Esta é uma pequena fatia da aula especial “Por que ‘não há relação sexual’?”, que já está disponível no módulo “AULAS ESPECIAIS – LACAN” da CONFRARIA ANALÍTICA.
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Há coisas que a gente só consegue desejar justamente porque sabemos que elas não podem se concretizar… Nesse sentido, o fato de a realidade não se curvar sempre aos nossos desejos acaba nos proporcionando, em muitos momentos, um ALÍVIO ao invés de frustração.
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A nossa relação com o real é sempre mediada por fantasias construídas com base em nossas experiências infantis. Há, contudo, certas fantasias que podem perturbar significativamente nossa interação com o mundo.
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Certa vez, Ernesto esqueceu-se de que estava em um local fechado e acendeu um cigarro em pleno corredor da faculdade em que estudava.
Imediatamente, um segurança que estava próximo ao rapaz foi até ele e, de modo firme e assertivo, relembrou-o de que era proibido fumar naquele ambiente.
Ao invés de simplesmente apagar o cigarro e desculpar-se, Ernesto se sentiu ATACADO pelo funcionário.
O jovem sabia que sua conduta fora inapropriada, mas passou o dia inteiro remoendo a lembrança da forma enérgica com que havia sido abordado pelo segurança.
Desde então, Ernesto não perde a oportunidade de criticar a faculdade nas redes sociais e provocar tanto professores quanto outros funcionários da instituição.
A fantasia de ter sofrido um ataque por parte do segurança e não apenas uma repreensão normal fez com que o rapaz passasse a ESPERAR novos ataques.
Assim, por “precaução”, ele começou a ATACAR PRIMEIRO.
Resultado: a faculdade que, até então, era um ambiente amigável e acolhedor para Ernesto, passou a ser vista pelo aluno como um lugar hostil, cheio de pessoas dispostas o tempo todo a prejudicá-lo.
E como, para se defender, ele ataca, no fim das contas acaba sendo alvo de hostilidade mesmo. Afinal, os funcionários da instituição naturalmente vão reagir a tais ataques.
O caso de Ernesto é apenas um dos inúmeros exemplos das perturbações que as fantasias podem provocar na nossa relação com o mundo.
Esse rapaz construiu uma fantasia paranoica, provavelmente baseada em ataques REAIS sofridos na infância.
É como se ele estivesse ativamente procurando reencenar o trauma infantil a despeito do que efetivamente está em jogo na realidade.
Mas não existe só a fantasia paranoica.
Muitas pessoas, por exemplo, estão presas a uma fantasia de rejeição. Por terem sido preteridas ou desconsideradas quando crianças, tendem a tomar qualquer acontecimento insignificante como indício de que estão sendo rejeitadas.
Ao invés de atacarem primeiro — como faz o paranoico Ernesto — elas fazem de tudo para agradarem todo o mundo a fim de não serem rejeitadas.
E assim convertem suas vidas num trágico e eterno sacrifício ao desejo do outro.
A fantasia atrapalha.
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A experiência clínica tem me mostrado que, em alguns casos, o excesso de ansiedade e preocupações está relacionado a uma dificuldade básica de CONFIAR.
Não me refiro apenas à AUTOCONFIANÇA, mas à confiança no mundo, nos outros, na vida, no tempo…
Falta para algumas pessoas a tão singela capacidade de RELAXAR e acreditar que as coisas podem funcionar sem a intervenção delas.
Tais indivíduos estão sempre achando que, se não fizerem alguma coisa, uma grande catástrofe vai acontecer.
Por isso, estão sempre apressados. Não podem perder um minuto sequer, pois, do contrário, não haverá tempo suficiente.
Não se permitem ir fazer uma prova acreditando que, por terem se preparado, têm tudo para obter uma boa nota. Não. Apesar de terem passado horas e horas estudando, eles não conseguem REPOUSAR no conhecimento internalizado para fazer a avaliação com tranquilidade.
Tais pessoas nutrem a fantasia inconsciente de que PRECISAM estar sempre no controle.
Como toda fantasia, essa também está baseada, como se diz no cinema, em “fatos reais”.
Geralmente, pessoas que apresentam esse padrão são provenientes de famílias em que os pais (por diversas razões — não se trata aqui de culpá-los) não puderam oferecer para o sujeito uma dose suficientemente boa de suporte e auxílio.
Assim, muito precocemente a pessoa teve que se virar sozinha, não podendo contar com uma porção satisfatória de DEPENDÊNCIA em relação ao outro.
Essa experiência infantil tende a levar o sujeito à conclusão de que não pode contar com nada nem ninguém — nem consigo mesmo em certo sentido…
Nesses casos, a terapia psicanalítica ajudará o paciente a reconhecer e questionar essa fantasia, impulsionado principalmente pela relação com o analista — vínculo marcado justamente pelos elementos que faltaram na história do sujeito, a saber: DEPENDÊNCIA e CONFIANÇA.
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Ninguém enxerga a realidade espontaneamente tal como ela é.
É por isso que o grande epistemólogo francês Gaston Bachelard dizia que a investigação científica começa justamente pela remoção dos obstáculos psicológicos que turvam a nossa percepção do real.
Esses obstáculos derivam da interação entre nossas inclinações naturais e as experiências que a vida nos oferece.
Do encontro entre aquilo que trazemos de fábrica e aquilo que acontece conosco ao longo da existência surgem determinados VIESES que condicionam nossa percepção da realidade.
Uma moça, por exemplo, que, na infância, nunca pôde contar com pais que lhe proporcionassem segurança, pode se encantar com muita facilidade por qualquer mancebo abusivo e oportunista.
Enxergando o mundo através das lentes da criança insegura e carente que foi, essa jovem só consegue ver no boy lixo da vez a oportunidade de receber, finalmente, a segurança que lhe faltou na infância.
O viés introduzido em sua percepção pelo passado infeliz a faz ficar cega para todos os indícios (evidentes para outras pessoas) de que está entrando numa barca furada ao se envolver com aquele fulaninho.
É difícil tomar consciência de nossos vieses por conta própria. Somos mestres em inventar desculpas para justificá-los e provar que não são distorções da realidade.
Assim, a identificação dos vieses com os quais “editamos” nossa percepção do mundo é uma tarefa que só pode ser adequadamente realizada por meio do diálogo, da conversa.
Mas não qualquer conversa.
Tem que ser um tipo de conversa em que o outro se apague para que eu possa me escutar e, me escutando, possa me enxergar.
Essa conversa tem nome. Sigmund Freud a chamou de Psicanálise.
A terapia psicanalítica vai acabar com meus vieses, Lucas?
Pode ser que sim, pode ser que não, mas…
Sem dúvida, a Psicanálise ajudará você a tomar consciência deles — o que já é meio caminho andado.
Se a jovem do exemplo acima puder constatar que, apesar de ter crescido, ela continua inconscientemente olhando para o mundo em busca de segurança, isso já a ajudará a se livrar de muitas enrascadas…
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Na última terça-feira, Grêmio e Flamengo jogaram pelo Campeonato Brasileiro.
O time gaúcho chegou a estar perdendo por 2 a 0 já no segundo tempo, mas conseguiu o empate e, por pouco, não virou o jogo.
Detalhes importantes que você, que porventura não acompanha futebol, precisa saber:
(1) O Flamengo está em segundo lugar no Brasileirão e, se vencesse a partida, poderia continuar sonhando com o título, pois diminuiria sua distância para o primeiro colocado, o Atlético-MG, que empatou com o Palmeiras naquela mesma terça-feira.
(2) O Grêmio está na zona de rebaixamento e, caso perdesse, dificilmente teria chance de escapar de mais uma ida para a Série B. Com o empate, o risco continua muito grande, mas ainda resta alguma esperança para os gaúchos.
(3) Renato Gaúcho, técnico do Flamengo, antes de chegar ao Rio de Janeiro em julho, foi treinador do Grêmio durante alguns anos. Além disso, como jogador, Renato foi um dos maiores ídolos da torcida gremista e nunca negou seu amor pelo tricolor gaúcho.
Pois bem!
Após o jogo, começaram a circular nas redes sociais uma série de imagens de Renato conversando à beira do campo com jogadores do Grêmio e comemorando muito timidamente os gols do Flamengo.
O objetivo da divulgação desses vídeos era o de sustentar uma teoria completamente insana:
A de que o técnico do Flamengo, um profissional cujo time tem chances de ser campeão brasileiro pela terceira vez seguida, não queria que sua equipe vencesse e pediu para os jogadores recuarem, pois não gostaria de contribuir para o rebaixamento do seu time do coração.
O surgimento dessa teoria da conspiração me fez pensar na dificuldade enorme que nós temos de reconhecer que a realidade, diferentemente das narrativas literárias e cinematográficas, é frequentemente aleatória, confusa e… chata.
É muito mais fácil suportar o fato de seu time ter deixado escapar uma vitória de 2 a 0 imaginando um cenário fantasioso, digno de Hollywood, em que o seu treinador prejudica a própria equipe em nome do amor por outro clube.
Será que você também tem criado teorias conspiratórias fantásticas para lidar com as questões incompreensíveis de sua história?
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Ontem à noite, no finalzinho da nossa aula na Confraria Analítica, eu estava conversando com os alunos sobre o papel ALIVIADOR da realidade.
Sim, ALIVIADOR.
Quem chama nossa atenção para isso é o psicanalista inglês Donald Winnicott.
Olha só:
Geralmente nós pensamos a realidade como o lugar da frustração, né?
É isso o que está em jogo, por exemplo, na expressão “cair na real”.
Teoricamente, quem “cai na real” se dá conta de que as coisas não acontecem necessariamente da forma como deseja e se sente frustrado por isso.
Winnicott, no entanto, salienta que nem sempre a gente quer que os nossos desejos, nutridos em fantasia, sejam satisfeitos na realidade.
Na verdade, há coisas que a gente só consegue desejar justamente porque sabemos que elas não podem se concretizar…
Nesse sentido, o fato de a realidade não se curvar sempre aos nossos desejos acaba nos proporcionando, em muitos momentos, um ALÍVIO ao invés de frustração.
Afinal, no âmbito da fantasia, TUDO pode acontecer: a gente pode fazer amor com quem quiser, matar quem quiser…
Por isso, é muito tranquilizador saber que, na realidade, a maioria dessas coisas que fantasiamos jamais acontecerá.
É essa constatação que justamente nos dá LIBERDADE para fantasiar.
No complexo de Édipo esse papel reconfortante da realidade é fundamental.
Para que a criança possa vivenciar sem medo suas fantasias legítimas de fazer amor com um dos pais e desejar a morte do outro, ela precisa contar com uma realidade que, ao frustrar seus desejos, paradoxalmente a tranquiliza.
Saber que a mãe não vai morrer só porque ela quer e que os pais permanecem juntos como um casal que se ama é o que permite a uma menininha de 4, 5 anos atravessar o Édipo como quem acorda de um sonho.
Tá vendo?
O encontro com a realidade é terapêutico não só porque nos ajuda a crescer pondo fim ao desejo infantil de onipotência.
A realidade também funciona para nós como um “porto seguro” que nos dá liberdade para fantasiar sem medo de que nossos desejos se concretizem.
Você já tinha pensado sobre isso?
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Talvez você esteja desperdiçando tempo e energia tentando solucionar problemas ou alcançar objetivos que foram formulados com base em premissas inteiramente falsas.
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Em 1924, Freud publicou um artigo chamado “A perda da realidade na neurose e na psicose”.
Ele começa o texto esclarecendo o próprio título.
Com efeito, naturalmente somos levados a pensar que apenas na psicose aconteceria uma perda de realidade, já que, nessa patologia, assistimos ao surgimento de uma realidade “alternativa” marcada pelas alucinações e delírios.
Em outras palavras, temos a tendência de pensar que é só na psicose que ocorre um rompimento da relação do indivíduo com a realidade.
Na neurose, por sua vez, haveria supostamente um excesso de apego à realidade, que levaria o sujeito a reprimir seus impulsos.
Freud, no entanto, mostra que o neurótico também se afasta da realidade na medida em que “apaga” da sua consciência as ideias relacionadas a seus impulsos reprimidos.
Além disso, de modo análogo ao que acontece na psicose, o neurótico busca compensar a impossibilidade de expressar determinados impulsos por meio da criação de fantasias inconscientes que se materializam nos sintomas.
São justamente essas fantasias que perturbam a relação do neurótico com a realidade, fazendo com que, por exemplo, ele tenha medo de coisas absolutamente inofensivas.
Assim como o psicótico, o neurótico também cria sua realidade particular imaginária e vive nela.
A diferença é que, na psicose, essa realidade “alternativa” é vivenciada conscientemente pela pessoa na forma do delírio e das alucinações.
Na neurose, por sua vez, tudo acontece no plano do Inconsciente.
Conscientemente o sujeito sabe que está apenas conversando com seu chefe no trabalho, mas no Inconsciente pode estar rodando uma fantasia homossexual na qual ele é sodomizado por seu pai.
Inconsciente dessa fantasia, o neurótico experimenta apenas os efeitos que ela produz no plano da consciência: angústia, medo, inibição.
É por isso que o sujeito do exemplo acima não conseguiria entender porque se sente tão tenso na presença do chefe, mesmo ele sendo uma pessoa acolhedora, gentil e compreensiva.
É que conscientemente o indivíduo está apenas conversando com o patrão, mas inconscientemente está EM OUTRA REALIDADE, vivendo uma relação sexual com seu pai…
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Originalmente, histeria e neurose obsessiva eram termos que designavam tão-somente transtornos mentais.
Por outro lado, desde o início de sua abordagem dessas patologias, Freud observou que em cada uma delas haveria uma constelação específica de traços de personalidade.
Na histeria, por exemplo, haveria quase sempre uma atitude de repúdio à sexualidade ao passo que na neurose obsessiva normalmente se encontraria, dentre outros traços, um crônico sentimento de culpa.
Lacan, por sua vez, propôs que histeria e neurose obsessiva seriam, na verdade, não apenas categorias psicopatológicas, mas as duas posições subjetivas possíveis para uma pessoa neurótica.
No pensamento de Lacan, o neurótico pode ser pensado como o sujeito que trava sua vida em função da pergunta “O que o Outro deseja?”.
Empacado diante desse problema, o neurótico constrói uma fantasia e passa a viver nela, protegendo-se da constatação de que não há resposta definitiva para aquele mistério.
O obsessivo vive na fantasia de que precisa ser completo, autônomo, tendo tudo sob controle. Para se proteger da questão sobre o desejo do Outro, ele tenta fingir que o Outro não existe.
Daí o desespero em que se vê quando sua parceira se recusa a encarnar o papel de um simples objeto, ou seja, quando resolve se manifestar como uma Outra pessoa de verdade.
A fórmula do amor do obsessivo é “Eu amuminh’a mulher” (amor + múmia). Com efeito, para ele, a mulher ideal é uma mulher… morta.
A histérica, por sua vez, encara de frente a questão do desejo do Outro. Sua saída, no entanto, não é melhor que a do obsessivo:
Na histeria, o sujeito tenta encarnar o objeto que supostamente seria a causa do desejo do Outro. Percebam: a histérica não quer ser o objeto que satisfaz o Outro. Ela busca se converter no objeto que CAUSA o desejo.
É como se ela pensasse: “Se o Outro deseja, logo eu existo, pois sou exatamente o objeto que o faz desejar”.
Daí sua famosa insatisfação crônica: para ela nunca está bom, está sempre faltando alguma coisa…
Precisa faltar! Encarnando em fantasia o papel de objeto causador do desejo do Outro, a histérica só pode sustentar sua existência se mantiver o Outro num estado perpétuo de carência.
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Imagine que eu peça a você que execute a seguinte tarefa:
– Localize em seu computador todos os arquivos que foram deixados nele por um gnomo travesso.
Ainda que você se esforçasse bastante, jamais conseguiria atender esse pedido pela simples razão de que ele está fundamentado numa premissa falsa: a de que existem gnomos.
A formulação da tarefa pode até fazer sentido. Afinal, volta e meia você procura arquivos no seu computador.
O problema é a premissa de que os arquivos a serem localizados foram colocados por um gnomo.
Se você acreditasse nela, passaria horas e horas inutilmente pesquisando em sua máquina.
E é exatamente esse desperdício de tempo e energia que está em jogo na vida de muitos de nós quando vivemos em função de premissas falsas que encontramos na infância.
Vejamos, por exemplo, o drama de um jovem que desde criança foi levado a acreditar na falsa premissa de que precisa ser como seu pai para ser um “homem de verdade”.
Ora, a menos que tenha a oportunidade de fazer terapia, esse sujeito passará a vida inteira se esforçando inutilmente para se tornar “um homem de verdade”.
Trata-se de uma busca inútil porque ele NUNCA conseguirá se sentir verdadeiramente à vontade com sua condição masculina pela simples razão de que ele a atrelou a uma premissa falsa.
Por mais que se torne parecido com seu pai, sempre restará em seu íntimo a suspeita de que tal semelhança foi obtida às custas de muito esforço e, portanto, não é espontânea e autêntica.
O mesmo acontece com aquela mulher que ouviu reiteradamente quando criança que não deveria ter nascido e que seu nascimento só trouxe problemas para a família.
Acreditando nessa falsa premissa, tal pessoa passará a vida inteira tentando provar para o mundo e para si mesma que tem valor e que mereceu a “oportunidade” de ter nascido.
Tem muita gente por aí tentando localizar arquivos espalhados por gnomos sem parar um minuto sequer para pensar que tais seres não existem…
Na Psicanálise somos convidados justamente a questionar as premissas nas quais baseamos toda a nossa vida e, não raro, percebermos a falsidade delas.
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Eu preciso ser totalmente independente, pois não posso confiar em ninguém.
Eu preciso ser engraçado porque somente assim serei amado.
Eu preciso me submeter à vontade das outras pessoas, pois, assim, não serei abandonado.
Eu preciso desconfiar de todo o mundo, pois, dessa forma, não serei atacado.
Esses são apenas alguns exemplos de fantasias inconscientes que comumente encontramos na clínica.
Elas fornecem respostas a duas grandes perguntas que nos são colocadas pela vida desde muito cedo:
1 – Quem sou eu? 2 – Como são os outros?
A fonte primária na qual vamos buscar elementos que nos ajudem a construir a fantasia que responderá essas perguntas é a família.
É na relação com pai, mãe e irmãos que vamos forjando a ideia de como é o OUTRO, essa categoria que engloba todas as pessoas com as quais nos relacionamos e o mundo de forma geral.
É das vicissitudes das interações com a família na primeira infância que brota a visão do outro como:
Alguém em quem não se pode confiar.
Alguém que precisa ser seduzido.
Alguém que precisa ser obedecido.
Alguém que pode atacar a qualquer momento.
Essas são apenas algumas das inúmeras imagens do outro que podem emergir.
A partir dessa imagem, deduzimos nossa posição:
Se o outro é visto como alguém que pode me atacar, por exemplo, logo eu preciso ser aquele que se defende, que desconfia.
Se o outro precisa ser seduzido, devo me tornar um sedutor.
Uma das tarefas que buscamos levar a cabo numa Psicanálise é justamente a de identificar a fantasia inconsciente que comanda a vida do paciente a fim de ajudá-lo a adotar um olhar crítico em relação a ela.
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Num trabalho de 1906 chamado “Meus pontos de vista sobre o papel da sexualidade na etiologia das neuroses”, Freud descreve a evolução de suas teorias acerca da sexualidade percebida como fator causal nas neuroses.
Podemos identificar 3 grandes momentos dessa teorização:
1 – Freud acredita que as neuroses são causadas por abusos sexuais sofridos pelo sujeito na infância e praticados por adultos ou crianças mais velhas.
2 – Freud acredita que tais abusos não necessariamente aconteceram e que são manifestações sexuais espontâneas na infância que levam à neurose.
3 – Freud percebe que essa sexualidade infantil espontânea está presente em todas as crianças e que é a reação do sujeito a ela que está na origem da neurose.
A respeito desse terceiro e definitivo momento de sua teorização sobre as causas da neurose, Freud diz o seguinte:
“Não importavam, portanto, as excitações sexuais que um indivíduo tivesse experimentado em sua infância, mas antes, acima de tudo, sua reação a essas vivências — se respondera ou não a essas impressões com o ‘recalcamento’.”
Essa citação mostra que, para Freud, a pergunta que devemos fazer frente à neurose NÃO É “o que aconteceu na infância para que essa pessoa se tornasse assim?”.
A pergunta correta seria: “Como essa pessoa LIDOU na infância com seus próprios impulsos e com o que lhe aconteceu para que se tornasse assim?”.
Em outras palavras, Freud sai de uma primeira teoria que colocava no AMBIENTE todo o peso da produção da neurose e vai para o polo oposto…
Sim, ao dizer que, na causação da neurose, o mais importante é a forma como o sujeito reagiu às impressões infantis, Freud relativiza o impacto do ambiente e “absolutiza” o papel do sujeito nessa história.
É como se ele estivesse inadvertidamente dando razão àquela frase de pára-choque de caminhão atribuída a Sartre:
“Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.”
Felizmente, autores como Ferenczi e Winnicott iriam “corrigir” esse exagero subjetivista freudiano e resgatar, na teoria psicanalítica, o peso do AMBIENTE na produção do adoecimento emocional.
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Quando fazemos essas provas de múltipla escolha aplicadas em vestibulares e concursos não é recomendável gastarmos muito tempo com uma questão que não estamos conseguindo resolver.
A melhor estratégia é pular o item difícil e ir respondendo outros mais fáceis, de modo que, se sobrar tempo, a gente pode tentar voltar a quebrar a cabeça com a questão complicada.
Essa recomendação extremamente útil para processos seletivos também é válida para a vida de modo geral.
No entanto, na maioria das vezes ela não é adotada.
Pelo menos é isso o que a clínica psicanalítica nos mostra.
Afinal, o que encontramos todos os dias em nossos consultórios são pessoas que permaneceram presas a questões com as quais vem pelejando DESDE A INFÂNCIA.
Ao invés de seguirem a vida e deixarem para lá certos problemas, tais pessoas insistem em se dedicar compulsivamente a resolvê-los.
Que problemas são esses? Eis alguns exemplos:
— Será que eu posso ser tão potente quanto o meu pai?
— Por que meu pai me rejeitou?
— Como mudar minha mãe e torná-la mais amorosa?
— Por que me forçaram a amadurecer tão precocemente?
Na busca por respostas para questões como essas a gente acaba reencenando na vida adulta os mesmos cenários difíceis da infância.
Fazendo assim, inconscientemente temos a esperança de encontrar as respostas que não conseguimos achar lá atrás.
Mas não dá certo. Ao reencenar os problemas da mesma forma com que eles se apresentaram na infância, tudo o que conseguimos é a repetição do sofrimento.
E assim vamos nos comportando como um estudante fazendo o Enem que fica empacado tentando resolver uma questão difícil e acaba não fazendo as dezenas de outras questões mais fáceis.
No caso da vida, a saída não é simplesmente fingir que a questão difícil não existe.
É preciso encontrar uma nova maneira de encarar o problema.
Um novo olhar que nos permita enxergar que talvez haja questões insolúveis mesmo e que buscar respostas para elas é pura perda de tempo e energia.
É para conseguir desenvolver esse novo olhar que a gente faz Psicanálise.
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