
A necessidade é um anseio de natureza biológica por objetos ou experiências que não podem faltar, que são imprescindíveis para a sobrevivência.
Pense, por exemplo, na necessidade que temos de alimento e de sono.
Para entender mais facilmente o que é a demanda, trabalhe com um sinônimo dessa palavra: o termo PEDIDO.
Um pedido é algo que necessariamente depende da linguagem. A necessidade, não. A necessidade é biológica, vem do corpo.
Um pedido, por sua vez, é algo que só pode ser feito se eu conseguir construir um enunciado baseado num certo código. Não qualquer código, mas o código conhecido pela outra pessoa à qual dirijo meu pedido.
Ou seja, para que o outro atenda a minha demanda, eu preciso necessariamente me submeter ao código dele.
Ora, é exatamente isso o que acontece conosco quando somos bebês. A gente nasce e já vem “de fábrica” com necessidades. No entanto, a gente não consegue satisfazer essas necessidades por conta própria. Precisamos necessariamente dos nossos pais.
No início, eles até saciam nossas necessidades sem que a gente tenha que pedir. Todavia, com o passar do tempo, a gente tem que começar a demandar.
E, para demandar, a gente precisa necessariamente aprender a língua dos pais.
Ou seja, a partir de um certo momento, precisamos “traduzir” nossas necessidades em pedidos, em demandas.
Isso introduz uma novidade: ao articularmos nossas necessidades na forma de demandas, passamos a ansiar não só pelo alimento ou pelo sono, mas também pela COMPREENSÃO dos nossos pais.
Em outras palavras, a gente passa a não querer só a comida em si, por exemplo. Quando o bebê pede comida e a mãe traz, esse ato da mãe de ir até ele acaba sendo vivenciado como um signo de amor: “Mamãe me compreende, mamãe me ama”.
Por isso, Lacan dizia que, no fim das contas, toda demanda é demanda de amor. Ou seja, a gente pede coisas, mas o que verdadeiramente queremos não é só a coisa, mas O SIGNIFICADO DE AMOR que supomos estar em jogo quando o outro nos atende.
Só que tem um problema…
No processo de “traduzir” nossas necessidades de acordo com o código do outro, inevitavelmente ALGO QUE PERDE.
É o que acontece em toda tradução: por mais que o tradutor se esforce, a palavra escolhida nunca corresponde exatamente ao termo original que está sendo traduzido.
Da mesma forma, quando o bebê articula sua necessidade de comida, por exemplo, na forma de um pedido à mãe, o enunciado que ele produz não corresponde EXATAMENTE à sua necessidade.
Por isso, na hora que a mãe vem e dá o alimento ao bebê, ele se sacia, se sente amado, mas alguma coisa fica faltando; parece que não é o suficiente.
Essa sensação de que algo está faltando, algo que, como dizem Clarice Lispector e Chico Buarque “ainda não tem nome e nem nunca terá” é o tal do… DESEJO.
Mas sobre ele a gente fala em outro momento.
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