Não seja seu próprio carrasco (mas não pegue leve consigo mesmo)

Já ouviu falar em autocompaixão?

Esse termo designa basicamente uma atitude oposta ao excesso de autocobrança — queixa frequentemente encontrada nos consultórios de terapeutas atualmente.

Uma pessoa autocompassiva olha para si mesma de modo compreensivo e amoroso, ciente de que não é capaz de dar conta de tudo e de que pode cometer erros.

Em outras palavras, um indivíduo que desenvolveu a competência da autocompaixão NÃO PEGA PESADO CONSIGO MESMO.

Por outro lado, sujeitos que não são autocompassivos comportam-se como verdadeiros carrascos de si mesmos, fazendo-se cobranças exageradas e não admitindo nenhum tipo de falha.

Ajudar o paciente a desenvolver autocompaixão deveria ser um dos propósitos de qualquer tratamento psicoterapêutico, seja ele psicanalítico ou não.

Todavia, não devemos confundir autocompaixão com AUTOCOMPLACÊNCIA.

Não se cobrar de forma exagerada é diferente de pegar leve consigo mesmo.

Assim como o excesso de autocobranças, a autocomplacência também é um fator que contribui para a deterioração da saúde mental.

Há muitas pessoas, por exemplo, que permanecem presas a condições de adoecimento emocional porque não se dispõem a fazer o mínimo necessário para sair delas.

Volta e meia atendo jovens universitários que se queixam de uma suposta INCAPACIDADE de se concentrarem nos estudos em casa.

Quando eu pergunto se eles LUTAM contra a distração, a resposta é geralmente negativa.

Diante da DIFICULDADE de concentração, a pessoa simplesmente desiste de estudar. Ela não se ESFORÇA para retomar a atenção depois de momentos de distração.

O nome disso é AUTOCOMPLACÊNCIA, ou seja, uma propensão a exigir de si MENOS do que se é capaz de dar conta.

A concentração, por exemplo, assim como diversos outros aspectos do funcionamento psicológico, precisa de EXERCÍCIO para ser desenvolvida — e não exercício leve.

Você não se tornará fisicamente forte levantando pesos que não te causam nenhum desconforto.

Da mesma forma, não é possível conquistar uma saúde mental fortalecida pegando leve consigo mesmo e desistindo diante de qualquer mínimo obstáculo.

Seja autocompassivo, mas não seja autocomplacente.


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Apoio sem invasão: entenda o que é um ambiente suficientemente bom

Ao abordar o papel crucial do ambiente no desenvolvimento emocional, Winnicott introduziu a noção fundamental de “ambiente suficientemente bom”. De acordo com o autor, um contexto dessa natureza seria indispensável para a constituição de um indivíduo emocionalmente saudável. Vale assinalar que, do ponto de vista winnicottiano, todos nós possuímos tendências inatas para a conquista dos atributos que constituem a saúde psíquica. No entanto, tais tendências só podem fazer a passagem do estado de potência para a condição de ato (para utilizar uma terminologia aristotélica) se formos criados num ambiente suficientemente bom. Exemplificando: para Winnicott, todo o mundo nasce com a tendência para desenvolver a capacidade de se importar com os outros, ou seja, de não ser indiferente ao sofrimento alheio, por exemplo. No entanto, essa tendência pode não se concretizar ou se desenvolver de modo distorcido se o ambiente não facilitar a conquista dela.

Facilitar: essa é uma palavra que nos ajuda a entender o conceito de ambiente suficientemente bom. Trata-se de um contexto que facilita a expressão daquilo que já está potencialmente presente no sujeito. E o que significa facilitar? Ora, significa basicamente APOIAR SEM INVADIR. Uma empresa, por exemplo, facilita a vida de seus colaboradores quando lhes fornece os recursos e ferramentas necessários para a execução do trabalho, mas não os sufoca com excesso de regras e demandas. Da mesma forma, ao falar de um ambiente suficientemente bom, Winnicott está se referindo, principalmente, a pais que sustentam, suportam, asseguram seus filhos, mas, ao mesmo tempo, lhes oferecem o espaço necessário para que possam se expressar. Nesse sentido, uma mãe que negligencia a alimentação de seu filho é tão “insuficientemente boa” quanto uma que quer obrigar a criança a se alimentar o tempo todo.

Leia o texto completo clicando aqui.


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[Vídeo] Autoconfiança não é acreditar em si mesmo

Diferentemente do que se acredita, uma pessoa autoconfiante não acha que sempre pode vencer. Pelo contrário, ela sabe muito bem que pode fracassar, mas o forte desejo de acertar a torna capaz de correr o risco de errar. É essa intrepidez que diferencia os autoconfiantes dos inseguros.


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[Vídeo] Resista à tendência autoimune da alma

Quando passamos por experiências dolorosas, nossa alma tende a se comportar como o sistema imunológico nas doenças autoimunes.

Assista ao vídeo e me responda: você tem dificuldades para se APROPRIAR dos momentos de dor da sua história?


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Até quando você vai ficar só se criticando e ignorando seus pontos positivos?

Qual foi a última vez que você se elogiou?

Sim, qual foi a última vez que você olhou para si mesmo e reconheceu seus méritos, seu esforço, seus resultados, seus sacrifícios diários?

Ah, Lucas, mas eu não tenho nada para elogiar em mim. Não me considero competente, tenho defeitos morais, não me vejo como uma pessoa legal.

Será que você é essa tragédia mesmo ou será que o seu olhar está “viciado” pela autocrítica, esse movimento autopunitivo que você repete à exaustão desde criança?

Será mesmo que não há nada que você seja ou faz que mereça ser valorizado, reconhecido, elogiado?

Ontem eu atendi uma paciente e fiquei especialmente sensibilizado com o fato de ela não conseguir reconhecer o quanto vinha sendo forte, valente e esforçada no cumprimento de seus deveres profissionais.

Trata-se de uma pessoa extremamente comprometida em trabalhar da melhor forma possível, mas que vinha se sentindo diariamente insatisfeita consigo mesma. Sabem por quê? Porque, ao invés de reconhecer suas qualidades e méritos evidentes e indiscutíveis, ela ficava se comparando o tempo todo com a versão ideal e perfeita de si mesma que só existe na imaginação dela.

Por isso, recomendo a vocês o mesmo que recomendei a ela: parem de olhar para si mesmos buscando enxergar apenas imperfeições, insuficiências e falhas a serem corrigidas. Valorizem suas características positivas. Não espere que outra pessoa faça isso.

SEMPRE haverá alguma. Basta saber olhar. Basta retirar as viseiras diabólicas da autocrítica.

Ah, Lucas, mas mesmo tirando essas viseiras, eu ainda não consigo me ver de forma positiva. Continuo me achando uma péssima pessoa!

Ah, é? Então, pronto: valorize sua sinceridade.


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[Vídeo] Como se proteger de pessoas tóxicas (parte 02)

Continuando nossa aula sobre como se proteger de pessoas tóxicas, neste vídeo proponho duas estratégias para evitar que a convivência eventualmente inevitável com indivíduos tóxicos produza danos à sua saúde mental. Assista à aula até o final.

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[Vídeo] Como se proteger de pessoas tóxicas (parte 01)

Muita gente adoece psicologicamente por conviver com indivíduos tóxicos, ou seja, opressivos, controladores, manipuladores, agressivos etc. Neste vídeo você começará a aprender o que fazer para se proteger dos danos emocionais provocados por tais pessoas.

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[Vídeo] Fugir do sofrimento vai te levar para o BURACO

Você vive tentando evitar a todo o curso experiências de desconforto e sofrimento? Muitas pessoas abrem mão da liberdade e de oportunidades de crescimento porque não querem passar por momentos de dor. Se você é uma delas, precisa assistir a esse vídeo. Talvez você ainda não tenha percebido, mas, buscando não sofrer, pode estar se destruindo.

[Palestra completa] Caia no Real: a arte de viver sem expectativas

[Vídeo] Recado Rápido #07 – Agressividade é vida

Muitas pessoas acreditam que a agressividade é uma atitude a ser sempre evitada ou, no mínimo, dominada. Creem que um indivíduo psicologicamente maduro é aquele capaz de lidar com problemas e conflitos de forma não-agressiva. Em suma, associam sempre agressividade a violência e a descontrole emocional. Neste oitavo recado rápido, demonstro que a agressividade não possui apenas uma faceta destrutiva e que sua expressão pode ser sinal de saúde e não de adoecimento emocional.


Quem é do mar não enjoa

LeSphinxPara muitas pessoas, o conceito de saúde emocional está diretamente ligado ao sentimento de estar em equilíbrio do ponto de vista psicológico. Não por acaso, muitos autores definem o termo “crise” em psicopatologia como sendo a ocasião em que esse equilíbrio seria perdido. Nesse sentido, a capacidade de se manter em equilíbrio diante de situações que tendem a provocar instabilidade seria um forte indicador de saúde emocional. Por outro lado, as imagens que imediatamente nos vêm à cabeça quando pensamos em alguém “equilibrado” são as de uma pessoa ajustada à moral vigente, que cumpre seus deveres e se mostra impassível diante das mais diversas situações. Assim, a ideia de “equilíbrio emocional” quase sempre nos evoca imagens de pessoas chatas, sem graça ou pouco afetivas.

Creio que essa associação se deve ao fato de pensarmos intuitivamente no equilíbrio da mesma forma que nos acostumamos a pensar no conceito de saúde, a saber: de um ponto de vista negativo. Assim, como a saúde foi tradicionalmente concebida como ausência de doença, assim também o equilíbrio é tomado de forma imediata como ausência de instabilidades. O indivíduo equilibrado seria aquele que não se move, não se altera, não se afeta. Em suma, uma abstração.

Penso que o conceito de “equilíbrio emocional” só pode adquirir valor teórico e prático se for definido positivamente, a exemplo do que alguns teóricos fizeram com a noção de saúde. Enquanto a saúde era definida como ausência de doença ou ausência de anormalidades, não se podia definir ninguém como efetivamente saudável, na medida em que nenhum indivíduo concreto seria capaz de encarnar o ideal de um organismo sem nenhum tipo de alteração ou anormalidade. Atento a essa incoerência, o filósofo Georges Canguilhem ousou propor uma concepção positiva de saúde. Saudável, para Canguilhem, é aquele indivíduo que além de conseguir viver dentro das condições que o ambiente em que se encontra lhe impõe, possui a plasticidade suficiente para se adaptar a outros contextos. O filósofo, portanto, define saúde não como a ausência de doença, mas como a presença dessa capacidade ativa de adaptação.

Acredito que possamos utilizar esse mesmo procedimento para fazer com que o conceito de “equilíbrio emocional” não seja tomado como uma mera abstração idealizada ou como sinônimo de chatice. Para isso, devemos nos perguntar: como definir esse conceito positivamente? O que é uma pessoa emocionalmente equilibrada? Penso que para realizar essa tarefa, o poeta Martinho da Vila possa nos ajudar.

No seu primeiro disco, de 1969, Martinho canta o verso “Quem é do mar não enjoa”, que, aliás, é o título da música em que se encontra. Penso que essa frase curta e singela resume de forma brilhante os traços essenciais de um indivíduo emocionalmente equilibrado. Como se vê, o verso faz referência aos marinheiros, pescadores e demais pessoas que lidam com a vida em alto-mar. Qualquer pessoa que já esteve em alguma embarcação sabe que uma reação bastante comum nos primeiros dias de navegação é o enjoo produzido pelo balançar do barco no mar. Aqueles que precisam passar muito tempo navegando, pouco a pouco vão deixando de sentir esse enjoo, acostumando-se à instabilidade do “solo” no qual trafegam.

É interessante notar que, diferentemente do que ocorre com os navegantes eventuais, que deixam de sentir enjoo ao tomarem certos medicamentos ou ao retornarem para a terra firme, os chamados “homens do mar” aprendem a não sentir náuseas. Aprendem por meio da vivência contínua do balançar da embarcação. Eles não tomam pílulas para não experimentar a inevitável sensação de desequilíbrio e instabilidade provocada pelo movimento do mar. Essa agitação passa a fazer parte de seu cotidiano, de modo que o enjoo, fruto do descompasso entre a estabilidade da terra e a instabilidade do oceano, gradualmente desaparece.

Creio que a existência humana está muita mais próxima da experiência de navegação em um mar revolto do que de uma caminhada em terra firme. Talvez seja essa a razão pela qual a maioria de nós se apega tanto às rotinas e procedimentos burocráticos. Rotinas são rotas conhecidas, já trilhadas, que já não produzem o estranhamento (e o encantamento) que experimentamos diante de uma vereda desconhecida. A rotina faz a vida parecer um eterno passeio por ruas já percorridas. Com isso não estou fazendo uma apologia a uma vida completamente imprevisível, sem nenhum tipo de regularidade. Quero apenas revelar o desespero que pode estar por trás do apego que muitos de nós temos em relação às nossas rotinas. Trata-se, a meu ver, de um desespero equivalente ao enjoo que experimentam aqueles “que não são do mar” quando estão em uma embarcação. A rotina, nesse sentido, poderia ser vista como um remédio para eliminar o enjoo, ou seja, uma solução artificial para o desespero diante da instabilidade e imprevisibilidade do oceano existencial. Isso não significa que o indivíduo emocionalmente equilibrado seria aquele que não tem enjoos, ou seja, não sofre, não se exalta, não se afeta.

Assim como o marinheiro que no início de sua carreira padece diariamente com náuseas, mas que logo aprende a conviver com o balanço do mar, assim também o indivíduo emocionalmente equilibrado aprende que problemas, impasses, dores são inevitáveis na existência, mas que é possível sobreviver a elas. O desequilíbrio emocional estaria na incapacidade de suportar o vai-e-vem da vida. Desequilibrado não é quem eventualmente se exaspera, grita, chora diante das situações, mas aquele que é incapaz de se manter emocionalmente de pé perante as vicissitudes da existência, sonhando com uma vida firme, previsível, sem náusea e sem graça.