Escrevo

Escrevo para reciclar o lixo cuidadosamente depositado a cada encontro com um Homo Sapiens

Escrevo para impedir que eu me torne tóxico

A mim mesmo

Escrevo para fazer de um tropeço dádiva divina

E de um oráculo baba canina

Escrevo porque o sono mata a fome

Escrevo para sobreviver a uma leitura

Escrevo porque ninguém quer escutar

Escrevo para tornar um cravo um amante abandonado

Escrevo para me comunicar com minhas fezes, minha urina e meu esperma

Escrevo para ver se um dia encontro a palavra perfeita

Que fale de mim melhor que meu pai, minha mãe, meu analista

Escrevo esperando que uma tecla peça por misericórdia:

“Pare, por favor!”