
De vez em quando, na clínica, a gente se depara com pacientes que sofrem do que eu chamaria de “tendência à autoculpabilização”.
São pessoas que costumam se sentir culpadas por qualquer infortúnio que lhes aconteça, mesmo que não tenham feito absolutamente nada para provocá-los.
Trata-se de um padrão diametralmente oposto ao do vitimismo, que é a tendência a achar que a culpa dos próprios problemas é sempre do outro.
Considerando que a culpa é um afeto extremamente desagradável, é fácil compreender a motivação dos vitimistas:
Eles querem justamente evitar o desprazer de se sentirem culpados.
Mas como entender a tendência à autoculpabilização?
Se sentir culpa é tão ruim, por que será que algumas pessoas tendem a se culpar tanto? Masoquismo?
Não.
É que o sentimento de culpa vem sempre acompanhado de uma ideia falsa, mas muito satisfatória, especialmente para pessoas inseguras:
A ilusão de que elas podem ter controle sobre tudo.
Veja o caso da Taís, por exemplo.
Ela é uma dessas pessoas com propensão a se julgarem sempre culpadas.
Recentemente, a moça descobriu que o namorado a traiu com sua melhor amiga.
E a primeira coisa que lhe passou pela cabeça ao saber disso foi:
“O que será que eu fiz para que ele me traísse?”
A seguir, começou a pensar nas raras ocasiões em que tratou o rapaz com impaciência ou não quis atender a um pedido dele.
— Acho que se eu tivesse sido mais companheira, isso não teria acontecido, disse ela, aos prantos, em uma de suas sessões de análise.
Perceba como sentir-se culpada fez Taís imaginar que poderia ter evitado a traição do namorado se tivesse agido de forma diferente.
Ou seja, a culpa levou a jovem a acreditar que tinha CONTROLE sobre a situação, que o comportamento do namorado era determinado pelas ações dela.
Pensar assim lhe dá a esperança de que, no próximo relacionamento, “se fizer tudo direitinho”, conseguirá evitar um desfecho semelhante.
Conclusão: se culpar por tudo é uma forma de alimentar a ilusão de onipotência — o sonho dourado de toda pessoa insegura…
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