
Uma boa forma de entender a diferença entre essas duas categorias é pensando o pequeno outro como uma PESSOA QUALQUER e o grande Outro como uma instância (não necessariamente uma pessoa) que exerce sobre você uma função de DETERMINAÇÃO.
Pense, por exemplo, nas relações diferentes que uma criança normalmente tem com seus pais e seus irmãos.
Com os irmãos, a relação costuma ser DE IGUAL PARA IGUAL. A criança não dá um peso especial ao que eles dizem. São, portanto, pequenos outros para ela.
Já com os pais, a coisa é bem diferente. Eles podem falar exatamente a mesma coisa que os irmãos, mas o efeito da palavra parental sobre a criança é bem mais significativo.
Quando isso de fato acontece, os pais estão funcionando para a criança como grande Outro.
O pequeno outro é aquele cuja palavra não faz muita diferença na minha vida.
E não faz diferença porque, no fim das contas, as pessoas que estão nessa posição funcionam basicamente como extensões ou projeções de nós mesmos.
Se o que elas falam vai ao encontro do que já pensamos, ótimo. Se não, a gente se irrita, briga ou simplesmente deixa para lá.
Quando estamos lidando com pequenos outros todo o nosso esforço vai na direção do apagamento das diferenças, ou seja, a gente quer que a pessoa continue sendo tão-somente um SEMELHANTE e não um outro de verdade.
Com o grande Outro a relação é diferente.
No sentido estrito, o grande Outro designa o conjunto das instâncias que determinam a nossa existência a despeito da nossa vontade.
Pense, por exemplo, na nossa língua materna, nas estruturas sociais, na cultura, enfim… Todas essas coisas que necessariamente MOLDAM a nossa vida.
Mas não são só tais instâncias que exercem sobre nós esse impacto “modelador”.
Quando uma mãe, por exemplo, interpreta o choro de seu bebê dizendo: “Neném tá com fome.” ela está, de certa forma, moldando a criança com seu discurso.
Portanto, ela está exercendo a função de grande Outro para o bebê naquele momento.
Essa é a principal diferença: a palavra do grande Outro marca, determina, condiciona ao passo que o que o pequeno outro diz sempre passa pelo filtro EGOICO.
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Gostei da explicaçã. Bastante clara, direta e resumida. Freud e Lacan são autores pródigos, densos e por vezes contraditórios, mas exatamente por estarem criando um novo saber. Assim é bom ler um comentarista gabaritado. Parabéns.
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Valeu, Alcir! Grande abraço!
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