
Quero começar este texto falando de três situações que aparentemente não têm nada a ver uma com a outra, mas que, na verdade, estão estruturalmente conectadas:
(1) Sempre que eu abro a caixinha de perguntas do Instagram aparecem várias pessoas querendo saber como é SER uma histérica ou um obsessivo.
(2) Pululam na internet vídeos e mais vídeos que supostamente pretendem ajudar as pessoas a identificarem se elas têm TDAH ou até autismo.
(3) Nunca se falou tanto nas redes sociais sobre os tais quatro temperamentos — uma concepção de personalidade completamente especulativa proveniente da Antiguidade.
Estes três fenômenos ilustram o anseio humano por IDENTIDADE.
No fundo, grande parte das pessoas que querem saber se são histéricas, TDAH ou fleumáticas, por exemplo, está apenas desesperada por encontrar uma resposta apaziguadora à pergunta:
“Quem sou eu?”.
Na busca por resolvermos de modo definitivo essa nossa CARÊNCIA IDENTITÁRIA, podemos acabar nos alienando a certas identidades fixas e rígidas.
Penso, por exemplo, numa paciente que não consegue pedir ajuda a sua chefe, mesmo quando está enfrentando severas dificuldades no trabalho.
Essa moça sempre se percebeu e foi vista pelas pessoas à sua volta como alguém independente, que dá conta de resolver seus problemas sozinha, que não precisa do apoio de ninguém.
Pelo medo de perder essa identidade e ser confrontada novamente com a sua “falta-a-ser” (como dizia o psicanalista francês Jacques Lacan), a jovem se prejudica, mas não pede ajuda…
Lembro-me também de um idoso que acompanhei como estagiário em um ambulatório de lesões dermatológicas.
Aquele senhor tinha uma ferida que já estava em sua perna há tantos anos (décadas!) que ele era conhecido na vizinhança como o “Sr. Fulano da ferida”.
Era fácil entender porque ele não aderia ao tratamento oferecido no ambulatório e sua lesão sempre voltava a se abrir.
De fato, se ficasse curado, não perderia só a ferida, mas também a IMAGEM associada a ela — identidade pela qual era socialmente reconhecido.
Todo o mundo quer uma imagem egoica redondinha para chamar de sua.
O problema é que a gente pode acabar se tornando refém dela.
Participe, por apenas R$49,99 por mês ou 497,00 por ano, da CONFRARIA ANALÍTICA, uma comunidade exclusiva, com aulas semanais ao vivo comigo, para quem deseja estudar Psicanálise de forma séria, rigorosa e profunda.
➤ Adquira o meu ebook “Psicanálise em Humanês: 16 conceitos psicanalíticos cruciais explicados de maneira fácil, clara e didática”
➤ Adquira o meu ebook “O que um psicanalista faz?”