E quando o paciente neurótico tem um episódio psicótico?

Já fazia tempo que Letícia não se sentia daquela forma: desejada.

Rafael, o novo estagiário, não dissera nada explicitamente, mas o interesse dele ficava escancarado em seus olhares e na forma como se dirigia a ela.

Ávida consumidora de doramas, a moça começou a fantasiar um envolvimento com o rapaz, ao mesmo tempo em que se sentia muito culpada por fazer isso.

O casamento de onze anos com Davi era relativamente harmônico, sem muitas brigas, mas havia entrado naquele platô afetivo, típico de relações de longo prazo.

Com o passar do tempo, uma tensão sexual começou a surgir na relação entre Letícia e Rafael.

Ela não conseguia disfarçar que estava gostando da experiência de se sentir desejada.

Débora, uma colega também casada, percebeu e decidiu provocar:

— Esse Rafael é um gatinho, né, amiga?

Surpresa, Letícia ficou com medo de que a colega tivesse notado o clima e, ruborizada, a repreendeu de forma ríspida:

— Que absurdo, Débora! Nós somos casadas. Sossega o facho!

Letícia foi criada em um ambiente extremamente rigoroso do ponto de vista moral. Por isso, a situação com Rafael era vivida com muita ambivalência:

O prazer de se sentir desejada vinha sempre acompanhado de um fortíssimo sentimento de culpa e ideias autodepreciativas:

“Eu sou uma vagabunda”, era o que pensava muitas vezes ao chegar em casa.

Um belo dia, no fim do expediente, Rafael se aproximou para se despedir como de costume.

— Tchau, Letícia — disse ele, inclinando-se para lhe dar um beijo no rosto.

No entanto, no último instante, Rafael desviou sutilmente e se aproximou de sua boca.

O coração de Letícia disparou. Por uma fração de segundo, ela pensou:

“Não posso fazer isso… mas quero!”

Foi nessa hesitação que ela acabou cedendo.

O beijo durou alguns minutos e eles estavam sozinhos no corredor da empresa.

Durante a situação, a moça pensou nas câmeras de segurança e, por um brevíssimo momento, sentiu-se excitada com a possibilidade de estar sendo filmada.

Porém, logo em seguida, ela empurrou Rafael dizendo que aquilo não deveria ter acontecido e saiu correndo em direção aos elevadores.

Aflita, enquanto caminhava apressadamente até seu carro, Letícia foi tomada por uma série de pensamentos catastróficos:

“Com certeza fui filmada!”

“As imagens vão ser divulgadas na internet!”

“O Davi vai ficar sabendo!”

“O Rafael vai começar a me perseguir!”

“Vou perder meu emprego e minha reputação!”

“Meus filhos vão querer ficar longe de mim!”

Durante dias, ela se manteve convicta de que todas essas coisas iriam acontecer a qualquer momento. Por isso, praticamente não dormia.

A moça não conseguia perceber que estava apenas projetando na realidade externa o estrago punitivo que seu severo superego fazia em seu mundo interno.

A culpa que vinha sentindo até então fora trocada por um medo paranoico.

Isso aconteceu porque a parte psicótica de sua personalidade veio à tona já que as defesas neuróticas não foram suficientes para conter a angústia.

Se Letícia estivesse em análise, o que o terapeuta deveria fazer diante dessa crise?

A resposta está na aula “Manejando Momentos Psicóticos em Pacientes Neuróticos”, publicada hoje na CONFRARIA ANALÍTICA.

Essa aula vai te mostrar, passo a passo, como manejar momentos psicóticos em pacientes neuróticos, sem perder o setting e sem romper o vínculo.

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Qual script você leva para a terapia?

Que posição o paciente espera que eu ocupe na relação com ele?

Esta é uma das principais perguntas que todo terapeuta deve se fazer enquanto está atendendo.

Todo sujeito carrega inconscientemente em seu psiquismo um determinado “script”, ou seja, uma espécie de roteiro, que costuma encenar em todas as suas relações.

Esse roteiro especifica o papel dele e do outro, ou seja, o que cada um deveria fazer ao se encontrarem.

Num típico script histérico, por exemplo, a pessoa tende a se apresentar como objeto de desejo e, assim, espera que o outro a queira, a valide, a reconheça.

Importante dizer que nós não só projetamos os scripts em nossas relações, mas também tentamos induzir o outro a desempenhar o papel reservado a ele.

Uma paciente histérica tentará seduzir o terapeuta a fim de levá-lo a encenar a função do outro que a valida, que a reconhece, que a ama, no fim das contas.

Ela pode se apresentar, sessão após sessão, como alguém injustiçada, incompreendida, carente…

Muitos terapeutas caem nesse tipo de armadilha e acabam protagonizando o papel previsto no script da paciente.

“Mas qual é o problema se isso acontecer, Lucas?”.

O problema é que esses roteiros têm função defensiva. Eles foram criados para nos proteger de certas angústias que, na verdade, deveriam ser atravessadas.

O roteiro histérico, por exemplo, é escrito para manter o sujeito na esperança de que ele possa ser o objeto que falta na vida do outro.

Esta é uma expectativa que as crianças costumam ter em relação a seus pais, especialmente àquele do sexo oposto.

Normalmente, o que acontece?

Esse desejo acaba sendo frustrado e o sujeito aceita, aos poucos, que não é tudo o que faltava na vida de papai ou mamãe.

O histérico, porém, não suporta essa angústia de saber que não é a última Coca-Cola do deserto. E é aí que se forma o script de sedução do outro.

Nesse sentido, a tarefa do terapeuta é resistir à encenação. Justamente para que o paciente possa se dar conta… de que existe um roteiro.


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Identificação projetiva: quando o terapeuta vivencia o que o paciente não dá conta de suportar

Fernanda, recém-formada em Psicologia, acaba de terminar mais uma sessão de terapia com Bruno, um engenheiro de 30 anos, que a moça atende há cerca de cinco meses.

Logo após fechar a porta do consultório, a jovem se afunda na confortável poltrona de onde escuta seus pacientes.

Além de extremamente cansada, a terapeuta se sente incompetente, insegura, incapaz…

Nem parece aquela psicóloga otimista e autoconfiante que ela costuma encontrar quase todos os dias quando se olha no espelho de manhã antes de ir para o consultório.

“O que será que está acontecendo?” — é a pergunta que a jovem se faz enquanto sofre com a desagradável sensação de baixa autoestima.

Lembrando-se de uma aula que teve na faculdade sobre o conceito de autocompaixão, Fernanda começa a tentar ser compreensiva consigo mesma e pensa:

“Talvez eu esteja me cobrando muito. Só tenho um ano de formada. Ainda estou aprendendo a clinicar. Preciso deixar de ser tão exigente comigo mesma.”

Não funciona.

Aproveitando que terá um intervalo de 2 horas até o próximo paciente, ela decide estudar para ver se consegue tirar os pensamentos negativos da cabeça.

Aluna da CONFRARIA ANALÍTICA, a jovem mergulha numa aula especial em que eu falo sobre o conceito de IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA.

Enquanto assiste ao conteúdo, Fernanda vai se lembrando de como tem sido as últimas sessões com Bruno.

O engenheiro tem se apresentado cada vez mais arrogante e soberbo, passando boa parte do tempo falando sobre sua suposta inteligência acima da média e se queixando da incompetência dos colegas.

Articulando essa experiência clínica com o que está aprendendo na aula, a moça começa a pensar na hipótese de que, talvez, os sentimentos de insegurança e incapacidade que está vivenciando tenham sido, na verdade, projetados nela por Bruno.

Talvez, pensa Fernanda, eu esteja sendo induzida por esse paciente a viver a experiência emocional da qual ele se defende por meio da atitude de vanglória e ostentação.

Essa aula sobre IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA, que foi capaz de iluminar o olhar clínico da jovem terapeuta, estará disponível ainda hoje para quem, como ela, é aluno da CONFRARIA ANALÍTICA.


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