
Experimentamos o sentimento de culpa quando fazemos (ou desejamos fazer) um coisa que nós mesmos consideramos inadequada e que acreditamos poder eventualmente causar dano a pessoas que amamos.
Muitas vezes, a culpa ocorre pontualmente e acaba desaparecendo naturalmente, sobretudo em função de um ato de perdão:
Num belo dia você trata o seu namorado de uma forma rude; alguns minutos depois, sente-se mal, pede desculpas, o mancebo te perdoa e a culpa vai aos poucos se esvaindo.
Por outro lado, há algumas pessoas que padecem de uma culpa crônica, que simplesmente não passa — mesmo com o perdão do outro.
Tais indivíduos costumam dizer que são eles mesmos que não conseguem SE PERDOAR.
E é essa afirmação que pode nos servir de ponto de partida para compreender o que está em jogo nesses casos.
Quando o sujeito diz que não consegue se perdoar, ele está revelando a existência de uma divisão em sua personalidade: de um lado, a parte que cometeu o ato inadequado e, do outro, a parte que olha para a primeira e diz: “Isso é imperdoável”.
Freud chamou essa segunda parte de “superego”. Com efeito, ela olha para o eu (ego), a primeira parte, de cima (super, em latim), julgando-a como um pai severo e intolerante.
Nosso superego está sempre monitorando e avaliando nossos atos e pensamentos, exercendo um papel parecido com o que nossos pais desempenhavam conosco na infância.
Todavia, nem todo o mundo tem um superego tão cruel e inflexível quanto o das pessoas que se sentem o tempo todo culpadas.
Para que isso aconteça, é preciso que o sujeito tenha sido levado a reprimir seus impulsos agressivos.
Não por acaso, pessoas que padecem de culpa crônica costumam ser exageradamente pacíficas — e passivas — , indivíduos que são incapazes “de fazer mal a uma mosca”.
Com efeito, essa agressividade patologicamente tolhida não desaparece. Ela permanece guardada, como uma bomba, no interior do psiquismo e, para ser saciada, acaba tomando o próprio Eu do sujeito como objeto.
Os ataques contínuos e ferozes do superego, que resultam na culpa crônica, servem justamente a esse propósito: satisfazer os impulsos agressivos dos quais o sujeito não foi autorizado a se apropriar.
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