
Hoje eu gostaria de conversar com você sobre o caráter traumático que é inerente à nossa relação com a sexualidade.
Deixa eu te explicar isso direitinho.
À medida que ia atendendo seus pacientes neuróticos lá no final do século XIX e início do século XX, o dr. Sigmund Freud foi se dando conta de que a sexualidade se manifesta em dois tempos na nossa vida.
A primeira onda de sexualidade (para usar uma expressão que está na moda) aparece logo após o nascimento e permanece vigente até aproximadamente os cinco ou seis anos de idade.
A segunda onda é aquela mais conhecida e que, até Freud, era tomada pelo senso comum e pela ciência como sendo a única. Trata-se da expressão incontestável dos impulsos sexuais na puberdade.
Essa segunda onda permanece até o fim da vida, embora, à medida que os anos vão passando, ela vá se manifestando de modo cada vez menos intenso.
Bem, o fato de, na espécie humana, os impulsos sexuais darem o ar da graça logo nos primeiros anos de vida é o que confere à sexualidade um caráter traumático.
Com efeito, trauma é uma experiência (ou um conjunto de experiências) que ultrapassa a capacidade compreensiva da nossa mente, provocando nela um estado semelhante ao “travamento” que acontece nos computadores e celulares.
Ora, no início da vida, nós ainda não possuímos recursos simbólicos suficientes e um eu consistente o bastante para vivenciarmos o “pipocar” dos impulsos em nós de modo tranquilo. Para os nerds de Psicanálise: é por isso que Winnicott dizia que “não há id antes do ego”.
Dotada de uma estrutura egoica ainda muito precária, a criança pequena inicialmente sente medo de seus impulsos, vivenciando-os como forças externas incontroláveis que o atacam.
Portanto, a criança muitas vezes não dá conta de se apropriar e compreender seus impulsos sexuais porque sente a força deles como uma ameaça.
Por isso, nossos principais recalques, aqueles que vão direcionar nossas vidas, ocorrem justamente nesses primeiros anos de vida. Sentindo-se assaltada pelos impulsos, a criança se defende deles, dissociando-os de sua experiência consciente.
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Isso vale também para a agressividade? Digo, é possível que a recalquemos por não estarmos preparados para lidar com a sua força?
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Sim, Lara! No início da vida também somos “assaltados” pelos impulsos agressivos.
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