
Tem coisa no Lacan que é difícil demais de entender, quanto mais de explicar.
Esse não é o caso da fórmula “O desejo do homem é o desejo do Outro”. Vou te provar que compreendê-la é mais fácil do que você imagina.
Primeiramente, é importante saber que Lacan trabalha com uma distinção fundamental entre necessidade e desejo.
Necessidade é aquilo que o bebê experimenta no início da vida quando tem fome, por exemplo. Nesse caso, a criança PRECISA de alimento para sobreviver. Qualquer outra coisa não serve.
Já o desejo é aquilo que experimentamos, por exemplo, quando queremos sair para jantar numa churrascaria. A gente não PRECISA dessa experiência para sobreviver. Portanto, não é uma necessidade.
Por que, então, temos esse DESEJO de ir à churrascaria?
Podemos alegar que os motivos são a qualidade da carne e do atendimento ou a variedade de opções. Contudo, não podemos deixar de reconhecer que tais aspectos só se tornaram de fato alvos do nosso desejo porque SOCIALMENTE eles são valorizados. Tanto é assim que, para uma pessoa vegana, por exemplo, a qualidade da carne da churrascaria não seria um fator capaz de motivá-la a sair de casa.
Entendeu? Eu só desejo as coisas que desejo porque faço parte de uma comunidade que me ensinou (direta ou indiretamente) que tais coisas são… desejáveis. Em outras palavras, eu desejo o que desejo porque outras pessoas desejam também. É por isso que um vietnamita, por exemplo, salivaria diante de um bom assado de cachorro e você não.
Isso mostra que, enquanto a necessidade vem de nós mesmos (do nosso organismo), o desejo vem… do Outro, ou seja, de pessoas, grupos, instituições que exercem sobre nós uma função de autoridade, determinação, prescrição, regulação.
Nesse sentido, Lacan conclui de forma bastante perspicaz que, no fim das contas, na raiz de todos os nossos desejos está o desejo de ser reconhecido pelo Outro. O raciocínio é simples: se eu quero a coisa que o Outro quer isso significa que o que me atrai de fato não é a coisa em si, mas o olhar do Outro sobre a coisa. Ou seja: o que eu quero de verdade é o olhar desejante do Outro, ora bolas!
Entendeu, agora, por que Lacan dizia que “o desejo do homem é o desejo do Outro”?
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