Quando você passa a se odiar para não odiar a quem amava

Existem vários tipos de depressão.

Em algumas delas, o sujeito se sente basicamente apático, sem energia e sem interesse pelas coisas de que antes gostava.

Em outras, a questão fundamental que leva o paciente a sofrer é a sensação de que nada em sua vida faz sentido, de que está “vivendo por viver”.

Essas duas formas de depressão têm aparecido com muita frequência em nossos consultórios. Porém, não é sobre elas que desejo falar neste texto.

Quero tratar da depressão melancólica, um tipo clínico marcado essencialmente por fenômenos de caráter superegoico: excesso de culpa, autocobranças e autodesprezo.

Em 1917, Freud propôs a tese de que o mecanismo básico que dá origem a essa modalidade depressiva é a identificação da pessoa com um objeto que ela perdeu.

O processo em questão pode ser descrito de modo relativamente simples:

Antes de adoecer, o paciente tinha uma relação MUITO ambivalente com seu objeto de amor: ao mesmo tempo em que o amava muito, também o odiava bastante.

Ao perder o objeto (por conta de seu falecimento ou devido a uma separação), a pessoa se identifica com ele — a fim de compensar a perda.

Em Psicanálise, identificar-se com uma pessoa significa trazer a representação dela para dentro do próprio Eu, ou seja, introjetá-la.

Ora, se eu trago um objeto muito amado, mas também muito odiado, para dentro do meu Eu, o resultado é que eu passarei a ME ODIAR também, certo?

— Uai, Lucas, mas se o objeto era alvo de muito amor, eu também vou ME AMAR muito, não?

Não. Para proteger a representação boa do objeto dentro de si (lembre-se que ele foi perdido), o sujeito só se identifica com a “parte má” dessa representação.

É como se ele inconscientemente pensasse:

“Vou direcionar o ódio que eu tinha pelo objeto todo para mim. Dessa forma, não corro o risco de destruir a representação que tenho dele aqui dentro de mim.”

É por isso que o deprimido melancólico só se condena, só se critica, só se culpa, enxergando-se como a pior pessoa do mundo.

O ódio que tem por si hoje é o mesmo ódio que tinha pelo objeto ontem.

Na AULA ESPECIAL publicada hoje (sexta) na CONFRARIA ANALÍTICA, você verá um caso clínico real de depressão melancólica comentado por mim.

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