Autocompaixão sem vitimização

Como você lida consigo mesmo quando comete um grande erro?

Você se condena, considera-se um fracasso e fica remoendo a pisada na bola, querendo voltar no tempo?

Ou reconhece a falha, admite que não é nem nunca será perfeito e se compromete a TENTAR não incorrer mais no mesmo erro?

Se a sua resposta foi a segunda opção, saiba que você conseguiu desenvolver uma das atitudes que mais favorecem a saúde mental: a autocompaixão.

Essa palavra entrou no vocabulário psicológico nas últimas décadas não por acaso.

De fato, no século XX, sobretudo a partir dos anos 1960, a sociedade ocidental passou a relativizar os mandamentos morais de fundo religioso e os substituiu por outros outros imperativos:

“Você tem que ser feliz!”

“Você tem que ser a sua melhor versão!”

“Você precisa bater as metas!”

“Você precisa ter alta performance!”

O resultado? Todo profissional sério de saúde mental conhece muito bem: uma epidemia de autocobrança, depressão, cansaço e sensação de insuficiência.

A noção de autocompaixão vai na contramão desse discurso que trocou o “Não seja um pecador.” pelo “Seja um vencedor!”.

Ser autocompassivo significa entender e aceitar que temos limitações, que podemos, sim, tentar superá-las, mas com a consciência de que sempre estaremos aquém de nossas idealizações.

— Ah, Lucas, mas a autocompaixão não acaba levando à vitimização?

Não. O sujeito autocompassivo não tem pena de si mesmo.

Ele não olha para si como alguém que sofreu uma injustiça e por isso não consegue ser melhor do que é. Essa é a diferença.

O vitimista nutre a fantasia de que, se não fosse pelo que fizeram (ou fazem) consigo, tudo seria perfeito e ele conseguiria, finalmente, ser “a melhor versão” de si mesmo.

O autocompassivo, não.

Quem tem autocompaixão olha para si sem a ilusão de uma perfeição possível.

Ele não fica ruminando os erros cometidos porque já conseguiu aceitar que errar faz parte.

E pensar assim não o torna um cínico irresponsável. Afinal, o autocompassivo não procura o erro deliberadamente nem foge de suas consequências.

Ele só conseguiu perceber que nunca estará imune a falhar e que, se é assim, é melhor aceitar essa dura realidade.

Dói menos.


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