Para Freud, você deveria realizar todos os seus desejos reprimidos?

Ao contrário do que muita gente pensa, Freud não defendia que as pessoas saíssem por aí realizando todos os seus desejos.

— Mas, Lucas, ele não dizia que o adoecimento psíquico era causado justamente pela repressão de certos desejos?

Mais ou menos, mais ou menos…

Em primeiro lugar, Freud descobriu que a repressão é um mecanismo central de um tipo específico de adoecimento (a neurose), não de todos.

Em segundo lugar, reprimir um desejo não significa simplesmente deixar de realizá-lo.

Significa, acima de tudo, fingir para si mesmo que ele não existe, mas continuar alimentando-o inconscientemente.

Quando isso acontece, a pessoa perde o controle consciente sobre o desejo e acaba sendo… controlada por ele sem perceber.

— Por que “sem perceber”, Lucas?

Ora, porque depois de reprimir, o sujeito tranca a porta da sua consciência, forçando o desejo a retornar para sua vida de forma clandestina, disfarçada.

Os sintomas neuróticos (pensamentos intrusivos, medos exagerados, dores inexplicáveis etc.) são alguns dos disfarces utilizados pelo desejo reprimido.

— Mas por que o desejo retorna?

Porque, como eu disse antes, ele continua sendo alimentado no inconsciente, pois uma parte da pessoa quer muito realizá-lo.

A repressão é só uma forma que ela encontra de continuar fantasiando com o desejo longe do olhar vigilante da sua consciência moral.

— Uai, Lucas, mas então a saída não seria a pessoa parar de hipocrisia e realizar logo esse desejo?

De novo: mais ou menos…

Sim, o sujeito precisa “parar de hipocrisia”, ou seja, ter a coragem de desfazer a repressão e encarar o desejo de frente, conscientemente.

Esta é uma tarefa difícil, que exige tempo e amadurecimento. A psicanálise é justamente um método para ajudar a pessoa a fazer isso.

Contudo, parar de reprimir não significa obrigatoriamente colocar o desejo em prática. Isso pode até acontecer, mas não é necessário.

A luz da consciência pode, inclusive, enfraquecer o desejo, tornando-o menos atraente, de modo que o sujeito simplesmente renuncia a ele com tranquilidade.

Uma terceira saída é o que Freud chamava de sublimação:

A pessoa pode canalizar o desejo para atividades produtivas, criativas, religiosas, esportivas etc. e, dessa forma, neutralizar o conflito entre ele e sua consciência moral.

Portanto, o que adoece não é a falta de realização de certos desejos, mas a vã tentativa de jogá-los para debaixo do tapete e alimentá-los secretamente…


Participe da CONFRARIA ANALÍTICA, uma comunidade exclusiva, com aulas semanais ao vivo comigo, para quem deseja estudar Psicanálise de forma séria, rigorosa e profunda.

➤ Adquira o meu ebook “Entenda-se: 50 lições de um psicanalista sobre saúde mental”

➤ Adquira a versão física do livro “Entenda-se: 50 lições de um psicanalista sobre saúde mental”

➤ Adquira o meu ebook “Psicanálise em Humanês: 16 conceitos psicanalíticos cruciais explicados de maneira fácil, clara e didática”

➤ Adquira o meu ebook “O que um psicanalista faz?”

➤ Adquira o pacote com os 3 e-books

Deixe um comentário