
Existe uma sorrateira erva daninha que precisa ser arrancada do jardim psicanalítico.
Estou me referindo a uma espécie de moralismo velado que frequentemente se faz presente em nossa prática.
Ele se manifesta, por exemplo, no uso banalizado da controversa expressão “bancar o próprio desejo” ou de uma frase erroneamente atribuída a Freud:
“Qual a sua parte na desordem de que se queixa?”
Muitas vezes, tais formulações são utilizadas para fundamentar intervenções psicanalíticas que são piores do que as mais severas condenações superegoicas.
A pessoa vai fazer análise porque não está conseguindo sair sozinha de uma condição de sofrimento e, em vez de cuidado, o que recebe são imperativos:
“Responsabilize-se por sua parte nessa desordem!”
“Banque seu desejo!”
Eu sei que nenhum bom analista falaria isso, mas — na prática — infelizmente, essas incitações estão na base da conduta clínica de muitos profissionais.
Esta é uma das razões pelas quais muitas pessoas dizem que “não aguentam” fazer análise.
Pudera!
Se em vez de encontrar um terapeuta que vai te ajudar, você se depara com um “superego gourmet”, é natural que o processo acabe sendo insuportável mesmo.
Nós, analistas, não podemos nos esquecer que estamos lidando com pessoas fragilizadas, emocionalmente feridas, que precisam acima de tudo de CUIDADO.
Se o paciente não reconhece “sua responsabilidade na desordem da qual se queixa”, não é por má-fé que ele age assim.
É porque não dá conta, porque PRECISA se defender acusando o outro.
Se o paciente não “banca seu desejo”, não é por covardia. É porque ele ainda não tem força egoica, segurança, confiança suficientes para fazer isso.
Nesse sentido, nosso objetivo na análise não deve ser o de simplesmente instigar os pacientes a serem mais honestos, responsáveis e corajosos.
Na verdade, devemos ajudá-los, com sensibilidade, paciência e solidariedade a se tornarem mais FORTES para poderem, naturalmente, renunciar a suas defesas.
Você já foi atendido por um analista que agia como superego gourmet?
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