Qual a razão de ser do conhecimento que se autodenomina filosófico? Isto é, por que a filosofia existe? Certamente essa pergunta não deve ser respondida de qualquer maneira, mas uma visada periférica da história da filosofia (leia-se a história do que homens que se intitularam ou foram chamados de filósofos disseram) mostra que a função da Filosofia geralmente foi vista como sendo a da procura da verdade.
Que essa verdade tenha tido diversos lugares conforme as idéias de cada autor – no ser em Kierkegaard, no mundo externo em Locke, na razão em Descartes – isso é o de menos. Mais importante é pensar que, se a filosofia toma como mote de sua própria existência o problema da verdade, isso significa que o pensamento humano – e aqui me refiro especificamente à tradição ocidental – amiúde considerou que a questão humana por excelência seria “o que é?”. Com efeito, a busca da verdade é a procura daquilo que é, em todo lugar, em todo o tempo, que sempre será e que nunca deixará de ser.
Ora, o que a psicanálise evidencia é que essa pergunta mascara uma outra, muito mais fundamental e que poderia ser formulada, toscamente, nos seguintes termos: “Por que sou?” ou “Por que existo?”.
Tais indagações possuem basicamente duas respostas possíveis: ou pensamos que nossa existência se deve ao puro acaso, pelo arranjo de contingências sem nenhuma finalidade específica ou cogitamos a hipótese de que existimos por alguma razão que invariavelmente não se encontra explícita. Considerando que essa última opção é a adotada por 99,9% dos exemplares do Homo sapiens – por mais que um Darwin insista o contrário – pode-se dizer que a questão da razão de nossa existência carrega em seu bojo uma outra, qual seja, “O que isso quer de mim?”
Sim, pois se não estou aqui por acaso significa que estou aqui por conta de um desejo. Mas se sou um ser que, diferentemente de uma pedra, além de ser, faz, isso significa que esse desejo do qual fui fruto, além da minha existência demanda que eu aja de determinada maneira.
CONTINUA…
Adorei este post, mas não entendi pq ao comentar tive q recolocar meu email e nome, antes ficava salvo aki. ???
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Gostei muito deste post e gostaria de fazer algumas perguntas talvez não diretamente relacionada, mas com alguma afinidade.
Atualmente estive metido em algumas discussões com estudantes de psicologia e constatei que todos com os quais conversei, um espaço amostral pequeno pra ser sincero algo em torno de 6 alunos do ultimo ano, não acreditam num verdade objetiva, todos acreditam em verdades subjetivas a cada individuo mesmo que essas se contradigam e entrem em choque e acreditam ser todas validas como verdade, pra mim um paradoxo incrivel, mas para eles faz todo o sentido!
Eu gostaria que algum dia você dedicasse um post somente explicando o que é entendido por verdade na psicologia por que na minha concepção algo é verdadeiro quando ele é mesmo que eu não gostaria que fosse, ele existe sem a necessidade do meu pensamento sobre sua existência e etc.
De qualquer forma, gosto muito do seu blog, parabéns.
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Olá Daniel! Fico muito feliz com seu comentário e sua sugestão de post já está anotada!
Penso que a crença em “verdades subjetivas”, como você diz, seja um efeito das transformações pelas quais o mundo contemporâneo tem passado e que recebem nomes como pós-modernidade, modernidade tardia, modernidade líquida etc. As grandes instituições da Modernidade como a Igreja e o Estado que funcionavam como garantidores das Verdades metafísicas (que são justamente essas verdades cuja estrutura você postula) perderam crédito em função de inúmeros acontecimentos. Assim, A Verdade foi esfacelada numa infinidade de verdades particulares – daí o sucesso que hoje fazem as filosofias hermenêuticas, o pós-estruturalismo, o pragmatismo que são filosofias que se fundamentam justamente na tese de que a verdade é contextual e não absoluta. Realmente, esse é um problema gigantesco pois definir a verdade como contextual pode ser tomado como uma contradição em si, um absurdo (no sentido filosófico do termo) como você observou.
Talvez seja uma questão insolúvel, principalmente nos nossos dias, mas nunca é demais nos pormos a pensar sobre ela.
Grande abraço e apareça sempre por aqui!
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