridade.


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[Vídeo] Entenda por que você se critica tanto

Recentemente tenho atendido muitas pessoas que apresentam um padrão de personalidade marcado por uma constante autocrítica. Elas estão o tempo todo se achando erradas, falhas e incapazes apesar da realidade lhes dizer o contrário. Com base em minha experiência clínica, explico neste vídeo a gênese desse padrão de personalidade e apresento, ao final, uma técnica terapêutica que tem funcionado com alguns pacientes para amenizar a força da tendência autocrítica.

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