
Antes de Freud, entendia-se que as perversões sexuais eram formas desviantes, anormais, degeneradas de vivência da sexualidade.
Em outras palavras, na cabeça do povo vigorava mais ou menos o seguinte raciocínio:
Se uma pessoa, por exemplo, sente prazer sexual e é capaz de chegar ao orgasmo simplesmente sendo amarrada, chicoteada e humilhada, isso significa que tal indivíduo se desviou, se verteu completamente (per-vertere) para o caminho sexual errado.
Na base desse pensamento está o pressuposto de que existe uma forma correta e NATURAL de viver a sexualidade: a forma genital-heterossexual-monogâmica.
Supostamente, todo o mundo nasceria voltado para esse “bom caminho” e apenas alguns malucos anormais, os perversos, se desviariam dele.
Freud vai produzir uma reviravolta nessa maneira tradicional de entender a sexualidade humana.
Observando que seus pacientes neuróticos viviam cheios de fantasias perversas na cabeça, apesar de viverem na prática uma sexualidade genital-heterossexual-monogâmica, Freud chega à conclusão revolucionária de que, na verdade, A PERVERSÃO É QUE É PRIMÁRIA E NÃO A “NORMALIDADE”.
Ou seja, Freud nos fez ver que a sexualidade genital-heterossexual-monogâmica é CONSTRUÍDA e não NATURAL.
Construída por meio de uma LAPIDAÇÃO, de uma espécie de MODELAGEM que se dá sobre uma condição perversa original.
Afinal de contas, a sexualidade infantil não é genital-heterossexual-monogâmica.
As crianças podem experimentar prazer sexual com as mais diversas ações, os mais diferentes objetos e em várias partes do corpo.
Isso significa que quando uma pessoa sente prazer sexual e é capaz de chegar ao orgasmo simplesmente sendo amarrada, chicoteada e humilhada, ela não está se desviando de uma suposta norma natural, mas simplesmente expressando uma potencialidade que já estava presente na infância.
Nesse sentido, o desenvolvimento (legítimo, diga-se de passagem) de uma sexualidade genital-heterossexual-monogâmica é resultado de um processo que consiste num “descarte” das diversas outras formas de prazer de que somos capazes de usufruir.
— Mas o que acontece com tudo isso que é “descartado”, Lucas?
Outro dia a gente fala a respeito…
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