Bora entender as diferenças entre Real, Simbólico e Imaginário?

Um bom exercício intelectual que ajuda a gente a entender os três registros da experiência humana propostos por Lacan (Real, Simbólico e Imaginário) é o seguinte:

Imagine uma estante que contém 100 livros.

Se eu retiro um livro, a estante fica incompleta?

Sim e não.

Do ponto de vista do Real, a estante não está incompleta.

— Uai, Lucas, como não? Ela agora está com 99 livros. Tá faltando 1, sô!

Veja: o máximo que eu posso dizer, levando em conta apenas o registro do Real, é que a estante está DIFERENTE de como estava antes, que houve uma pequena mudança na sua configuração.

Mas incompletude e completude são IDEIAS e não fatos.

E ideias são sempre RELATIVAS.

Relativas a outras ideias (olha o significante aí, gente!).

Um aluno, por exemplo, pode considerar sua resposta à questão de uma prova como COMPLETA, ao passo que o professor pode avaliá-la como INCOMPLETA.

Percebe?

Vai depender do REFERENCIAL de completude com o qual você está trabalhando.

E esse referencial não está no Real. Está “na sua cabeça”, no… SIMBÓLICO.

A estante não está dizendo: “Estou incompleta. Traga minha parte faltante de volta.”

É a gente que ENXERGA a falta porque, na nossa cabeça, DEVERIAM existir 100 livros e não 99.

Entendeu?

No Real não existe falta nem completude. O Real é o que é.

É só a partir do momento em que eu introduzo SÍMBOLOS na minha relação com o Real (como os números, por exemplo) que eu passo a ver falta e completude.

Tanto é assim que, se eu não souber que alguém tirou um livro da estante e não contar o número de livros, talvez eu ache que a estante está completa.

É aí que a gente chega no registro do Imaginário.

Estamos no Imaginário justamente quando olhamos para a estante e dizemos com convicção: “Tá completa!” ou “Tá faltando!”.

Em ambos os casos estamos sendo iludidos pelas IMAGENS DE COMPLETUDE E INCOMPLETUDE produzidas pela atividade SIMBÓLICA de representação da estante.

Na terapia psicanalítica ajudamos o sujeito a desconstruir suas ilusões imaginárias por meio do discernimento das engrenagens simbólicas nas quais estão fundadas.

Tudo isso em meio à angústia gerada pelo Real que nos habita, o qual, diferentemente do Real da estante, resiste a se deixar representar pelo Simbólico.


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