
A psicanalista austríaca Melanie Klein acreditava que, nos primeiros três ou quatro meses de vida, nossa visão da realidade é completamente delirante.
Não por acaso, a autora chamou essa fase de POSIÇÃO ESQUIZOPARANOIDE.
Com efeito, de acordo com Klein, nesse estágio, o bebezinho enxerga o mundo de maneira bipolar:
Ora se sente num paraíso, protegido por uma mãe bondosa e superpoderosa, ora acredita estar num inferno, perseguido por uma mãe demoníaca e implacável.
Por que esse cenário tão maluco se apresenta na cabecinha da criança?
Para a autora, isso acontece porque o bebê nasce com intensos impulsos amorosos e destrutivos, mas ainda não possui uma mente forte o suficiente para suportá-los.
Assim, o pequeno filhote de Homo sapiens é levado a projetar parte dos seus impulsos para o mundo externo, colorindo-o com sua própria realidade psíquica.
Em outras palavras, a criança vê o mundo ora como um lugar 100% amável, ora como um ambiente 100% odiável porque ela mesma está cheia de amor e de ódio.
— E por que ela não enxerga a realidade como amável e odiável ao mesmo tempo, Lucas?
Porque ainda não dá conta.
Para fazer isso, o bebê precisará adquirir força psíquica suficiente para suportar o fato de que é possível odiar quem amamos, pois ninguém é deus nem demônio.
Klein acredita que a criança atinge esse grau de maturidade por volta dos seis meses, numa fase que ela chamou de POSIÇÃO DEPRESSIVA.
Trata-se do momento em que o bebê finalmente consegue enxergar a realidade para além de suas projeções — o que o leva a se sentir culpado e decepcionado:
Culpado por ter achado, em alguns momentos, que a mãe que ele tanto ama era uma bruxa malvada.
E decepcionado por perceber, ao mesmo tempo, que ela também não é um ser angelical superpoderoso.
Esse movimento de reconhecer a realidade por trás das projeções é um processo que se repete em toda análise.
Frequentemente nossos pacientes nos apresentam uma descrição de suas vidas que é completamente enviesada pelas lentes de seu mundo interno.
Cabe ao analista ajudar o sujeito a se sentir seguro o bastante para enxergar a própria existência sem imaginá-la como um conto de fadas ou um filme de terror.
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