
No último fim de semana eu estava assistindo à série “Quem matou Sarah?” que gira em torno da morte de uma adolescente ocorrida há 18 anos durante uma tarde de diversão com seus amigos.
Ao longo dos episódios, frequentemente aparecem cenas do dia em que a garota teria morrido nas quais seus amigos filmam com uma câmera de vídeo os momentos de alegria do passeio.
Em certo momento, diante de uma dessas cenas, comentei com minha esposa: “Se esse passeio tivesse acontecido nos dias de hoje, eles não estariam filmando, mas fazendo stories e postando no Instagram.”.
Com efeito, na época em que Sarah supostamente morreu, ainda não haviam redes sociais. Todavia, as pessoas também fotografavam e filmavam momentos importantes de suas vidas.
Por que o faziam?
A resposta é simples: para “guardar de recordação”. A gente registrava situações e ocasiões que considerávamos relevantes para, no futuro, podermos recorrer a esses arquivos e relembrarmos aqueles momentos especiais.
Percebe? Nós gravávamos eventos para nós mesmos e para pessoas significativas com quem gostaríamos de compartilhar aquelas memórias. Não nos preocupávamos com o fato de ninguém mais ficar sabendo, além de nós mesmos, nossa família ou amigos.
O valor estava na experiência em si mesma e não no olhar dos outros sobre essa experiência.
É impressionante e, ao mesmo tempo, interessante observar como isso mudou com o sucesso das redes sociais, em especial o Instagram. Pouco a pouco fomos nos acostumando a substituir o desejo de “guardar para recordação” pela vontade de “postar para repercussão”.
Ao contrário do que imaginavam os criadores desta plataforma, as pessoas não postam fotos e vídeos apenas com o objetivo de compartilharem momentos com seus amigos, mas, fundamentalmente, para SEREM VISTOS por eles. É diferente…
O valor da experiência dá lugar ao gozo com a IMAGEM que essa experiência terá aos olhos do outro.
Tanto é que há pessoas que se sentem frustradas quando, por alguma razão, não conseguem postar stories em uma festa ainda que a experiência tenha sido extremamente satisfatória.
Você já havia se dado conta dessa mudança radical na maneira como lidamos com os registros de nossas experiências?
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