
O discurso dos pacientes em análise revela de modo cristalino que temos uma tendência a internalizar as experiências que vivenciamos, sobretudo na infância.
Internalizar significa trazer para o interior do psiquismo aquilo que acontece, num primeiro momento, do lado de fora, no mundo externo.
Muitos de nossos conflitos psíquicos, por exemplo, são apenas reproduções de relações conflituosas que tivemos com nossos pais na infância ou na adolescência.
Vejamos o caso de Samanta:
Quando criança, essa mulher se sentia travada e humilhada pela postura severa da mãe, alimentando fortes desejos vingativos contra a genitora.
Hoje, aos 40 anos, a paciente se vê presa a essa mesma situação emocional.
O detalhe é que a mãe faleceu há dez anos e Samanta já não morava com ela há muito tempo.
A paciente, entretanto, continua se sentindo travada e humilhada.
Não pela mãe, mas por si mesma, ou melhor, por uma parte de si mesma que se formou por meio da internalização da figura materna.
Em outras palavras, a mãe “de carne e osso” morreu, mas a mãe internalizada continua vivíssima.
Talvez você esteja se perguntando:
— Mas, Lucas, por que Samanta internalizaria uma pessoa que só lhe causava sofrimento. Masoquismo?
Não, caro leitor.
Podemos elencar, no mínimo, duas boas razões que justificam essa internalização:
Em primeiro lugar, a frequência da relação:
Buscando previsibilidade e segurança, nosso psiquismo tende a se adaptar a situações externas de sofrimento que se repetem.
A internalização é um dos mecanismos que facilitam esse esforço de adaptação.
É como se Samanta, quando criança, pensasse: “Se eu trouxer mamãe para dentro de mim, estarei mais preparada para lidar com ela do lado de fora.”
O segundo motivo é o desejo de eliminar a situação de sofrimento:
Samanta pode ter acreditado que, trazendo a mãe para dentro de si, ou seja, para uma esfera de suposto controle, conseguiria transformá-la numa pessoa menos severa.
A internalização mostra que nosso psiquismo é como uma esponja.
Portanto, para entender o que se passa em seu interior, precisamos necessariamente mapear o que aconteceu do lado de fora dele…
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