Lucas Nápoli é psicólogo, psicanalista e professor. Possui os títulos de Doutor em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É autor do livro "A Doença como Manifestação da Vida".
Esta é uma pequena fatia da aula “Natal e ano novo: gatilhos emocionais”, que já está disponível no módulo AULAS TEMÁTICAS – TEMAS VARIADOS da Confraria Analítica.
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Estamos nos aproximando daquela época do ano que teoricamente deveria ser fonte de alegria, mas que muita gente vivencia com certo mal-estar.
É o período das chamadas “festas de fim de ano”, Natal e Réveillon.
Na caixa de um famoso panettone com gotas de chocolate se lê: “O Natal é tempo de estar em família…”.
Na televisão circulam anúncios de programas especiais e se repete aquela velha musiquinha que ninguém suporta mais: “Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa…”.
Alegria, celebração, confraternizações, euforia. Por toda parte.
Quem não compartilha desse clima festivo pode se sentir um peixe fora d’água:
“O que há de errado comigo? Por que não consigo ficar tão feliz como todo mundo?”.
Não, não é só você, meu caro, minha cara.
Existe toda uma multidão de pessoas que não recorre a essa defesa maníaca que a cultura nos convida a utilizar nestes últimos dias do ano.
— Defesa maníaca, Lucas? Como assim?
Defesa maníaca é como chamamos, em Psicanálise, o uso da alegria, da animação, da excitação para mascarar e compensar afetos dolorosos.
De fato, Natal e Réveillon são duas datas que tendem a evocar em nós memórias e constatações que não são nada agradáveis:
Os rituais natalinos de trocar presentes e se reunir em família evocam a infância que perdemos (ou que nunca tivemos).
Evocam também nossos inevitáveis (e às vezes traumáticos) problemas familiares.
O Réveillon, por sua vez, traz consigo a dolorosa constatação de que “o tempo está passando” e de que não sabemos o que o futuro nos reserva.
Pense, por exemplo, na passagem de 2019 para 2020. Desejamos “Feliz ano novo!” uns para outros sem ter a menor ideia de que uma pandemia estava para nascer.
Tudo isso faz com que seja bastante compreensível que muitas pessoas vivam esses últimos dias do ano com certa tristeza e uma boa dose de angústia.
É que talvez elas enxerguem o “lado b” desse período festivo — o que não as torna moralmente superiores, que fique bem claro.
Elas só não conseguem usufruir da defesa maníaca fornecida pela cultura.
Se você consegue, aproveite! Boas festas!
Se esse texto fez sentido para você, quero te dizer que eu aprofundo essa reflexão em uma aula recém-publicada na Confraria Analítica, intitulada “Natal e ano novo: gatilhos emocionais”.
Nela, eu falo com mais profundidade sobre como as festas de fim de ano podem funcionar como gatilhos para afetos dolorosos que muitas vezes ficam encobertos por esse clima de euforia socialmente esperado.
Também abordo o que costuma acontecer na relação entre pacientes e terapeutas nesse período em que muitos profissionais entram em recesso, e como esse intervalo pode reativar fantasias de abandono, dependência ou rejeição.
Por fim, discuto a função defensiva das chamadas “resoluções de ano novo” e por que, na maioria das vezes, elas não funcionam.
Ao assinar a Confraria Analítica, você tem acesso imediato a essa aula e a um acervo com mais de 600 horas de conteúdo em teoria psicanalítica, pensado para quem quer compreender melhor a si mesmo e aos outros, sem respostas fáceis e sem promessas vazias.
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Responda rápido: quem foi a primeira pessoa que você amou na vida?
Se você não respondeu “minha mãe”, sua resposta está errada.
Sim, a primeira pessoa que todos nós amamos na vida é a mãe (ou aquela que faz a função materna).
Não tem como ser diferente, gente. É natural que estabeleçamos um vínculo de amor com a pessoa que inicialmente assegura nossa sobrevivência.
É a mãe (ou figura materna) que nos alimenta, nos protege do frio, nos dá colo etc. É praticamente inevitável que amemos essa pessoa.
Para os chatos de plantão: é claro que o pai também pode fazer tudo isso, mas, via de regra, é a mãe quem se encarrega de tais funções — sobretudo nos primeiros meses.
— OK, Lucas, mas por que você está nos lembrando dessas obviedades?
Porque eu quero chamar sua atenção para um fato que não é tão óbvio assim… Veja:
Se a figura materna é a primeira pessoa que a gente ama, isso significa que o vínculo com ela servirá de base, de modelo, para nossas relações amorosas posteriores.
Não, não estou me referindo ao velho clichê de que você vai se apaixonar por pessoas parecidas com sua mãe. Pode acontecer, mas não é disso que estou falando.
O ponto é que certos aspectos estruturais presentes no vínculo inicial com a mãe tendem a reaparecer nas relações com nossos parceiros ou parceiras.
Vou citar um desses aspectos: a dupla função que a mãe exerce junto ao bebê.
O psicanalista inglês Donald Winnicott descobriu que a mãe é, ao mesmo tempo, objeto e ambiente para seu filho.
Enquanto objeto, ela se oferece ao bebê para ser sugada, mordida, imaginariamente atacada, ou seja, como um alvo dos impulsos dele.
Já como ambiente, a mãe se apresenta como um contexto que fornece (ou não) segurança, previsibilidade, rotina etc.
Ora, nossos parceiros e parceiras tendem a exercer exatamente esses dois papéis conosco:
Por um lado são objetos com os quais saciamos nossos desejos. Por outro, constituem um ambiente no qual nos sentimos acolhidos e seguros.
Vários problemas comuns nos relacionamentos acontecem justamente quando o parceiro não exerce uma dessas funções.
Aí surgem os clássicos:
A pessoa que é um objeto extremamente excitante, mas zero ambiente confiável. Ou aquela que é um ambiente super acolhedor, mas não se coloca como objeto de desejo.
As relações que costumam funcionar melhor — em que ambos se sentem suficientemente satisfeitos (suficientemente!) — são aquelas nas quais cada um consegue, a seu modo, ocupar os dois lugares para o outro.
Isso acontece no seu relacionamento? Ou por aí tá faltando espaço para alguma dessas funções?
***
Na aula temática desta sexta na Confraria Analítica, vamos aprofundar a distinção que Winnicott faz entre mãe-ambiente e mãe-objeto e entender como essa diferença continua moldando nossos relacionamentos na vida adulta.
Para ser meu aluno na Confraria, é só clicar aqui.
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Esta é uma pequena fatia da aula “Tipos de ansiedade em Psicanálise” que já está disponível no módulo AULAS TEMÁTICAS – TEMAS VARIADOS da CONFRARIA ANALÍTICA.
Karen, uma jovem economista de 26 anos, sempre teve muita dificuldade para interagir com as pessoas.
Ela não é exatamente tímida. Faz apresentações em público, se expõe nas redes sociais… O problema dela não está na exposição, mas na relação.
Uma simples conversa com um vendedor numa loja já a deixava tensa e ansiosa. Por isso, preferia comprar tudo online.
Karen tem algumas poucas amigas, mas raramente sai com elas, limitando o contato praticamente à internet.
Insatisfeita com seu jeito de ser, resolveu fazer terapia cognitivo-comportamental.
A psicóloga a diagnosticou com “transtorno de ansiedade social”, a encaminhou para um psiquiatra e iniciou um “treino de habilidades sociais”.
Após quatro meses, Karen decidiu abandonar o tratamento, pois não se sentia melhorando.
Pelo contrário: o tal “treino” a deixava ainda mais ansiosa, pois se sentia cobrada a apresentar resultados.
Algumas semanas depois, encontrou no Instagram o perfil de outra psicóloga que trabalhava com Psicanálise e decidiu marcar uma consulta.
Deu certo.
Apesar do desconforto inicial com a postura mais reservada da profissional, Karen foi, aos poucos, se sentindo à vontade.
As intervenções da analista davam a ela a sensação de que, finalmente, alguém havia compreendido o que realmente acontecia.
— Tenho a impressão de que, ao interagir, você sente inconscientemente que será engolida, dominada, invadida pelo outro, Karen — disse certa vez a terapeuta.
Essa profissional havia conseguido enxergar a ansiedade básica que estava por trás da dificuldade de interação da paciente.
Tratava-se de uma ansiedade de invasão/intrusão, um medo inconsciente de ser sufocada pelo outro e perder a autonomia e a capacidade de desejar.
Encorajando Karen a elaborar essa ansiedade, a psicóloga conseguiu ajudar a moça a ir pouco a pouco perdendo naturalmente a dificuldade de interagir.
Sem treino.
A ansiedade de invasão/intrusão é apenas um dos sete tipos principais de ansiedades básicas que encontramos na clínica.
Eu explico didaticamente cada um deles na aula publicada hoje na Confraria Analítica, minha escola de formação teórica em Psicanálise.
O título da aula é “Tipos de ansiedade em Psicanálise” e ela já está disponível no módulo AULAS TEMÁTICAS – TEMAS VARIADOS.
Se você é analista ou terapeuta e quer aprender a identificar as ansiedades básicas de seus pacientes para ajudá-los de maneira mais efetiva, essa aula é para você.
No clássico artigo sobre o narcisismo, de 1914, Freud diz que os pais costumam tratar seus filhos, na infância, como “Sua Majestade o Bebê”.
Embora escrevesse em alemão, o autor grafou essa expressão em inglês (“His Majesty the Baby”) porque estava fazendo referência ao título de uma pintura.
Trata-se de um quadro de 1898, do artista canadense Arthur Drummond, que mostra a interrupção do tráfego de carruagens para a passagem de uma criança e sua mãe, que ocupam o centro da cena.
Freud evocou essa imagem ao falar da tendência que os pais têm de transferirem seu narcisismo para os filhos e, assim, tratá-los como as pessoas mais importantes do mundo.
De fato, grande parte das crianças tem a sorte de ocupar esse lugar de “majestades” no início da vida, usufruindo de uma série de privilégios e sendo amadas simplesmente por existirem.
É uma questão de sorte porque depende dos pais e, infelizmente, não são todos que conseguem colocar os filhos no centro de suas vidas durante algum tempo.
Freud não chegou a explorar essa possibilidade no texto, mas nós sabemos que muitas crianças não foram suficientemente bem instaladas na posição de “sua majestade, o bebê”.
E as consequências disso são desastrosas.
Quem nunca viveu — ou viveu de forma insuficiente — a experiência de se sentir a pessoa mais importante do mundo para os pais pode passar a vida inteira tentando saciar essa carência.
O problema é que essa experiência SÓ PODE ser vivida nos primeiros anos de vida e as únicas pessoas que podem oferecê-la são os pais.
Ou seja, se você teve o azar de não passar por ela, sinto muito, você nunca mais terá outra chance.
Sabe por quê?
Porque agora, já adulto, você não pode mais gozar dos privilégios de uma criança e ninguém (nem seus amigos, nem seus parceiros amorosos, nem seu analista, ninguém…) estará disposto a te amar como seus pais deveriam ter te amado no início da vida.
Então, trata-se de uma carência que precisa ser acolhida, compreendida, mas… estancada.
Quem a possui, mas ainda não percebeu a existência dela, vive num estado de muita vulnerabilidade:
A pessoa tem tanta fome de se sentir amada, de ocupar o centro da vida de alguém, que acaba aceitando qualquer mísera migalha de afeto e desejo.
É a vítima perfeita para os exploradores. Basta fazê-la se sentir um pouquinho especial que ela já se entrega totalmente ao domínio do outro.
O anseio frustrado (e não abandonado) de ser “majestade” para os pais leva a pessoa, paradoxalmente, a se tornar… uma serva do desejo alheio.
Este é o seu caso?
Lá na Confraria Analítica, minha escola de formação teórica em Psicanálise, nós já fizemos um seminário completo estudando o artigo de Freud sobre o narcisismo.
E todas as aulas estão disponíveis em nossa plataforma, que já conta com mais de 600 horas de conteúdo.
Esta é uma pequena fatia da aula “A contratransferência como bússola clínica” que já está disponível no módulo AULAS TEMÁTICAS – TEMAS VARIADOS da CONFRARIA ANALÍTICA.
Vanessa ainda não tinha conseguido entender porque sentia tanta irritação ao atender Marcelo.
O rapaz tinha 27 anos e havia começado a terapia com uma demanda de timidez excessiva e pensamentos intrusivos.
Ele sempre fora tão gentil e educado no trato com Vanessa que a analista poderia descrevê-lo tranquilamente como “um amor de pessoa”.
Porém, o que ela sentia ao atendê-lo era… raiva. Às vezes tinha vontade de lhe dar uns safanões. “Esse cara precisa acordar para a vida!”, ela pensava.
Ao mesmo tempo, Vanessa se condenava por ter esse tipo de pensamento e por ficar tão irritada nas sessões.
A terapeuta achava que não estava conseguindo manter a neutralidade e cogitou até interromper a análise e encaminhar o paciente para uma colega.
No entanto, fazendo uma pesquisa na internet sobre contratransferência, a analista acabou encontrando o artigo “On Counter-transference”, de Paula Heimann.
Trata-se de um texto clássico, publicado em 1950, no qual a autora defende que os sentimentos contratransferenciais não são necessariamente um problema.
Pelo contrário! Segundo Heimann, eles podem fornecer pistas sobre o que está acontecendo no inconsciente do paciente.
Depois de ler o artigo, Vanessa refletiu longamente sobre o caso e chegou a uma conclusão que provocou uma virada radical no tratamento.
A analista se deu conta de que a raiva que sentia era, na verdade, uma expressão da agressividade que o próprio paciente não conseguia experimentar.
Incapaz de suportar seus impulsos agressivos, o rapaz os projetava na analista e, sem perceber, a induzia a vivenciá-los em seu lugar.
Essa constatação levou Vanessa a perceber que a repressão da agressividade era um fator central por trás da timidez e dos pensamentos intrusivos de Marcelo.
Mas, veja: ela só conseguiu fazer essa descoberta ao ser encorajada pelo artigo de Paula Heimann a olhar para sua contratransferência como uma fonte de informação.
Você, que ainda não conhece esse texto, também pode passar pela mesma experiência transformadora vivida por Vanessa — só que em boa companhia.
Deixa eu te explicar: é que eu acabei de publicar na Confraria Analítica uma aula especial justamente sobre o artigo “On Counter-transference”, de Paula Heimann.
O título dela é “A Contratransferência como Bússola Clínica” e já está disponível no módulo AULAS TEMÁTICAS – TEMAS VARIADOS da Confraria Analítica.
A Confraria é a maior e mais acessível escola de teoria psicanalítica do Brasil e já conta com mais de 3000 alunos.
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É a melhor oportunidade do ano para aprofundar sua clínica com autores que realmente fazem diferença — como Paula Heimann.
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Existem situações dolorosas que costumam se repetir na sua vida periodicamente e que você não consegue evitar?
Eu vou dar alguns exemplos para te ajudar a pensar:
Marina quase sempre namora com homens que se revelam muito ciumentos e possessivos à medida que o relacionamento se aprofunda.
Gustavo, por mais que tente se controlar, volta e meia tem surtos de raiva nos quais grita com seus familiares e quebra objetos da casa.
Tamires, por sua vez, não consegue parar em emprego nenhum. Em todos eles, entra em conflito com seus chefes e acaba sendo demitida.
Essas três pessoas sentem que são vítimas de si mesmas, de algo interno mais forte do que elas e contra o qual não conseguem lutar.
Por mais que se esforce para evitar homens muito ciumentos, Marina sempre acaba dando uma chance para algum deles (“dessa vez vai ser diferente…”).
Gustavo já leu vários livros e assistiu a dezenas de vídeos na internet sobre como controlar a raiva, mas, quando fica nervoso, simplesmente não consegue se conter.
Tamires também já tentou seguir protocolos de “como lidar com conflitos no ambiente de trabalho”. Não adiantou nada.
E aí? Você se identifica com essas pessoas?
Também se percebe repetindo padrões que não consegue controlar?
Então, deixa eu te explicar o que está em jogo nessas repetições.
Elas não acontecem simplesmente por “carência”, “incapacidade de regulação emocional”, “deficiência de habilidades sociais”.
Tudo isso existe, mas é só o que está na superfície do problema.
A raiz mesmo está no inconsciente, ou seja, naquela dimensão do nosso psiquismo que abriga as questões mal resolvidas da nossa história.
Embora residam no inconsciente, essas questões nos revisitam o tempo todo — na esperança de que, algum dia, enfim, olhemos para elas.
As repetições são justamente uma das formas de expressão de nossas questões mal resolvidas.
Por isso, não é possível parar de repetir apenas com força de vontade. É preciso traduzir o que o inconsciente está dizendo com as repetições.
Mas só conseguimos fazer isso quando deixamos de olhar para o padrão repetitivo como o problema em si e passamos a vê-lo como um símbolo do verdadeiro problema — que está lá no inconsciente.
É esse olhar simbólico sobre o próprio comportamento que nós desenvolvemos ao fazer Psicanálise.
Saímos da pergunta “Como parar de repetir os mesmos erros?” e passamos a nos questionar: “O que estou dizendo para mim mesmo ao repetir os mesmos erros?”