As 4 tentações do analista: salvador, professor, aliado e moralista

No artigo “Contratransferência”, de 1960, o psicanalista inglês Donald Winnicott afirma o seguinte: “O analista é objetivo e consistente na hora da sessão, sem pretender ser um salvador, professor, aliado ou moralista. O efeito importante da análise do próprio analista neste contexto é que fortalece seu próprio ego de modo a poder permanecer PROFISSIONALMENTE envolvido, e sem esforço demasiado.” (grifo do autor).

Winnicott elenca nesse parágrafo quatro funções que são diametralmente opostas ao papel que o analista deve exercer no tratamento: salvador, professor, aliado e moralista. Essas são, talvez, as quatro principais tentações às quais está sujeito aquele que se aventura a escutar pessoas mediante o método psicanalítico.

Quando é que o analista cede à tentação de se tornar SALVADOR? Quando considera equivocadamente que sua tarefa consiste em devolver a saúde mental ao paciente, quando se esquece da dimensão do gozo implicada em todo adoecimento emocional e quando ele próprio, o analista, passa a gozar com a fantasia messiânica de curar a alma do analisante.

Quando é que o analista cede à tentação de se tornar PROFESSOR? Quando troca a atenção flutuante e a escuta sensível e empática por um discurso que visa transmitir um saber pronto, artificial e distante da experiência do paciente ou quando tenta ensinar ao paciente como viver, ainda que a fonte de sua instrução seja o “Santo Magistério Psicanalítico”.

Quando é que o analista cede à tentação de se tornar ALIADO? Quando se coloca a serviço das ilusões egoicas, reforçando identificações ao invés de apontá-las, homologando defesas ao invés de denunciá-las, tamponando o Inconsciente ao invés de conjurá-lo por meio de pontuações, cortes e interpretações.

E, por fim, quando é que o analista cede à tentação de se tornar MORALISTA? Quando se arvora em guia espiritual do paciente, buscando submetê-lo à moral que ele, analista, adota (ou finge fazê-lo) em sua própria vida, seja ela de direita ou de esquerda, progressista ou conservadora, religiosa ou ateísta. Em outras palavras, é quando o analista para de fazer “silêncio em si” (como dizia o Nasio) e passa a “cagar regra”.


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3 comentários sobre “As 4 tentações do analista: salvador, professor, aliado e moralista

  1. Esqueceu do psicanalista (que eu prefiro chamar de esquizoanalista, nesse caso) que faz da psicanálise uma engenharia social, para propor, estimular, influenciar e coagir a sociedade a viver como ele vive. Posso dizer que é a nata maioritária dentro da psicanálise. Tipo o psicanalista que analisa politicamente e menospreza companheiros que pensam diferente nesta mesma área.
    Parecem complexados com a figura paterna e idolatram a figura materna. Falta equilíbrio na psicanalise. Equilibrar os opostos. Creio que a psicanalise pós-moderna está adoecendo pessoas e não as equilibrando e despertando autoconhecimento e percepção da realidade. A mãe sempre é a salvadora, o Id sempre é o espetáculo da vida, enquanto o Pai é o diabo e o superego é a opressão do universo. Li estes dias em um blog feminista a frase “precisamos de mulheres histéricas”. Infelizmente, como psicanalista, trabalho isolado sem contato com esse meio autoritário que se diz freudiano, winnicotiano, lacaniano, mas quando vão escrever um artigo corrigem, distorcem e instrumentalizam esses psicanalistas. Creio que usem a psicanálise para outros fins, chega a nem parecer psicanálise, mas propaganda política de algum curso de humanas da USP. Se o psicanalista não deve ser moralista, ele também não deve ser entusiasta e aprovador. vivemos uma fase grossiana da psicanálise. Esse papel de engenheiro social moldando e militando por comportamentos histéricos, paranóicos e febris para mim, desqualifica totalmente o sujeito como um terapeuta. Consultórios viram laboratório de estímulos e condicionamentos e eu já vi muitos psicanalistas fazendo isso. A vida e a opinião pessoal de um psicanalista não pode, mas é só disto que consiste a clínica dos psicanalistas mainstream. Em um site winnicotiano, um camarada escreveu vários artigos contrários à Winnicot, como pode? Porque se chamar winnicotiano? Isso demonstra que apenas termos, linguagem, autores e dados técnicos da psicanálise são usados, mas o objetivo é contrário ao da psicanálise.

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  2. Parabéns ao seu site, estou maratonando nele. É a primeira vez que me esbaldo na leitura de um psicanalista que não seja os clássicos. Tentei ler outros que aparecem no Youtube da vida, mas parece que estou em uma reunião do PSOL. Estou vibrando com seu trabalho. Forte abraço.

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