Amar ao próximo como a si mesmo: um olhar psicanalítico

De acordo com a resposta dada por Jesus de Nazaré aos fariseus, esse seria o segundo principal mandamento da Lei dos judeus.

O primeiro aspecto que me chama a atenção nesse imperativo é justamente o fato de ele existir.

Explico:

Eu não preciso mandar Fulano fazer a coisa X se Fulano já faz a coisa X de forma espontânea.

Não faz sentido, por exemplo, mandar uma pessoa que adora pizza comer esse alimento visto que ela já faz isso naturalmente.

Assim, Deus não precisaria instituir o mandamento do amor se acreditasse que os seres humanos espontaneamente amam uns aos outros.

A ordem de amar ao próximo só existe porque, “na cabeça de Deus”, o homem não possuiria uma inclinação natural para a solidariedade e a generosidade.

Essa conclusão fica ainda mais clara quando nos atentamos para o fato de que o mandamento curiosamente vem acompanhado de um parâmetro:

Nós devemos amar ao próximo na mesma proporção em que AMAMOS A NÓS MESMOS.

Isso mostra que o autor do mandamento (supostamente Deus) trabalha com o pressuposto de que os seres humanos NATURALMENTE se amam.

Com efeito, não existe a ordem “Amem a si mesmos”. Ela não é necessária. Afinal, a gente já faria isso de modo automático.

É como se Deus estivesse dizendo mais ou menos o seguinte: “Eu sei que vocês já são naturalmente  apaixonados por si mesmos. Porém, eu preciso que façam um esforço para amarem uns aos outros também”.

Curiosamente, todo esse raciocínio sobre o que é natural no homem e o que precisa ser instituído por meio de um mandamento exterior vai ao encontro das ideias de Freud.

Com efeito, do ponto de vista freudiano, o narcisismo, essa tendência de amar, cuidar e proteger o nosso próprio eu, não precisaria ser ensinado à criança. Ele seria espontâneo.

Assim como está pressuposto no mandamento, para Freud todo o mundo desenvolve naturalmente esse amor pela imagem de si desde bebê.

Já o amor ao próximo precisaria ser apresentado à criança pelos pais como uma ordem para depois ser internalizado na dimensão do superego.

O problema é que Freud se equivocou ao pensar que todo o mundo desenvolve naturalmente e suficientemente bem o narcisismo.

Mais isso é assunto para outro momento…


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