Não seja um terapeuta palpiteiro!

Um dos piores erros que um terapeuta pode cometer é aconselhar o paciente a tomar certas decisões em sua vida.

Veja: eu não estou me referindo a orientações genéricas e inofensivas do tipo: “Talvez lhe faça bem começar a praticar atividades físicas”.

Estou falando de casos em que o terapeuta sugere explicitamente ao paciente que escolha a opção A em detrimento da B.

“Você deveria se separar”.

“Você deveria sair desse emprego”.

“Você deveria se afastar da sua mãe”.

É claro que são poucos os profissionais que enunciam seus conselhos dessa forma tão crua e direta.

A maioria dos terapeutas palpiteiros é mais sutil, mas o paciente percebe claramente que está sendo induzido a ir por determinado caminho.

Por que isso é tão pernicioso?

Em primeiro lugar, porque transforma a terapia numa relação pedagógica, em que o profissional fica na posição de professor e o paciente na de aluno.

E por que isso é ruim, Lucas?

Ora, porque um pressuposto da relação pedagógica é que o professor sabe e o aluno não. E, na terapia, quem detém o saber é o paciente, não o terapeuta.

A segunda razão pela qual terapeutas não devem ficar dando conselhos é que tal postura pode levar o paciente a se sentir cobrado e pressionado.

Assim, o profissional deixa de ser visto como alguém que vai acolher e ajudar e passa a ser percebido como uma autoridade a ser obedecida.

Por último, mas não menos importante:

O caminho sugerido pelo terapeuta pode ser, de fato, benéfico para a saúde mental do paciente.

No entanto, se o paciente escolhe esse caminho simplesmente porque foi aconselhado a fazê-lo, o efeito terapêutico da decisão não acontecerá.

Afinal, o sujeito ainda não está preparado para sustentá-la.

E como é que eu sei que ele não está preparado?

Porque, caso estivesse, a decisão brotaria espontaneamente, sem que o terapeuta precisasse sugeri-la.

Todo terapeuta inevitavelmente pensa em seu íntimo que o paciente deveria ir pelo caminho X ou Y.

Mas só os bons terapeutas são capazes de não ceder a essa tentação de querer controlar a vida de quem estão atendendo.


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