[Vídeo] “Onde estava o id, ali estará o ego.” (Freud)


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A gente faz Psicanálise para deixar de tomar rasteira de si mesmo.

“Onde estava o id, ali estará o ego.”

É com esta frase que Freud sintetiza o resultado produzido pela Psicanálise no psiquismo de uma pessoa que a ela se submete.

No modelo teórico proposto pelo autor em 1923, o id designa a dimensão da nossa mente onde se encontram nossos impulsos e disposições naturais.

A experiência clínica de atendimento a pessoas neuróticas revelou a Freud que nós podemos adoecer emocionalmente quando, por medo, viramos as costas para o id.

É claro que não podemos nos entregar passivamente a nossos impulsos e disposições naturais. A vida em sociedade e o nosso próprio senso de autopreservação nos impedem de agir assim.

Desde a infância, a gente vai aprendendo a se conter, se controlar e a se adaptar aos limites impostos tanto por nossos valores quanto pela própria realidade.

Porém, nesse processo, podemos ser levados a olhar para nossas inclinações naturais como tendências perigosas que precisam ser reprimidas.

O resultado disso é catastrófico: ao reprimir um impulso, perdemos o controle sobre ele, pois reprimir significa justamente fingir que ele não existe.

Fora de controle, o impulso reprimido do id fica livre para “nadar de braçada” em sua vida.

E pior: como você não quer enxergá-lo, ele acaba se manifestando à força, justamente por meio do adoecimento emocional.

Quando um paciente neurótico procura terapia, é nesse estado que ele se encontra: dominado pelos impulsos do id para os quais tem medo de olhar.

Na Psicanálise, a gente ajuda o sujeito a perder esse medo.

Dessa forma, ele passa a dar conta de encarar o id e consequentemente se APROPRIAR dos impulsos que outrora reprimiu.

É por isso que Freud diz que “onde estava o id, ali estará o ego”:

Com efeito, ao perder o medo, o ego (o eu) consegue TOMAR POSSE daquelas “regiões” do id que, por terem sido reprimidas, estavam fora do seu controle.

O id só para de nos escravizar com sintomas quando tomamos a coragem de reconhecê-lo, afirmá-lo, valorizá-lo e, acima de tudo, conversar com ele.


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[Vídeo] As 3 funções do superego


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[Vídeo] Nossos quatro medos básicos segundo Freud


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[Vídeo] Como se forma o superego?

O superego é um elemento fundamental da nossa personalidade que se forma por meio da internalização da dimensão coercitiva do cuidado parental.


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[Vídeo] O superego está mais para diabo do que para anjinho da guarda

O papel que o superego exerce em nossa alma nunca é o de um paciente e bondoso conselheiro que nos alerta para os riscos da realização de certos desejos.


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O que é, para Freud, a sabedoria de viver?

Em 1926, Freud escreveu às pressas um livrinho chamado “A Questão da Análise Leiga” para colaborar na defesa de Theodor Reik, um psicólogo e psicanalista, que fora processado pelo crime de “charlatanismo”, visto que atendia pessoas sem ter formação em Medicina.

O objetivo principal do texto era demonstrar os motivos pelos quais a Psicanálise não seria um método de tratamento que somente médicos poderiam praticar.

No entanto, para atingir esse alvo, o médico vienense constrói um delicioso diálogo à moda platônica com um interlocutor fictício, que ele denomina de “Pessoa Imparcial”, ou seja, alguém que estaria disposto a ouvir seus argumentos sem preconceitos.

O resultado é a mais clara e didática exposição que Freud já fez sobre a teoria e a técnica da Psicanálise.

Em determinado momento do texto, depois de explicar, em linhas gerais, como se dá o encontro entre um psicanalista e a pessoa que o procura em busca de ajuda (“Nada acontece entre eles, salvo que conversam entre si.”), Freud passa a falar sobre como a mente humana está estruturada.

Nessa época ele já estava trabalhando com os conceitos de id, ego e superego. Por isso, inicia sua exposição explicando como desenvolvemos um ego a partir de um id primário e como essas duas partes da mente se relacionam entre si.

É nesse ponto do livro que Freud nos agracia com uma formulação belíssima:

“Decidir quando é mais adequado controlar suas paixões e curvar-se ante a realidade, ou tomar o partido delas e opor-se ao mundo exterior, constitui a essência da sabedoria de viver.” (tradução da Cia. das Letras).

Coincidentemente ou não, essa frase evoca a conhecida “Oração da Serenidade”, comumente empregada como ferramenta psicológica em grupos de apoio como os “Alcoólicos Anônimos”:

“Deus,

Conceda-me a serenidade

Para aceitar aquilo que não posso mudar,

A coragem para mudar o que me for possível

E a sabedoria para saber discernir entre as duas.”

Mas, Lucas, o que isso tem a ver com o id e o ego?

Como Freud pensa PSICANALITICAMENTE essa sabedoria de viver?

Essas e outras perguntas serão respondidas numa AULA ESPECIAL que estará disponível ainda hoje para quem está na CONFRARIA ANALÍTICA.


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A passagem da primeira para a segunda tópica em Freud

Gosto muito de falar sobre essa mudança na teoria freudiana porque ela representa um ótimo “Cala a boca!” para aqueles que insistem na ladainha de que a Psicanálise não é científica.

A mudança na forma como concebia o aparelho psíquico mostra que Freud sempre esteve disposto a mudar suas ideias conforme ia fazendo novas descobertas.

Para quem não sabe, “tópica” é o termo que a gente costuma usar na Psicanálise para designar o tipo de concepção de mente com que Freud trabalhava.

Há várias formas de pensar o funcionamento da alma humana. Freud ESCOLHEU utilizar uma analogia ESPACIAL para fazer isso.

Assim, ele concebia a mente como uma espécie de terreno dividido em regiões específicas. Daí o termo “tópica” (do grego “topos”: lugar).

Inicialmente, Freud entendia que a alma teria basicamente 3 “regiões” onde estariam distribuídas as representações mentais:

Na região mais afastada, o Inconsciente, separada das outras por um imenso muro de censura, estariam as ideias que a pessoa foi reprimindo ao longo da vida.

Outra região seria o Pré-consciente, sede das ideias que, temporariamente estão inconscientes, mas podem, a qualquer momento, adentrar a terceira e última parte do terreno, a menorzinha, chamada Consciente.

Por que Freud achou que precisava de outro modelo de mente se esse se mostrou tão útil durante vários anos?

Porque ele percebeu que não são só as ideias reprimidas que perderam a possibilidade de acesso à consciência.

Freud sacou que certos pensamentos que mantinham determinadas ideias em estado de repressão também eram inconscientes.

Isso significa que esses pensamentos estavam localizados na região do Inconsciente?

Ai é que tá! A resposta é: não.

Eles não poderiam estar no Inconsciente porque nessa região só entram ideias reprimidas e esses pensamentos não foram reprimidos.

Então onde eles estariam situados?

A busca por uma resposta para essa pergunta é o que levará Freud a formular a famosa segunda tópica, que dividiu o aparelho psíquico em id, ego e superego.

Mas isso é assunto para outra postagem…


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[Vídeo] O Id não é um capetinha

Neste vídeo: entenda por que a comparação entre o Id freudiano e um “capetinha” é neurótica e prova de ignorância.


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Entenda o que são id, ego e superego

Importante dizer que essas três palavras são os termos em latim para as expressões alemãs Es (isso), Ich (eu) e Über-Ich (acima-do-eu) que foram originalmente utilizadas por Freud.

Id (isso/Es) foi o nome que Freud deu para a nossa mente em sua versão ORIGINAL. Como assim, Lucas? Explico: no começo da vida, a nossa mente é basicamente composta por IMPULSOS que buscam descarga. Pense num bebezinho, por exemplo, ávido por saciar nos seios da mãe a sua fome e o seu tesão de chupar.

À medida que a gente vai crescendo e interagindo com as pessoas e a realidade, vai se construindo nessa mente original (que é o Id) uma espécie de “camada” dotada de autoconsciência, capacidade de suportar frustração, que pensa racionalmente, ou seja, que não busca descarregar cegamente os impulsos. Essa parte da mente mais ou menos adaptada à realidade é o que Freud chamou de ego (eu/Ich).

Lucas, mas depois que o ego se forma, o id deixa de existir? Não. O id permanece sendo a dimensão primitiva, impulsiva, selvagem da nossa mente, mas que agora sofre a oposição do seu filho ego, já que esse trabalha com os critérios da realidade e da sociedade, os quais, frequentemente se opõem à satisfação imediata dos impulsos do id.

E o superego (acima-do-eu/Über-Ich)? Se o ego é uma parte do id original, o superego é uma parte do ego. Esse, por sua vez, é construído com base na identificação do sujeito com pessoas com quem convive (“Tal pai, tal filho”). Só que dentre essas pessoas, existem algumas que exercem AUTORIDADE sobre a criança, ou seja, pessoas que estão ACIMA dela. Tais autoridades ganharão um lugar especial na formação do seu ego. Esse lugar especial é o superego. Dito de forma simples: o superego é o produto da internalização das figuras de autoridade no ego. Mas tem um detalhe: a gente só internaliza o aspecto vigilante, ameaçador e punitivo dessas figuras de autoridade. Por isso, o superego funciona não exatamente como um pai, mas como um CARRASCO do ego.

E aí, essa explicação te ajudou a entender melhor esses conceitos?


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O Id não é um capetinha

Você certamente já deve ter visto na internet ou mesmo em livros supostamente técnicos uma imagem representando o id como um diabinho e o superego como um anjinho.

Muito provavelmente os autores dessas imagens jamais leram “O ego e o id”, texto de 1923 no qual Freud introduz aqueles conceitos na teoria psicanalítica. Afinal, se o tivessem lido, não fariam uma representação tão infiel das noções de id e superego.

Em outros momentos, eu já expliquei porque é incorreto associar o superego à figura de um anjo. Agora, quero me concentrar em desfazer o equívoco de se pensar o id como um “capetinha interior”.

Essa comparação só faz sentido se adotarmos um olhar moralista sobre nossos impulsos sexuais e agressivos – ponto de vista que não é o da Psicanálise.

Id foi o termo em latim escolhido pela tradução inglesa das obras de Freud para o vocábulo “Es” que, em alemão, designa um pronome impessoal, como o nosso “Isso”.

Freud não escolheu essa palavra aleatoriamente. De fato, ele precisava de um termo que fizesse referência àquilo que está presente em nós, mas, ao mesmo tempo, não faz parte do nosso Eu. Por isso, lhe pareceu oportuno utilizar a palavra “Es” que, inclusive, já vinha sendo empregada num sentido semelhante por Georg Groddeck, um médico psicanalista de que Freud gostava muito.

O que está presente em nós, mas não faz parte do nosso Eu? Ora, tudo aquilo que já vem conosco “de fábrica”. Com efeito, antes de termos um Eu, nós já SOMOS. Mas somos o quê? Basicamente um corpo animado por impulsos. Impulsos que nos levam a buscar sobrevivência, a buscar prazer e a buscar destruição. É isso o que nós somos antes de termos um Eu. E é esse estado primário do ser que Freud denomina de Id.

Depois que desenvolvemos um Eu, o Id não desaparece. Afinal, apesar de termos vestido uma imagem (o Eu), continuamos sendo um corpo animado por impulsos. Impulsos que não raro perturbam o Eu, mas que, ao mesmo tempo, revelam que somos muito mais do que a imagem que construímos de nós mesmos.

O Id, portanto, não é um capetinha. É apenas o que de você está para-além do espelho.


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[Vídeo] Como id, ego e superego se relacionam?

Quer saber como interagem as três instâncias da segunda tópica do aparelho psíquico de Freud? Então, assista a esse vídeo. Spoiler: o ego está na posição nada confortável de mediador de conflitos.

Aprofunde-se:

[Vídeo] O que é o ego em Psicanálise?

Neste vídeo você entenderá de uma vez por todas o conceito de ego em Psicanálise.

Este é o segundo episódio da série em que explico a segunda tópica do aparelho psíquico de Freud. P. S.: Houve um pequeno problema de sincronização entre o áudio e o vídeo a partir do minuto 12, mas isso não comprometeu a explicação. Desculpem!

[Vídeo] Entenda (FINALMENTE) o conceito de id em Psicanálise

Neste vídeo você irá finalmente aprender o que é esse tal de id sobre o qual tanto se fala em Psicanálise. Trata-se da primeira parte de uma série em que pretendo explicar toda a segunda tópica de Freud em idioma humanês.

Id, ego, superego: entenda a segunda tópica de Freud (parte 3)

No último post desta série vimos que, por volta dos anos 1920, Freud se viu diante de um baita problema teórico: de que valia continuar utilizando o termo “inconsciente” para designar uma parte específica de nosso psiquismo se essa parcela da mente se parecia mais com um tremendo balaio de gato onde cabiam coisas tão heterogêneas como os impulsos reprimidos e as partes do ego que impediam que esses impulsos fossem reconhecidos pelo sujeito, ou seja, que provocavam resistência?

Não seria melhor passar a utilizar o termo “inconsciente” num sentido meramente descritivo, ou seja, apenas para fazer referência à forma em que se encontra uma representação mental da qual não estamos conscientes no momento?

“Sim, seria”: essa foi a resposta de Freud. Já que o conceito de inconsciente estava perdendo a especificidade que tinha no início da psicanálise, melhor seria abandoná-lo de vez.

Mas o que colocar em seu lugar? Se o conceito de inconsciente como uma região psíquica já não fazia mais sentido, logo aquela primeira divisão da mente em consciente, pré-consciente e inconsciente também iria para o ralo, certo?

Perfeitamente. O problema agora passava a ser então a elaboração de um novo modelo para representar o psiquismo. Se a mente não poderia mais ser pensada como dividida em consciente, pré-consciente e inconsciente, como uma seria uma nova estruturação, capaz de superar as limitações da primeira?

A aposta freudiana no conceito de Id

Freud foi encontrar o princípio da resposta que daria a essa pergunta num conceito extraído da obra do médico e psicanalista Georg Groddeck, acerca do qual já falei algumas vezes aqui no site e cuja obra, aliás, foi meu objeto de estudo no mestrado em Saúde Coletiva.

Influenciado pela leitura de Nietzsche, Groddeck vinha utilizando naquela época a palavrinha alemã “Es” (cuja tradução para o latim seria “Id”) para fazer referência a uma espécie de força vital que condicionaria toda a nossa existência, desde a formação dos órgãos do corpo até os nossos mais sutis pensamentos. Nesse sentido, nenhuma de nossas escolhas seria autônoma, ou seja, produto de nosso livre-arbítrio. Groddeck costumava dizer que em vez da frase “Eu vivo” deveríamos dizer “Sou vivido por isso”.

O que Groddeck queria, na verdade, era chamar a atenção para o fato de que nenhum de nós se encontra isolado do contexto em que vive e carrega em si as marcas de sua própria história. Em decorrência, todas as nossas escolhas são o produto da nossa relação coma natureza (da qual somos apenas uma modificação) bem como de nossa história. O conceito de “Es” servia para Groddeck justamente para evidenciar o fato de que o que nós chamamos de que nós não somos donos do nosso próprio nariz na medida em que nos encontra na dependência de fatores que estão para além de nós mesmos e acerca dos quais na maioria das vezes não temos consciência.

Ora, esse modo de entender a existência humana proposto por Groddeck era bastante semelhante à conclusão que Freud havia chegado desde que inventara a psicanálise e que sintetizou na famosa frase: “O eu não é senhor na própria casa.”. No momento em que Freud proferiu essa frase, o que ele tinha em mente era a força do inconsciente na determinação da conduta humana. Mas se a ideia de “o inconsciente” já não fazia muito sentido, como continuar sustentando que o “eu não é senhor na própria casa”?

Tomando emprestado de Groddeck o conceito de “Es”, ora! O termo parecia perfeito para designar a região da mente que Freud até então vinha chamando de inconsciente e, de quebra, não tinha os inconvenientes do termo inconsciente!

O vocábulo “Es” na língua alemã é um pronome impessoal. Por isso, as edições mais recentes da obra de Freud preferem traduzir o termo por “Isso” em vez de “Id”, justamente para valorizar esse aspecto semântico referente a algo indeterminado, desconhecido, obscuro. Essa característica, aliás, foi uma das razões que levaram Freud a gostar do conceito. Pareceu-lhe o termo ideal para contrapor ao ego, na medida em que colocaria em primeiro plano a verdadeira oposição que interessa à psicanálise, a saber: a oposição entre o ego e a pulsão, essa fome insaciável de viver que pode, paradoxalmente, colocar a vida em risco. É esse conflito que de fato esteve nas raízes da psicanálise e não o embate entre consciência e inconsciente!

O Id freudiano

Diferentemente de Groddeck, que entendia o Id como a expressão da nossa vinculação indissociável com o mundo, Freud privilegiou o significado do conceito referente a algo exterior ao ego, exemplificado na famosa frase de uma personagem da Escolinha do Professor Raimundo: “Ele só pensa naquilo”. Esse “naquilo” é obviamente a sexualidade, a qual, para Freud, se manifesta no ser humano de modo excessivo, desmedido e que, por conta disso, adquire uma conotação de exterioridade em relação ao ego. É por isso que, do ponto de vista freudiano, haverá sempre um conflito entre o ego e as pulsões no cerne de cada alma humana.

O Id é justamente o conceito que Freud empregará para situar o lugar que essas pulsões ocupam no aparelho psíquico. No Id se encontrariam tanto as pulsões sexuais quanto as pulsões de morte (responsáveis pela agressividade que dirigimos contra nós mesmos e contra os outros). As pulsões seriam os representantes no psiquismo de necessidades provenientes do corpo e buscariam unicamente a satisfação sem levar em conta as possibilidades reais de obtê-la e, muito menos, se essa satisfação faria bem para o sujeito. A norma que regula o funcionamento mental dentro do Id é o princípio do prazer, ou seja, no Id uma representação mental se liga a outra não em função de uma relação lógica ou semântica, mas sim devido ao fato de ambas estarem ligadas mutuamente a uma experiência de satisfação ou de busca dela. Assim, no Id, a fórmula 1 + 1 não é necessariamente igual a 2. Pode ser igual a 3 ou a 20 caso essa estranha equação favoreça a conquista do prazer e da satisfação. Em outras palavras, não há razão no interior do Id. A racionalidade é um modo de funcionamento mental a ser conquistado pelo sujeito.

No próximo post veremos como essa conquista é levada a cabo. Conheceremos de que modo o Id dá origem ao ego, esse filho ingrato que desde o nascimento já entrará em conflito com seu genitor e, se possível, veremos ainda o surgimento do terceiro e último elemento da segunda tópica, o famoso e feroz “superego”.

CONTINUA.

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