
Volta e meia a gente vê no noticiário que determinada pessoa seria o “laranja” de certo político ou empresário.
No Brasil, o termo “laranja” é usado para designar um sujeito que, de forma voluntária ou involuntária, empresta seu nome para figurar no lugar de alguém que deseja ocultar a própria identidade.
Um vereador, por exemplo, que adquiriu uma casa na praia com dinheiro de corrupção, pode colocar o imóvel no nome de um parente semianalfabeto.
Assim, quem figurará formalmente como dono da casa será o familiar, isto é, o laranja, e não o político, que poderá usufruir tranquilamente do imóvel sem ser questionado pela Justiça.
Mas você acredita que um processo bem parecido de ocultação e substituição de identidade também acontece em nossa própria mente?
Pois é! Quem nos apresentou cientificamente essa descoberta foi o nosso querido Sigmund Freud.
Ele observou que seus pacientes que sofriam de neurose obsessiva — doença que hoje em dia é chamada de “TOC” (transtorno obsessivo-compulsivo) — tinham o que a gente poderia chamar de PENSAMENTOS LARANJAS.
No nosso exemplo, o parente do vereador é colocado na escritura da casa de praia como dono do imóvel para ocultar o nome do verdadeiro proprietário, certo?
Então… Da mesma forma, um pensamento obsessivo fica perturbando a consciência do neurótico para esconder OUTRO PENSAMENTO — muito mais perturbador.
Por exemplo: João ficou extremamente preocupado com o fato de ter cometido um erro ortográfico num e-mail que enviou para seu diretor.
A obsessão com esse pequeno deslize foi tão grande que ele não conseguiu dormir e, no meio da madrugada, pegou o celular para enviar um novo e-mail com a “errata”.
Fazendo Psicanálise, o moço acabou descobrindo que, na verdade, essa preocupação exagerada com a correção ortográfica era só um DISFARCE para ocultar OUTRO MEDO:
O medo de que o chefe soubesse do seu ressentimento em relação a ele.
De fato, apesar de interagir com o diretor com toda a gentileza e educação, o rapaz passou a odiá-lo depois de receber um feedback negativo em relação a seu desempenho no último semestre.
O problema é que João nunca APRENDEU a odiar. Seu pai era tão truculento e autoritário que o rapaz sempre teve medo de expressar agressividade e acabar apanhando.
Por isso, embora realmente sinta raiva do chefe, ele não consegue lidar com essa emoção de maneira natural e tem um medo enorme de que o diretor perceba como se sente.
Assim, todo e qualquer ato que, na cabeça de João, possa ser visto como indicativo de sua hostilidade, passa a ser temido pelo rapaz.
Esse foi o caso do o erro ortográfico no e-mail.
O pensamento “Meu chefe vai achar inadmissível eu ter cometido esse erro” serviu como “laranja” para o pensamento:
“O diretor vai pensar que eu estou lhe enviando e-mails de forma descuidada e, assim, vai acabar descobrindo que estou com raiva dele.”
E você: consegue identificar a presença desses pensamentos laranjas na sua própria vida?
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