
Originalmente, o termo “narcisismo” foi empregado por psiquiatras do século XIX para nomear uma experiência εróticα atípica.
Nela, o sujeito, ao invés de se relacionar com outras pessoas, buscaria satisfação sεxuαl por meio da contemplação de si mesmo e do toque no próprio corpo.
Em 1914, Freud ressignificou o conceito, dando a ele um sentido metapsicológico:
Narcisismo designaria o investimento de libido (energia psíquica sεxuαl) no próprio Eu, ou seja, um processo normal e, inclusive, prevalente no início da vida.
Trocando em miúdos, em Freud o narcisismo deixou de ser pensado como uma pεrvεrsão e passou a ser concebido como um aspecto estrutural da subjetividade.
O problema é que, com o passar do tempo, o termo foi empurrado de volta para o campo da patologia.
Muitos psicanalistas contribuíram para isso ao falarem de narcisismo em seus textos num tom pejorativo, como se ele fosse uma falha moral.
Façamos essa mea culpa.
Além disso, autores de fora da psicanálise começaram a usar a expressão, também de modo depreciativo, transformando-a, aos poucos, em outra coisa.
Por essa razão, o que se fala hoje em dia, principalmente na internet, sobre “narcisismo” e “narcisistas” nada tem a ver com o que Freud formulou.
Do ponto de vista psicanalítico, narcisismo não é patologia.
Nem pecado.
Um sujeito que ama o próprio Eu não está errado nem doente.
Pelo contrário!
Uma pessoa que direciona pouca libido para si mesma é que está em maus lençóis.
Afinal, se o Eu não é suficientemente bem investido, sobra energia em excesso que será canalizada para outras pessoas.
E isso pode levar o sujeito a ficar excessivamente dependente e submisso aos caprichos de quem ama.
É claro que o EXCESSO de narcisismo também é patológico.
Mas a clínica mostra que esse cenário paradoxalmente aparece como defesa contra uma falta de narcisismo saudável.
Em outras palavras, o sujeito precisa acreditar que é o MÁXIMO porque sua história de vida o levou a se sentir, no fundo, como o MÍNIMO.
Espero que passe logo essa moda de “narcisismo pra cá, narcisista pra lá” e possamos voltar a usar o conceito em paz.
Participe da CONFRARIA ANALÍTICA, uma comunidade exclusiva, com aulas semanais ao vivo comigo, para quem deseja estudar Psicanálise de forma séria, rigorosa e profunda.
➤ Adquira o meu ebook “Entenda-se: 50 lições de um psicanalista sobre saúde mental”
➤ Adquira o meu ebook “Psicanálise em Humanês: 16 conceitos psicanalíticos cruciais explicados de maneira fácil, clara e didática”
➤ Adquira o meu ebook “O que um psicanalista faz?”
➤ Adquira o pacote com os 3 e-books