“Se não posso odiar o outro, odiarei a mim mesmo.”: a depressão neurótica

Existem dois tipos básicos de depressão.

Um deles se caracteriza pelo EXCESSO (a depressão neurótica) e o outro pela FALTA (a depressão narcísica).

No primeiro, encontramos um excesso… de ÓDIO.

Sim, há muitas pessoas que se deprimem porque ODEIAM DEMAIS certas figuras de sua história.

Aí você me pergunta:

— Mas, Lucas, como assim? Quando eu olho para uma pessoa deprimida, só vejo tristeza e desânimo. Onde é que está esse ódio?

Justamente na tristeza e no desânimo, uai!

Na depressão neurótica, o sujeito adoece porque não dá conta de suportar a consciência de que tem tanto ódio dentro de si.

E por que não dá conta?

Pode ser que essa pessoa teve uma criação muito repressora, que a levou a avaliar o ódio como algo essencialmente ruim e perigoso, que precisa ser recalcado.

Pode ser também que, paradoxalmente, ela ame muito as figuras que odeia e, querendo proteger esse amor, acabe reprimindo sua hostilidade.

Seja qual for o motivo, ao não encontrar espaço na consciência, o ódio pelo outro pode se transformar em ódio POR SI MESMO.

É como se o sujeito oferecesse o próprio Eu como objeto de satisfação para os impulsos hostis que originalmente estavam direcionados a outras pessoas.

O excesso de tristeza, desânimo e, principalmente, culpa que caracteriza a depressão neurótica é a expressão visível de um processo interno de AUTO-AGRESSÃO.

Se não posso odiar o outro porque o amo e/ou porque não me permito sentir ódio, odiarei a mim mesmo — esse é o raciocínio inconsciente do deprimido neurótico.

Em casos mais graves, o sujeito pode chegar a tentar tirar a própria vida, devido à fraqueza do seu Eu, que não consegue suportar sequer o ódio por si mesmo.

O tratamento da depressão neurótica deve ter dois objetivos complementares:

(1) Analisar e desfazer as resistências que impedem a pessoa de fazer contato com o ódio reprimido a fim de tornar o Eu permeável a essa experiência emocional.

(2) Fortalecer o Eu do paciente a fim de capacitá-lo a suportar a consciência do ódio e encontrar recursos psíquicos mais saudáveis e maduros para lidar com esse afeto.

Sobre a depressão narcísica, o segundo tipo que mencionei no início, falarei num próximo texto.


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