Neste vídeo: entenda por que a frase que está no título é uma imensa bobagem e decorre da ignorância acerca de como funciona um episódio depressivo.
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Outro dia uma paciente me disse que ouviu da parte de um familiar a seguinte pérola:
“Você não tem motivos para estar deprimida. Tem casa, filhos, marido, uma boa situação financeira… Não tem motivo para estar assim”.
Muitos de vocês provavelmente já escutaram coisas semelhantes.
Trata-se de uma visão completamente equivocada que o senso comum possui acerca de como funciona um episódio depressivo.
Muita gente acredita que uma depressão só é “verdadeira” se for uma resposta a situações adversas claramente observáveis.
Na realidade, é justamente o oposto.
Veja: se, por exemplo, uma pessoa pobre e desempregada, com 3 filhos pequenos, fica triste, desanimada e com vontade de colocar um ponto final na própria vida depois de perder todos os seus pertences e sua casa após uma enchente, essa pessoa não está, a rigor, com depressão.
Ela está simplesmente respondendo naturalmente à situação trágica e caótica na qual se encontra.
Essa pessoa não necessita de terapia e antidepressivo.
Claro, um acolhimento psicológico pode ser útil, mas o que ela precisa de fato é de ASSISTÊNCIA SOCIAL, ou seja, emprego, um lugar para morar e apoio para reconstruir a própria vida.
Acho que você já entendeu aonde quero chegar.
O que caracteriza um padrão de comportamento marcado por tristeza constante, desânimo e eventuais pensamentos de autoextermínio como depressão é JUSTAMENTE o fato de ele se manifestar na AUSÊNCIA de situações que o tornariam compreensível.
Em outras palavras, toda pessoa que está realmente deprimida APARENTEMENTE não tem motivos para estar tão para baixo.
Depressão é justamente isso: tristeza e desânimo sem motivo APARENTE.
Se eu grifo as palavras “aparentemente” e “aparente” é porque, na verdade, existem, sim, bons motivos para que o indivíduo esteja vivenciando um episódio depressivo.
O problema é que tais motivos não são óbvios, explícitos, claros.
Na maioria das vezes, nem o próprio deprimido tem consciência deles.
Para enxergá-los, é preciso ter OLHOS PARA VER E OUVIDOS PARA OUVIR.
E é fazendo terapia que a gente desenvolve esse olhar e essa escuta…
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O psicanalista Karl Abraham, contemporâneo de Freud, escreveu o seguinte, em 1911, no artigo “Notas sobre a investigação e tratamento psicanalíticos da insanidade maníaco-depressiva e condições relacionadas”:
“Todo estado neurótico de depressão, assim como todo estado neurótico de ansiedade, com o qual se encontra intimamente relacionado, contém uma tendência para negar a vida”.
Esse é o arremate final de uma breve meditação que Abraham faz sobre a gênese da ansiedade neurótica e da depressão.
Ao tratar da primeira, ele recorre à tese original que Freud propôs para explicar os estados ansiosos de caráter patológico:
A tese de que a ansiedade neurótica seria resultante de uma repressão dos impulsos.
A experiência clínica do pai da Psicanálise mostrou a ele que, ao erguerem dentro de si rígidas barreiras contra os próprios impulsos, os neuróticos passam a encará-los como ameaçadores e perigosos e, desta forma, se sentem ansiosos.
Podemos dizer, então, que um estado neurótico de ansiedade brota de uma defesa contra a própria espontaneidade e, portanto, contra a vida.
Quanto à depressão, Abraham propõe uma tese inspirada nas ideias de Freud sobre a melancolia:
Uma pessoa se deprime quando, ao invés de reprimir seus impulsos, simplesmente desiste de tentar satisfazê-los.
Devido a uma dificuldade particular de reconhecer a presença do ódio e da agressividade dentro de si, o deprimido não se sente amado, por um lado e, por outro, se sente incapaz de amar.
Projetando sua agressividade no outro, ele se sente alvo da hostilidade alheia.
Ao mesmo tempo, com medo de acabar expressando seu ódio na relação com o outro, o deprimido tira o seu time de campo e desiste de amar.
Vemos que tanto na ansiedade neurótica quanto na depressão, o resultado, como diz Abraham, é uma negação da vida em toda a sua pulsação e intensidade.
O ansioso nega a vida estabelecendo uma ditadura moralista no interior de si mesmo.
O deprimido nega a vida desistindo de entrar em campo pelo medo de se machucar e de fazer falta no adversário.
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Percebo na clínica que muitas pessoas sofrem não porque estejam de fato vivenciando um estado real de impotência, mas porque, ao se medirem por meio de uma régua ideal, só conseguem se perceber como incompetentes e falhos. Portanto, a sensação de impotência é ilusória, fruto de uma autocobrança desmedida, que faz parecer que aquilo que se passa na realidade, aquilo que é efetivamente vivenciado é sempre insuficiente, quando, na verdade, simplesmente é o que é. A comparação com o ideal faz com que olhemos para o real sempre com crítica e menosprezo.
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Muita gente acredita que a tristeza exacerbada é o principal sintoma da depressão. Contudo, essa é apenas uma das manifestações derivadas de um fenômeno mais amplo, que está na base de qualquer quadro depressivo. Assista ao vídeo e saiba qual é esse fenômeno.
No dia 01 de junho, convidado pela Casa Unimed de Governador Valadares (MG), proferi a conferência “Diagnóstico Diferencial: Neurose/Psicose” no Seminário “Os Desafios da Saúde Mental na Modernidade: Diálogo entre a Psicologia e a Psiquiatria”. Em deferência àqueles que não puderam comparecer ao evento, publico abaixo o áudio completo da palestra.
Affectus é meu novo projeto audiovisual. Trata-se de uma série de vídeos em que discuto temas ligados diretamente à clínica sobretudo as dificuldades e problemas emocionais que atualmente se apresentam com maior frequência em nossos consultórios.
Neste segundo episódio abordo a depressão a partir de um ponto de vista não-medicalizante, ou seja, que não encara a depressão como uma doença, mas sim como uma posição subjetiva. Utilizando uma analogia com o esporte mais popular do Brasil, o futebol, busco demonstrar no vídeo que a depressão é uma defesa empregada por determinados indivíduos para lidar com certos tapas na cara que a vida lhes dá.
Antes de elaborar o método de tratamento das neuroses que viria a chamar de Psicanálise, Freud, juntamente com seu então amigo Josef Breuer, fazia uso da hipnose como forma de curar suas pacientes histéricas. Podemos, pois, dizer que os dois médicos encontravam-se naquele momento em pé de igualdade quanto aos meios de acesso ao mistério chamado histeria.
Apesar disso, logo surge um desnível entre os dois homens em virtude das respostas dadas por cada um deles à pergunta: “Por que a histérica não consegue se lembrar da ocasião em que surgiram seus sintomas ou por que ela só o faz em hipnose?”.
Breuer, como respeitado médico que era, não conseguiu se desvencilhar da hipótese mais óbvia para os médicos, a orgânica. Então disse: “A histérica não consegue se lembrar da ocasião em que surgiram seus sintomas porque nessa ocasião ela não se encontrava completamente consciente, ela estava com sono ou muito cansada. Assim, a lembrança dessa situação ficou separada do resto das suas repesentações mentais – por isso ela não consegue lembrar. E só pode lembrar em hipnose porque o estado hipnótico é parecido como o estado em que ela estava na ocasião em que surgiram os sintomas.” A esses estados de sono e cansaço que se assemelham à hipnose, Breuer chamou de “estados hipnóides”.
Já Freud, como jovem médico que era e não tão ingênuo quanto Breuer, preferiu prestar menos atenção no preconceito organicista do que na fala das pacientes. E é então que ele formula a hipótese que se tornaria a pedra angular da Psicanálise, a hipótese já tão falada aqui chamada “recalque”. Sua resposta à pergunta inicial então é: “A histérica não consegue se lembrar da ocasião em que surgiram seus sintomas porque ela definitivamente não quer se lembrar delas. E por que não quer? Porque elas lhe trazem sofrimento. E por que trazem sofrimento? Porque essas lembranças mostram os mais íntimos desejos da histérica e dos quais ela nada quer saber porque eles manchariam a imagem perfeita que ela nutre de si mesma. Essas lembranças, então, foram reprimidas por ela, instalando uma divisão na sua vida mental entre uma parte consciente e outra inconsciente.”
Com essa resposta, Freud ao mesmo tempo em que mostra que o ser humano é fundamentalmente dividido, evidencia também a presença do sujeito no organismo. Mais: Freud mostra que por trás do sofrimento do qual a paciente se queixa há um desejo, ou seja, a doença neurótica não é só algo que a pessoa sofre, mas que a própria pessoa produz – o paciente é responsável por seu sofrimento.
Apesar de há mais 150 anos Freud ter dito tudo isso, a Psiquiatria de hoje ainda insiste em sustentar posições caducas semelhantes às de Breuer, ao dizer por exemplo, que a depressão é apenas um funcionamento desregular do circuito serotoninérgico. Com isso, todo o tratamento passa a ser apenas questão de entupir a boca do paciente com os Prozacs da vida, para que ele não fale e, por conseguinte, não pense sobre o que aconteceu em sua vida que o fez ficar melancólico, ou melhor, o que ele fez para ficar melancólico.
Paradoxalmente, são posturas como essa que fazem a Psicanálise sobreviver, como sempre marginalmente. Por que por mais que a fluoxetina regule os níveis de serotonina no organismo, ela jamais reorganizará os significantes que determinam a vida de uma pessoa. Para esse tipo de desordem, senhoras e senhores, até hoje há apenas um remédio – e foi Freud quem o inventou…