“Parece que esse desejo de morte, no filho, está voltado contra o pai e, na filha, contra a mãe.”

A primeira vez que Freud menciona fenômenos que serão abarcados futuramente pelo conceito de complexo de Édipo é no rascunho N da carta 64, enviada a seu colega Wilhelm Fliess no dia 31 de maio de 1897.

Nessa época, Freud mantinha uma correspondência farta com Fliess e volta e meia anexava a elas rascunhos de possíveis artigos e ensaios.

Nesses textos, podemos encontrar, num estado ainda embrionário, praticamente toda a base da teoria freudiana.

Freud começa esse rascunho N, anexado à carta 64, falando sobre um aspecto do complexo de Édipo que geralmente não é muito enfatizado.

Sempre que se pensa no Édipo, a primeira coisa que nos vêm à mente são os desejos sexuais incestuosos da criança em relação aos seus pais.

No entanto, é curioso observar que, na primeira vez em que Freud fala da questão edipiana, ele destaca os desejos de MORTE que a criança dirige aos genitores e não o vínculo erótico:

“Parece que esse desejo de morte, no filho, está voltado contra o pai e, na filha, contra a mãe.”

De fato, no Édipo freudiano típico, o menino apaixona-se por sua mãe e, em decorrência disso, passa a encarar seu pai como um rival que precisa ser vencido.

A menina, por sua vez, decepcionada com seu primeiro objeto de amor (que também é a mãe), desenvolve um vínculo erótico com o pai e, assim, começa a enxergar a mãe como uma adversária a ser eliminada.

Nesse sentido, quando o clímax do drama edipiano passa e ocorre aquilo que Freud chamará em 1924 de “dissolução do complexo de Édipo”, a criança se vê obrigada a reconhecer duas derrotas:

A de não ter realizado sua fantasia sexual incestuosa e a de não ter conseguido matar seu (sua) rival.
Tem gente que aceita tais derrotas e vida que segue.

Mas tem gente que passa a vida inteira desejando voltar no tempo para tentar sair vitorioso — até deitar no divã.


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