No fundo a gente tem tesão pelo superego

Em uma de suas “Novas Conferências Introdutórias sobre Psicanálise” intitulada “A Dissecção da Personalidade Psíquica”, Freud diz o seguinte:

“Abandonando o complexo de Édipo, uma criança deve, conforme podemos ver, renunciar às intensas catexias objetais que depositou em seus pais, e é como compensação por essa perda de objetos que existe uma intensificação tão grande das identificações com seus pais, as quais provavelmente há muito estiveram presentes em seu ego”.

Esse trecho se encontra na parte do texto em que Freud está explicando como se desenvolve o superego.

Quero destacar uma ideia que o autor está apresentando ali e que muitas vezes não recebe a devida atenção quando estamos falando da nossa relação com o superego.

Freud está sustentando nesse trecho que o superego, isto é, a parte do nosso eu que nos observa, nos julga e eventualmente nos pune com o sentimento de culpa, surge, pelo menos em parte, como uma COMPENSAÇÃO pela saída do Édipo.

Em outras palavras, um dos fatores que nos levariam a trazer para dentro de nós (na forma do superego) o monitoramento, as proibições e coerções de nossos pais, seria o fato de não podermos continuar tomando-os como objetos sexuais.

É como se, na formação do superego, a criança dissesse para si: “Já que não posso tê-los como objetos, vou me identificar a eles. Dessa forma, consigo mantê-los para sempre dentro de mim”.

Essa formulação deveria nos fazer enxergar com outros olhos a relação que temos com o superego.

Se ele é, em alguma medida, uma compensação pelo abandono do vínculo incestuoso com os pais, isso significa que, no fundo… a gente tem tesão pelo superego.

Na verdade, isso não deveria nos surpreender tanto visto que, se o superego é “eficaz” em sua tarefa de nos manter “na linha”, é justamente porque gozamos com a obediência a ele.

Para Freud, o fator que leva a criança a submeter-se às coerções de seus pais é o medo de perder o amor deles.

Da mesma forma, quando adultos, não queremos perder o amor do superego, que nada mais é do que papai e mamãe internalizados.

Por isso, podemos nos satisfazer masoquisticamente com a renúncia a certos desejos e até com o sentimento de culpa.

Tudo em nome da nostalgia do amor edipiano…


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