
Em 1911, Freud publicou um importante artigo no qual explica como surge em nós o que poderíamos chamar de “senso de realidade”.
O título do texto é “Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental”. Tá no volume 12 das Obras Completas (Edição Standard).
Por “senso de realidade” me refiro a essa consciência básica de que estamos instalados num mundo que possui existência própria, independente dos nossos desejos.
Freud mostra que essa consciência não nasce conosco e que, no início da vida, a gente resiste a assumi-la.
Em outras palavras, a gente não queria ter que reconhecer a existência da realidade. Só fazemos isso porque não tem outro jeito.
Como assim, Lucas?
Veja: inicialmente a gente tá lá no bem-bom do útero materno, certo? Parasitas do corpo da mãe, sequer temos a experiência de desejar. O estado de satisfação é ininterrupto.
Aí a gente nasce, tem a primeira experiência de desconforto, mas imediatamente depois do parto, já nos colocam no quentinho de novo e passam a nos alimentar.
Nos primeiros meses, conhecemos finalmente o que é desejar, mas nossos desejos são satisfeitos de forma quase instantânea. É só chorar um pouquinho que o peito da mãe aparece.
Nesse contexto, tomar consciência da realidade é irrelevante. Para que olhar para o mundo externo se o que eu quero magicamente aparece bem na hora em que desejo?
A gente só passa a se importar com a realidade quando somos expulsos desse paraíso, ou seja, quando a mãe para de estar o dia todo ao nosso dispor.
Freud diz que é nesse período que nos vemos obrigados a aderir ao princípio de realidade para manter vigente o princípio do prazer.
Em outras palavras, quando a mãe para de fazer tudo o que queremos na hora em que queremos, somos obrigados a BUSCAR ATIVAMENTE o que queremos.
Para isso, precisamos necessariamente tomar consciência da realidade e da lógica própria do mundo externo. O peito da mãe não “cairá do céu” como antes. Agora a gente tem que pedi-lo.
Moral da história: amadurecer significa continuar buscando fazer os gols do desejo, mas dentro das quatro linhas da realidade.
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