Não, não existe um complô do destino contra você

Há cerca de três meses, Renata terminou um breve namoro com Jonas, um colega de faculdade.

Na verdade, foi o rapaz quem decidiu sair da relação depois de mandar o clássico “acho que não estou preparado para um relacionamento neste momento”.

Duas semanas depois da separação, a jovem ficou sabendo que o curso de mestrado para o qual desejava tanto se candidatar não abrirá novas vagas neste ano.

Além disso, desde que ainda estava namorando com Jonas, Renata vem tendo frequentes embates com o pai por conta do consumo excessivo de álcool feito pelo genitor.

— Tudo na minha vida está dando errado. Parece que eu nunca vou ser feliz! — é assim que a jovem resume seus últimos dias para a psicóloga que a acompanha.

Perceba que, embora os três problemas que Renata tem enfrentado nos últimos tempos sejam completamente independentes um do outro, a mente da jovem parece reuni-los num único pacote.

O fato de que tais situações estejam acontecendo mais ou menos ao mesmo tempo se trata meramente de uma coincidência.

Não existe um plano transcendental maligno destinado a prejudicar a jovem neste momento. É só a vida acontecendo. Como dizem os americanos, “shit happens”.

Mas por que será que Renata tem a nítida impressão de que está sendo vítima de uma “maldição” ou de um “complô” do destino?

Trata-se de uma defesa psíquica. Explico:

Ao associar os três problemas que está enfrentando e encará-los como um grande “pacote de maldades” que a vida jogou sobre si, a moça se protege de uma constatação MUITO MAIS DOLOROSA:

A de que a vida é imprevisível e não tem sentido em si mesma.

Jonas poderia ter decidido continuar com Renata — ou não.

A universidade poderia ter aberto novas vagas para o mestrado — ou não.

O pai da jovem poderia maneirar na bebida — ou não.

Nenhum desses desfechos era previsível ou estava sob o controle de Renata. E é dessa angustiante verdade que ela se defende imaginando-se como vítima de um destino malvado.

Ajudar o paciente a AFIRMAR a aleatoriedade e imprevisibilidade da vida e CONVIVER com o reconhecimento dessa verdade deve ser um dos objetivos de qualquer processo psicoterapêutico.


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