Desabafo não é terapia: entenda por que Freud abandonou o método catártico

Desabafo não é tratamento. Foi por se dar conta disso que Freud abandonou o método catártico. Lucas, mas o que é esse tal de método catártico de que você fala?

Vamos lá: no final do século XIX, Freud, um jovem neurologista que desejava ser pesquisador universitário, começou (meio a contragosto) a atender pacientes com o objetivo de fazer algum dinheiro. Com efeito, o pobre rapaz queria desposar sua amada Martha Bernays.

Um amigo e colega mais experiente chamado Josef Breuer, cuja clínica já era bastante reconhecida e bem-sucedida na Viena dos anos 1890, vinha experimentando um novo método de tratamento da histeria, baseado na aplicação da famigerada técnica da hipnose.

O tal método consistia em hipnotizar o paciente histérico e, durante esse estado de consciência rebaixada, exortar o doente a se lembrar e relatar as ocasiões exatas em que seus sintomas haviam aparecido. Quando o paciente conseguia fazer isso, o resultado era uma explosão emocional, indicando que a narrativa dos episódios que estavam na origem dos sintomas possibilitava a DESCARGA de sentimentos que estavam represados na mente do paciente. Não por acaso, após tais relatos acompanhados desses arrebatamentos emocionais, o paciente se via livre do sintoma que estava sendo investigado.

Eis, portanto, o método catártico. Esse termo foi cunhado por Breuer e Freud tomando como referência o termo “catarse”, de origem grega (“kátharsis”) e que designa a ideia de purificação ou purgação. Num sentido metafórico, o método inventado por Breuer levava o paciente a se “limpar” das “sujeiras” emocionais que ele vinha inconscientemente guardando.

Influenciado por Breuer, Freud inicialmente também experimenta o método catártico com seus pacientes histéricos e conquista muitos êxitos. Contudo, por não se considerar um hipnotizador muito bom e, principalmente, por se dar conta de que as melhoras obtidas por seus pacientes não se mantinham com o passar do tempo, o fundador da Psicanálise decide abandonar tanto a hipnose quanto o método criado por Breuer.

Freud se dá conta de que o método catártico possibilita que o paciente “coloque para fora” os sentimentos que lá atrás haviam sido sufocados, mas não ajuda o paciente a discernir os motivos pelos quais essa repressão havia acontecido. É por isso que a pessoa voltava a adoecer: com efeito, diante de novos desafios emocionais, o paciente voltava a utilizar a mesma estratégia defensiva do passado que havia dado origem aos antigos sintomas.

Além disso, Freud percebe também que não era necessário hipnotizar o doente para ter acesso à dimensão inconsciente da psique dele. Bastava exortar o paciente a falar de forma espontânea tudo o que lhe viesse à cabeça. É essa nova técnica, a associação livre, que estará na base do novo método terapêutico, desta feita inventado por Freud, denominado Psicanálise.

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