A Psicanálise foi feita para o homem e não o homem para a Psicanálise.

Em 1904, o psiquiatra Leopold Löwenfeld publicou um livro dedicado aos fenômenos obsessivos e compulsivos típicos da neurose obsessiva.

Freud foi convidado pelo autor a produzir um breve artigo, a ser incluído no livro, explicando como funcionava a terapia psicanalítica — pouco conhecida àquela época.

O resultado foi o elegante texto “O método psicanalítico de Freud”, em que o autor, escrevendo na terceira pessoa, expõe resumidamente a história de desenvolvimento da Psicanálise e suas características principais.

Esse trabalho está no volume 7 da Edição Standard e no volume 6 da edição da Cia. das Letras.

Nas páginas finais do artigo, Freud aborda os objetivos da Psicanálise.

Àquela altura, ainda influenciado pelo recém-abandonado método catártico de Breuer, ele entendia que a “a tarefa do tratamento é remover as amnésias”, ou seja, desfazer “todas as repressões”.

O próprio Freud, no entanto, reconhece essa meta é irrealizável, já que, mesmo numa pessoa saudável, ou seja, que não é neurótica, “esse estado ideal” não existe.

Portanto, mesmo que uma pessoa passe décadas fazendo análise, ela nunca se tornará completamente “transparente” para si mesma.

O Inconsciente, essa dimensão opaca e disruptiva da nossa alma, SEMPRE continuará existindo.

— Bom, Lucas, mas e aí? Se a Psicanálise, em tese, teria como objetivo final alcançar uma meta que, segundo seu próprio criador, é impossível de ser atingida, qual seria a utilidade desse método?

A resposta que Freud fornece a essa pergunta é muito boa:

Ele diz que, no fim das contas, se não dá para tornar o Inconsciente completamente acessível à Consciência, os analistas deveriam se contentar em alcançar um objetivo muito mais modesto:

“[…] a recuperação prática do paciente, o restabelecimento de sua capacidade de realização e de fruição”.

Em outras palavras, o terapeuta pode se dar por satisfeito se tiver conseguido ajudar o paciente a superar as inibições e sintomas que o impediam de agir no mundo e aproveitar a vida.

Relembrar essa formulação freudiana pode ajudar os analistas a moderarem suas pretensões muitas vezes messiânicas de transformação completa da vida de seus pacientes.


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