A Psicanálise não deve ser um fim em si mesma

A palavra MÉTODO tem origem no termo grego “methodos” que significa basicamente um caminho que leva a certo destino.

Um método, portanto, deve ser encarado como um MEIO para o alcance de determinados objetivos que estão PARA-ALÉM DELE.

Gosto de pensar a Psicanálise essencialmente dessa forma: como um método psicoterapêutico e não uma ética ou uma doutrina, por exemplo.

Afinal, do meu ponto de vista, a Psicanálise deve ser encarada tão-somente como um MEIO (o melhor de que dispomos atualmente) para alcançar certas metas.

Nós podemos divergir na tentativa de nomear quais seriam especificamente essas metas, mas, a meu ver, todas elas devem estar remetidas à categoria de SAÚDE PSÍQUICA.

Se olharmos para a história, veremos que Freud só inventou a Psicanálise porque entendeu que esse método era mais EFICAZ do que outros para proporcionar saúde psíquica a seus pacientes.

Os psicanalistas deveriam encarar isso como uma obviedade, mas, infelizmente, com o passar do tempo, parece que a gente se esqueceu dessa vocação terapêutica da Psicanálise.

Muitos de nós, analistas, passamos a tratar a terapia psicanalítica como um fim em si mesma, como se “fazer análise” fosse uma experiência meio mística com finalidades intrínsecas.

Ora, efeitos como “insights”, “travessia da fantasia”, “reconhecimento da verdade do próprio desejo” etc. não devem ser pensadas como objetivos, mas como MEIOS.

Meios para o alcance do VERDADEIRO objetivo do tratamento que deve ser, evidentemente, a CURA daquele que nos procura apresentando uma condição de adoecimento psíquico.

Essa negligência com a dimensão terapêutica da nossa prática é o que leva muitos de nós a ficarmos presos a estratégias clínicas que NÃO FUNCIONAM.

Mesmo percebendo que nossos pacientes não estão melhorando, continuamos insistindo nas mesmas práticas simplesmente porque “na Psicanálise é assim mesmo”.

Ficamos mais preocupados em “fazer Psicanálise de verdade” do que em efetivamente ajudar aqueles que nos procuram a saírem da sua condição de sofrimento.

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Tem certeza de que você quer ser curado?

Opnamedatum: 2010-08-05

Mais do que uma coletânea de livros religiosos, a Bíblia é fundamentalmente uma obra que fala sobre a natureza do homem e expõe as vísceras da experiência humana. Por isso, tenho muita dificuldade de respeitar intelectualmente um profissional de Ciências Humanas que não detenha um conhecimento razoável dos textos bíblicos. É lastimável o cara que sabe o que Lacan falou na lição 03 do Seminário 10, mas desconhece o fato de que Paulo de Tarso escreveu mais de uma epístola.

Essa é apenas uma introdução que me veio à cabeça quando pensei no tema acerca do qual gostaria de tratar hoje e que me foi sugerido justamente por alguns fragmentos da Bíblia.

Sempre me chamou a atenção uma peculiaridade do comportamento de Jesus de Nazaré ao lidar com os doentes que apareciam em seu caminho. Das duas uma: ou ele perguntava para a pessoa: “O que você quer que eu faça por você?” ou indagava: “Você quer ser curado?”, como fez com o paralítico que há anos vivia às margens do Tanque de Betesda.

Tais indagações podem soar um tanto irônicas se você parar para pensar que aquelas pessoas estavam visivelmente doentes. Não era óbvio que elas gostariam de ser curadas?

Não, não era. Creio que as perguntas de Jesus, as quais, na verdade, todo analista, também faz àqueles que o procuram, revela justamente que NEM SEMPRE QUEREMOS SER CURADOS DE NOSSAS DOENÇAS. Eu falei um pouco sobre isso no domingo passado.

Na verdade, muitas vezes a gente procura um terapeuta apenas com o objetivo de sermos aliviados de nossas dores, mas não necessariamente curados. Afinal, a verdadeira cura exige de nós a tomada de certas decisões que não queremos, seja porque temos medo do que acontecerá se as tomarmos, seja porque não queremos abrir mão do ilusório conforto que a doença nos proporciona.

A gente se acostuma com tudo, meus caros, inclusive com nossas paralisias. A gente dá um jeito: viramos mendigos, acreditamos que um milagre acontecerá e tudo vai mudar sem que precisemos fazer um mínimo esforço, botamos a culpa de nosso sofrimento nos pais, na sociedade, no capitalismo, em Deus…

É muito difícil levantar-se, tomar o próprio leito e caminhar. Por isso, as perguntas “O que você quer que eu faça por você?” e “Você quer ser curado?” não são perguntas irônicas. Numa terapia psicanalítica, elas estão constantemente sendo refeitas. Essa é uma das razões pelas quais alguns pacientes abandonam o tratamento. Eles imaginam que a cura virá meio que por inércia, sem que precisem se enxergar e abandonar os confortos da doença.

Mudar dá trabalho, exige coragem e capacidade de suportar certas mutilações emocionais. A terapia ajuda você a ter forças para avançar nesse processo. Mas SÓ VOCÊ pode se levantar, tomar o seu leito e caminhar.