
Primeira coisa que você precisa saber: “objeto a” foi um conceito criado pelo psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981).
Segunda coisa que você precisa saber: o conceito de objeto a não possui um referente concreto, como o conceito de “garrafa”, por exemplo. Você pode olhar para uma Coca-Cola de 600ml e dizer: “Veja, eis uma garrafa”, mas não poderá fazer o mesmo com o objeto a. Não tem como ver, tocar ou experimentar o objeto a. Trata-se de um conceito ABSTRATO, como os números. Apesar de utilizar expressões como “Comprei cinco laranjas”, você nunca viu O NÚMERO 5 EM SI. Então, o conceito de objeto a precisa ser pensado com base nessa mesma lógica, combinado?
Beleza. Então, vamos lá:
Por que Lacan precisou criar o conceito de objeto a?
Há várias maneiras de responder a essa pergunta. Eu optarei pela que considero a mais simples: Lacan inventou o conceito de objeto a para nomear algo já presente na teorização freudiana.
Com efeito, Freud demonstrou que nossos impulsos (sexuais e agressivos) procuram ser satisfeitos, ou seja, descarregados. Para alcançar essa meta, eles UTILIZAM objetos, mas a natureza desses objetos é pouco relevante do ponto de vista deles. Tanto faz se for homem, mulher, comida, sapato. O mais importante para os impulsos é a obtenção de descarga.
Freud mostrou, portanto, que, embora precise haver objetos para que os impulsos possam ser satisfeitos, esses objetos são variáveis. Portanto, os impulsos não estão vinculados a objetos específicos, mas precisam de algo que exerça para eles a FUNÇÃO DE OBJETO. Pois bem! Olha aí: “objeto a” foi justamente o nome que Lacan deu para essa função, esse lugar, que pode ser ocupado pelos mais diversos objetos concretos.
É como se nossos impulsos fossem mendigos com uma latinha vazia na mão dizendo para o mundo: “Por favor, me deem qualquer coisa para encher minha latinha. Qualquer coisa serve desde que a preencha!”. A latinha, nessa analogia, seria o objeto a. É justamente por ele ser, tal como a latinha, um lugar virtualmente vazio que faz nossos impulsos serem atiçados. Por isso, Lacan dizia que o objeto a é a causa do desejo.
Esta singela postagem ajudou você a compreender esse conceito?
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Oi Lucas. Ao ler seu maravilhoso texto fiquei com uma dúvida:
“É como se nossos impulsos fossem mendigos com uma latinha vazia na mão dizendo para o mundo: “Por favor, me deem qualquer coisa para encher minha latinha. Qualquer coisa serve desde que a preencha!” A latinha, nessa analogia, seria o objeto a.” Eu havia entendido que o que se põe dentro da latinha seria o objeto a, e não a latinha propriamente dita. Se a latinha é o objeto a, qual nome que se dá para o que se põe dentro da latinha?
Obrigada!!!
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Oi, Katia! Esse é um mal-entendido muito comum. Na verdade, o objeto a é o objeto que causa o desejo e não aquele que satisfaz o desejo temporariamente. O que se põe dentro da latinha são justamente os objetos do mundo, que proporcionam uma satisfação sempre efêmera e que nós buscamos incitados pela “provocação” do objeto a. Grande abraço!
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Muito obrigada Lucas. Você é fantástico!!
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Valeu, Kátia!!
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Obrigada por esta explicação sobre o objeto a. Amei!
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