Histeria e neurose obsessiva: dois modos de lidar com a vida

Quando Freud fala de histeria e neurose obsessiva, ele está se referindo a duas formas de adoecimento psíquico, isto é, duas CONDIÇÕES patológicas que uma pessoa pode vivenciar TEMPORARIAMENTE.

A ideia de que existem PESSOAS HISTÉRICAS e PESSOAS OBSESSIVAS é especificamente lacaniana.

Foi Jacques Lacan quem propôs a concepção de que histeria e neurose obsessiva são duas ESTRUTURAS subjetivas.

Em Humanês, isso significa que, para Lacan, existem pessoas cuja personalidade está organizada e funciona de acordo com uma LÓGICA histérica e outras conforme uma LÓGICA obsessiva.

Nesse sentido, do ponto de vista do analista francês, histeria e neurose obsessiva não são necessariamente patologias, mas, essencialmente, MODOS DE LIDAR COM A VIDA.

Com a vida HUMANA, diga-se de passagem.

Enfatizo a palavra “humana” porque, para Lacan, existe uma diferença radical entre a nossa vida e a vida dos outros animais.

Do ponto de vista lacaniano, a vida humana possui dois aspectos peculiares e fundamentais: a dimensão do grande Outro (ou, se você quiser, o Simbólico) e a experiência da FALTA.

A segunda é consequência da primeira.

A existência da dimensão do grande Outro faz com que os seres humanos tenham que abrir mão de parte da sua liberdade natural para existirem no interior da sociedade como SUJEITOS.

Pense, por exemplo, no fato de que, para se comunicar com sua mãe, quando criança, você precisou se SUJEITAR ao idioma dela.

O efeito colateral desse processo de alienação ao grande Outro é o surgimento da experiência da FALTA, já que precisamos cortar uma parte do nosso ser espontâneo para entrarmos no jogo social.

Pois bem! A maioria de nós aceita esse processo de “castração”, mas… mas… mas, AO MESMO TEMPO, nos revoltamos em relação a ele, nutrindo certo ressentimento.

É dessa relação ambígua com a castração que nascem os dois MODOS DE LIDAR COM A VIDA que Lacan chamará de histeria e neurose obsessiva.

Ainda hoje, quem está na CONFRARIA ANALÍTICA receberá uma AULA ESPECIAL em que comento algumas das principais características dessas duas posições subjetivas, como elas se manifestam na clínica psicanalítica e qual deve ser o manejo do analista com cada uma delas.

Te vejo lá!


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Enquanto os obsessivos são nostálgicos do ser, os histéricos são militantes do ter

No clássico (e, infelizmente, esgotado) livro “Estruturas e Clínica Psicanalítica”, Joël Dor propõe a seguinte tese:

“Se pude dizer que os obsessivos são uns NOSTÁLGICOS DO SER, pode-se igualmente dizer que os histéricos são uns MILITANTES DO TER.” (p. 67, gritos do autor).

Para o autor, a gênese das estruturas histérica e obsessiva está diretamente relacionada a certas condições relativamente comuns que podem se apresentar ao sujeito quando criança.

No caso da obsessão, teríamos invariavelmente na infância a relação com um Outro que mantém o sujeito numa posição de objeto suplementar de seu desejo.

Em outras palavras, a criança percebe que o Outro deseja coisas que estão para-além dela, mas entende que essas outras coisas não são suficientes para dar conta do desejo do Outro.

Assim, o sujeito é levado a crer que ocupa uma posição privilegiada junto a esse Outro e que é o seu DEVER mantê-lo sempre satisfeito.

Por isso, o obsessivo teria essa eterna NOSTALGIA DE SER o objeto que não deixa o Outro “a desejar”…

Na histeria, por sua vez, teríamos uma configuração diferente, ligada ao momento da infância em que o sujeito precisa reconhecer que tanto ele quanto o Outro não são completos.

Dependendo do modo como é apresentada a essa “descoberta”, a criança pode ser levada a acreditar que a incompletude não vale para todos e que ela é, na verdade, uma INJUSTIÇA.

Para o histérico, existem alguns Outros que indevidamente possuem o privilégio de serem completos e, por isso, precisam ser “castrados”.

Colocar-se a serviço do Outro, por exemplo, costuma ser uma típica estratégia histérica para manter o Outro castrado: “Se ele precisa de mim, é porque é carente e incompleto. 😌”.

Quanto à sua própria incompletude, o histérico a reconhece, mas a considera, como eu disse acima, uma injustiça.

“Sou incompleto, sim”, ele diz, “mas só porque o Outro me fez assim, privando-me daquilo que me faria inteiro e feliz”.

Por isso, o histérico passa a vida MILITANDO, reivindicando, se queixando daquilo que ele acha que somente uns privilegiados têm, mas que, na verdade, NINGUÉM TEM…


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Histeria e obsessão: respostas neuróticas ao desejo do Outro

Originalmente, histeria e neurose obsessiva eram termos que designavam tão-somente transtornos mentais.

Por outro lado, desde o início de sua abordagem dessas patologias, Freud observou que em cada uma delas haveria uma constelação específica de traços de personalidade.

Na histeria, por exemplo, haveria quase sempre uma atitude de repúdio à sexualidade ao passo que na neurose obsessiva normalmente se encontraria, dentre outros traços, um crônico sentimento de culpa.

Lacan, por sua vez, propôs que histeria e neurose obsessiva seriam, na verdade, não apenas categorias psicopatológicas, mas as duas posições subjetivas possíveis para uma pessoa neurótica.

No pensamento de Lacan, o neurótico pode ser pensado como o sujeito que trava sua vida em função da pergunta “O que o Outro deseja?”.

Empacado diante desse problema, o neurótico constrói uma fantasia e passa a viver nela, protegendo-se da constatação de que não há resposta definitiva para aquele mistério.

O obsessivo vive na fantasia de que precisa ser completo, autônomo, tendo tudo sob controle. Para se proteger da questão sobre o desejo do Outro, ele tenta fingir que o Outro não existe.

Daí o desespero em que se vê quando sua parceira se recusa a encarnar o papel de um simples objeto, ou seja, quando resolve se manifestar como uma Outra pessoa de verdade.

A fórmula do amor do obsessivo é “Eu amuminh’a mulher” (amor + múmia). Com efeito, para ele, a mulher ideal é uma mulher… morta.

A histérica, por sua vez, encara de frente a questão do desejo do Outro. Sua saída, no entanto, não é melhor que a do obsessivo:

Na histeria, o sujeito tenta encarnar o objeto que supostamente seria a causa do desejo do Outro.
Percebam: a histérica não quer ser o objeto que satisfaz o Outro. Ela busca se converter no objeto que CAUSA o desejo.

É como se ela pensasse: “Se o Outro deseja, logo eu existo, pois sou exatamente o objeto que o faz desejar”.

Daí sua famosa insatisfação crônica: para ela nunca está bom, está sempre faltando alguma coisa…

Precisa faltar! Encarnando em fantasia o papel de objeto causador do desejo do Outro, a histérica só pode sustentar sua existência se mantiver o Outro num estado perpétuo de carência.


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[Vídeo] De onde vêm os pensamentos obsessivos?

Neste vídeo: entenda de forma rápida, simples e didática o mecanismo psíquico que está na origem das ideias obsessivas.


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Pensamentos obsessivos: entenda por que eles acontecem

Desde 1894 conhecemos o mecanismo psíquico que está por trás dos pensamentos obsessivos.

Naquele ano, Sigmund Freud publicou o artigo “As neuropsicoses de defesa” no qual, dentre outras coisas, demonstra a descoberta de que os pensamentos obsessivos são inconscientemente criados pelo indivíduo para substituírem outros pensamentos que são fonte de um sofrimento mais acentuado.

Não entendeu? Então vem cá que eu te explico.

Para quem não sabe, pensamentos obsessivos são ideias que não saem da cabeça da pessoa e que ocasionam sentimentos ruins como culpa, medo e irritação. Alguns exemplos típicos: medo desproporcional de que uma catástrofe aconteça, temor excessivo de contaminação, remorso exagerado por pequenos erros cometidos etc.

No artigo de 1894 (que se encontra disponível no volume III das obras completas de Freud), o autor demonstra que os pensamentos obsessivos surgem para substituir outras ideias. Esses outros pensamentos estão ligados a coisas que o sujeito fez ou desejou fazer tanto na idade adulta quanto, sobretudo, na infância, e que são, para ele, fonte de uma culpa avassaladora.

Freud mostra que, para fugir da intensa dor psíquica provocada pelo que fez (ou desejou fazer), o sujeito inconscientemente cria as ideias obsessivas e passa a sofrer com elas ao invés de continuar sofrendo com a culpa “original”.

Por exemplo: um jovem pode se ver constantemente assaltado pelo medo absurdo de estar magoando a namorada pelo simples fato de não respondê-la imediatamente no WhatsApp. Esse temor disparatado pode estar substituindo a culpa pelo desejo de traí-la que constantemente atravessa a alma do pobre rapaz.

O que a pessoa ganha ao fazer essa substituição?

Ora, por mais incômodos e perturbadores que sejam os pensamentos obsessivos, eles pelo menos são suportáveis ao passo que a culpa original impõe sobre o sujeito um estado de desespero intolerável. Em suma: as ideias obsessivas são formas que encontramos de nos proteger das nossas próprias autocondenações.

Você já sofreu com pensamentos obsessivos? Conhece alguém que passa por isso?


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3 traços da estrutura obsessiva

Para-além dos sintomas clássicos (pensamentos obsessivos e compulsões), a neurose obsessiva contempla também certos traços típicos de personalidade que revelam a posição subjetiva ocupada por alguém que se encontra nessa estrutura.

Dentre esses diversos traços típicos, escolhi três para exemplificar o funcionamento característico de um sujeito obsessivo.


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