
Muita gente imagina que o principal objetivo da terapia psicanalítica é promover mudanças no comportamento do paciente.
Faz sentido pensar assim. Afinal, via de regra as pessoas procuram ajuda psicoterapêutica quando estão insatisfeitas consigo mesmas e desejam mudar.
No entanto, diferentemente do que acontece em outras modalidades de psicoterapia, na Psicanálise nós não tomamos a demanda consciente e expressa pelo paciente de forma acrítica. Em outras palavras, não é porque o sujeito nos diz que deseja deixar de ser tímido que o analista estabelecerá como objetivo do tratamento reduzir a timidez dessa pessoa.
Na Psicanálise, não vale o velho jargão comercial: “Seu pedido é uma ordem!”.
Uai, Lucas, mas como assim? O paciente não sabe o que precisa ser mudado?
Frequentemente, não. Isso acontece porque naturalmente nós não temos consciência da maior parte dos fatores que influenciam nosso comportamento e, consequentemente, formatam nossas ideias acerca do que precisa ser mudado em nós.
Assim, é bem possível que o rapaz que chegue ao analista dizendo que quer deixar de ser tímido possa estar formulando essa demanda em função do que ele tem ouvido desde criança da boca de seu pai: “Você precisa ser mais pra frente!”, “Desse jeito você nunca vai conseguir transar!”, “Pare de ser tão retraído!”.
Percebe? O desejo de ser extrovertido não é do paciente, mas de seu pai. Portanto, ao questionar a demanda inicial desse sujeito, o analista pode ajudá-lo a se dar conta de que não é ele efetivamente quem almeja deixar de ser tímido.
Ah, Lucas, mas a timidez não é um problema em si mesmo? O certo não seria mesmo esse rapaz deixar de ser tímido?
Sim, seria certo… do ponto de vista do ideal do pai dele!
Como em Psicanálise a gente não fica tentando encaixotar o sujeito em ideais de saúde, sucesso e felicidade, um trabalho verdadeiramente analítico com esse paciente iria na direção de ajudá-lo a compreender as razões pelas quais ele assumiu a timidez como posição diante da vida. Que fantasia estaria na base desse modo de ser?
Dessa forma, o sujeito estaria em melhores condições para decidir se quer manter-se nessa posição ou se deseja dar outro destino à fantasia subjacente a ela.
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