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Se queremos que o campo da saúde mental seja realmente levado a sério pelo conjunto da sociedade, precisamos rever nossas práticas.
Como levar a sério um campo no qual categorias psicopatológicas são tratadas em vídeos e podcasts como se fossem signos do horóscopo?
“Como descobrir se o seu namorado é narcisista”
“Como saber se tenho TDAH? (Teste rápido)”
“A pessoa com bipolaridade precisa fazer isso para ficar bem”
Como levar a sério um campo em que diagnósticos são feitos em uma única consulta de 15 ou 20 minutos?
Todos nós estamos de acordo que transtornos psicológicos são fenômenos EXTREMAMENTE complexos, certo?
Mas, se isso é verdade, como um profissional de saúde mental é capaz de afirmar categoricamente que uma pessoa tem depressão escutando-a por menos de uma hora?
A minha impressão é a de que muitos psicólogos e psiquiatras entendem que aguardar um bom tempo antes de formularem um diagnóstico é sinal de incompetência.
Assim, na ânsia de “mostrarem serviço” para seus pacientes, saem etiquetando-os de forma completamente irresponsável e tecnicamente equivocada.
Para esses supostos profissionais, diagnosticar um transtorno mental consiste simplesmente em correlacionar a fala do paciente com descrições do DSM-V.
Isso é ridículo!
Sinceramente, um bom astrólogo faz um trabalho mais consistente e sério ao construir o mapa astral de uma pessoa.
Um dos resultados desse trabalho porco e superficial de distribuição massiva de diagnósticos é o apagamento da subjetividade do paciente.
“Sabe por que você é assim? Por causa do TDAH.”, dirá aquele psiquiatra, se deliciando com o lugar de sujeito suposto saber e ignorando completamente a história da paciente.
E aí, ao invés de sair da consulta se questionando, refletindo, com desejo de se compreender, aquela moça chegará em casa silenciada por um rótulo psiquiátrico.
Como levar a sério um campo no qual sujeitos com histórias complexas e multifacetadas são reduzidos a siglas repetidas como se fossem palavras mágicas?
TAG, TOD, TAB, TEA
Desculpem o tom de desabafo, mas é vergonhoso o que se tem feito em “saúde mental” no Brasil.
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No dia 01 de junho, convidado pela Casa Unimed de Governador Valadares (MG), proferi a conferência “Diagnóstico Diferencial: Neurose/Psicose” no Seminário “Os Desafios da Saúde Mental na Modernidade: Diálogo entre a Psicologia e a Psiquiatria”. Em deferência àqueles que não puderam comparecer ao evento, publico abaixo o áudio completo da palestra.
Antes de elaborar o método de tratamento das neuroses que viria a chamar de Psicanálise, Freud, juntamente com seu então amigo Josef Breuer, fazia uso da hipnose como forma de curar suas pacientes histéricas. Podemos, pois, dizer que os dois médicos encontravam-se naquele momento em pé de igualdade quanto aos meios de acesso ao mistério chamado histeria.
Apesar disso, logo surge um desnível entre os dois homens em virtude das respostas dadas por cada um deles à pergunta: “Por que a histérica não consegue se lembrar da ocasião em que surgiram seus sintomas ou por que ela só o faz em hipnose?”.
Breuer, como respeitado médico que era, não conseguiu se desvencilhar da hipótese mais óbvia para os médicos, a orgânica. Então disse: “A histérica não consegue se lembrar da ocasião em que surgiram seus sintomas porque nessa ocasião ela não se encontrava completamente consciente, ela estava com sono ou muito cansada. Assim, a lembrança dessa situação ficou separada do resto das suas repesentações mentais – por isso ela não consegue lembrar. E só pode lembrar em hipnose porque o estado hipnótico é parecido como o estado em que ela estava na ocasião em que surgiram os sintomas.” A esses estados de sono e cansaço que se assemelham à hipnose, Breuer chamou de “estados hipnóides”.
Já Freud, como jovem médico que era e não tão ingênuo quanto Breuer, preferiu prestar menos atenção no preconceito organicista do que na fala das pacientes. E é então que ele formula a hipótese que se tornaria a pedra angular da Psicanálise, a hipótese já tão falada aqui chamada “recalque”. Sua resposta à pergunta inicial então é: “A histérica não consegue se lembrar da ocasião em que surgiram seus sintomas porque ela definitivamente não quer se lembrar delas. E por que não quer? Porque elas lhe trazem sofrimento. E por que trazem sofrimento? Porque essas lembranças mostram os mais íntimos desejos da histérica e dos quais ela nada quer saber porque eles manchariam a imagem perfeita que ela nutre de si mesma. Essas lembranças, então, foram reprimidas por ela, instalando uma divisão na sua vida mental entre uma parte consciente e outra inconsciente.”
Com essa resposta, Freud ao mesmo tempo em que mostra que o ser humano é fundamentalmente dividido, evidencia também a presença do sujeito no organismo. Mais: Freud mostra que por trás do sofrimento do qual a paciente se queixa há um desejo, ou seja, a doença neurótica não é só algo que a pessoa sofre, mas que a própria pessoa produz – o paciente é responsável por seu sofrimento.
Apesar de há mais 150 anos Freud ter dito tudo isso, a Psiquiatria de hoje ainda insiste em sustentar posições caducas semelhantes às de Breuer, ao dizer por exemplo, que a depressão é apenas um funcionamento desregular do circuito serotoninérgico. Com isso, todo o tratamento passa a ser apenas questão de entupir a boca do paciente com os Prozacs da vida, para que ele não fale e, por conseguinte, não pense sobre o que aconteceu em sua vida que o fez ficar melancólico, ou melhor, o que ele fez para ficar melancólico.
Paradoxalmente, são posturas como essa que fazem a Psicanálise sobreviver, como sempre marginalmente. Por que por mais que a fluoxetina regule os níveis de serotonina no organismo, ela jamais reorganizará os significantes que determinam a vida de uma pessoa. Para esse tipo de desordem, senhoras e senhores, até hoje há apenas um remédio – e foi Freud quem o inventou…