
O psicanalista Karl Abraham, contemporâneo de Freud, escreveu o seguinte, em 1911, no artigo “Notas sobre a investigação e tratamento psicanalíticos da insanidade maníaco-depressiva e condições relacionadas”:
“Todo estado neurótico de depressão, assim como todo estado neurótico de ansiedade, com o qual se encontra intimamente relacionado, contém uma tendência para negar a vida”.
Esse é o arremate final de uma breve meditação que Abraham faz sobre a gênese da ansiedade neurótica e da depressão.
Ao tratar da primeira, ele recorre à tese original que Freud propôs para explicar os estados ansiosos de caráter patológico:
A tese de que a ansiedade neurótica seria resultante de uma repressão dos impulsos.
A experiência clínica do pai da Psicanálise mostrou a ele que, ao erguerem dentro de si rígidas barreiras contra os próprios impulsos, os neuróticos passam a encará-los como ameaçadores e perigosos e, desta forma, se sentem ansiosos.
Podemos dizer, então, que um estado neurótico de ansiedade brota de uma defesa contra a própria espontaneidade e, portanto, contra a vida.
Quanto à depressão, Abraham propõe uma tese inspirada nas ideias de Freud sobre a melancolia:
Uma pessoa se deprime quando, ao invés de reprimir seus impulsos, simplesmente desiste de tentar satisfazê-los.
Devido a uma dificuldade particular de reconhecer a presença do ódio e da agressividade dentro de si, o deprimido não se sente amado, por um lado e, por outro, se sente incapaz de amar.
Projetando sua agressividade no outro, ele se sente alvo da hostilidade alheia.
Ao mesmo tempo, com medo de acabar expressando seu ódio na relação com o outro, o deprimido tira o seu time de campo e desiste de amar.
Vemos que tanto na ansiedade neurótica quanto na depressão, o resultado, como diz Abraham, é uma negação da vida em toda a sua pulsação e intensidade.
O ansioso nega a vida estabelecendo uma ditadura moralista no interior de si mesmo.
O deprimido nega a vida desistindo de entrar em campo pelo medo de se machucar e de fazer falta no adversário.
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