
Podemos distinguir dois aspectos no amor: o desejo e o apego.
Por um lado, dizemos que amamos alguém ou algo quando queremos nos aproximar desse objeto e tê-lo conosco. Essa é a faceta desejante do amor. Para que ela se manifeste, precisa haver uma LACUNA entre o sujeito amante e o objeto amado, ou seja, é preciso que o objeto FALTE ao sujeito. Só desejo comer uma picanha quando não estou com ela diante de mim, evidentemente.
Muitas pessoas se equivocam imaginando que o amor se resume a esse movimento desejante. Assim, acreditam que o amor se esvai quando o desejo desaparece. Tais pessoas não conseguem perceber que o apagamento do desejo é uma consequência natural e inevitável ocasionada pela presença constante do objeto. Se elas se desesperam ou se entristecem ao notarem que o desejo se dissipou é porque não conseguem discernir com clareza a outra dimensão do amor: o APEGO.
Diferentemente do desejo, o apego não nasce da falta, mas justamente da PRESENÇA do objeto. Só nos apegamos àquilo que temos. Adriana era ávida por Lourival antes de namorá-lo. Após cinco anos de relação, essa avidez desejosa já não existe mais. No entanto, Adriana sofreria se fosse deixada por Lourival. Essa provável dor é a marca de que a jovem o ama apesar de não mais desejá-lo com o vigor de outrora. Adriana é apegada ao objeto presente que hoje está ao seu lado e que no passado lhe faltava.
Compreender que o amor se manifesta tanto como desejo pelo que não temos quanto como apego pelo que temos é uma daquelas conquistas que tornam a vida bem menos complicada.