
O psicanalista inglês Donald Winnicott tem uma expressão curiosa para caracterizar a experiência psicológica que vivenciamos tanto no útero materno quanto nos primeiros meses após o nascimento.
Trata-se do termo SOLIDÃO ESSENCIAL.
De cara essa expressão tende a provocar algum grau de estranheza e perplexidade porque evidentemente SABEMOS que o bebê não está sozinho no início da vida.
Então, por que Winnicott fala de solidão?
Para entender a experiência a que o autor está se referindo precisamos pensar na solidão não como a condição em que se encontra aquele que não tem companhia ou que a perdeu.
Essa “solidão negativa”, por assim dizer, só se torna possível para nós DEPOIS que DESCOBRIMOS a existência de outras pessoas no mundo.
Como assim, Lucas?
É isso mesmo: no início da vida a gente não sabe que o outro existe.
Em “condições normais de temperatura e pressão”, a mãe se adapta de forma tão harmônica às nossas necessidades que a gente nem se dá conta de que ela está lá nos sustentando e cuidando de tudo…
É justamente por isso que Winnicott fala de uma solidão essencial.
O outro tá lá, mas estamos sendo tão bem cuidados que temos a sensação de estarmos sozinhos.
Na verdade, a gente não tem sequer a consciência de que nós mesmos existimos enquanto indivíduos.
Por isso, embora Winnicott denomine esse momento inicial de solidão essencial, a experiência real que temos não é a de estarmos isolados, mas de puramente EXISTIRMOS fora do tempo-espaço, num estado de inabalável tranquilidade.
É dessa experiência original de PURO SER que caminhamos na direção do reconhecimento de outras pessoas.
Todavia, diz Winnicott, por mais que, com o passar do tempo, nossa vida passe a ser cada vez mais constituída de relações, há uma dimensão do nosso ser que permanece vinculada à solidão essencial.
Isso significa que, por mais que façamos contato com o outro, haverá sempre uma parte de nós que se manterá alheia às relações, conservando a memória de um tempo em que nada mais existia a não ser um puro sentimento de viver.
É a manutenção de uma trilha aberta para esse núcleo de solidão essencial que nos impede, na saúde, de não experimentarmos a vida como uma mera adaptação ao social.
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