Até quando você vai continuar evitando caminhar?

Durante toda a infância e a adolescência, eu tive a sorte de receber profundas lições de vida na forma de ditos populares proferidos por minha mãe.

Um deles, não tão conhecido, é “Enquanto tiver cavalo, São Jorge não anda a pé”.

A lição básica contida nesse provérbio tem a ver com aquilo que poderíamos chamar de “inércia psíquica”, isto é:

A tendência que todos nós temos de nos mantermos numa determinada posição na existência até que uma “força” muito poderosa nos faça sair dela.

São Jorge dificilmente desejaria fazer seus percursos a pé tendo um cavalo à disposição.

Somos, por natureza, avessos a mudanças frequentes. A novidade nos atrai, mas, ao mesmo tempo, nos provoca ansiedade.

Essa propensão à conformidade se manifesta na facilidade que temos para nos adaptarmos mesmo a situações extremamente desconfortáveis.

Quantas pessoas você não conhece (talvez até seja uma delas) que estão há anos em relacionamentos insatisfatórios e que, se questionadas, respondem:

— Ah, quando eu penso em todo o trabalho que dá para construir um relacionamento novo, do zero, eu logo desisto da ideia de me separar.

Como o célebre personagem Jaiminho, de Roberto Bolaños, elas preferem “evitar a fadiga”.

A relação precisaria se tornar insuportável para que tais pessoas se sentissem realmente encorajadas a sair dessa zona de (des)conforto e encarar os desafios de um novo vínculo.

Mas, veja: não se trata apenas de adaptação, mas também de APEGO às vantagens conscientes e inconscientes proporcionadas pela situação atual.

Estou falando de minguados benefícios que, em função da tendência à conformidade, somos levados a tratar como se fossem preciosidades valiosíssimas.

Aquela pobre jovem que está num relacionamento tóxico pode se apegar desesperadamente à sensaçãozinha de “ser importante” que o namorado lhe proporciona em suas crises de ciúme.

Como não tem certeza se conseguirá se sentir assim em uma nova relação, ela prefere se manter nessa — mesmo sofrendo.

Um bom processo psicoterapêutico precisa ir na contramão dessa tendência, ajudando o paciente a se sentir forte o suficiente para conseguir caminhar, mesmo tendo cavalos à disposição.


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