
Jean-Paul Sartre, filósofo francês, defendia a tese de que, no caso dos seres humanos, a existência precede a essência, ou seja, aquilo que cada pessoa é não seria uma expressão de uma suposta natureza intrínseca, mas o resultado condensado das escolhas que vem fazendo desde que nasceu.
Uma porta não é assim. Uma porta concreta é meramente a materialização de um projeto de porta que já existia antes dela na mente do fabricante.
No caso dos outros animais, também não vale a afirmação de que a existência precede a essência. Afinal, os bichos não fazem escolhas. Eles apenas reagem de forma mais ou menos padronizada às pressões do próprio corpo e do ambiente. Nesse sentido, um cachorro x é meramente uma expressão particular da espécie canina, cuja essência pode ser inferida por meio da observação de qualquer cão.
Quando consideramos o Homo sapiens, a história é outra. Dada a diversidade imensa de perfis humanos, não é possível extrair da observação de uma pessoa particular uma noção geral de natureza humana. Pense, por exemplo, nas diferenças abissais existentes entre indivíduos como Josef Stálin e São Francisco de Assis.
Portanto, Sartre está corretíssimo ao propor que, no caso do homem, a essência é um projeto que vai sendo permanentemente construído e reconstruído em função dos caminhos que cada pessoa toma ao longo da vida.
O que talvez tenha escapado a esse brilhante expoente do Existencialismo, é que as escolhas que fazemos não são integralmente livres. A descoberta freudiana do Inconsciente evidencia que as marcas que a vida deixa em nós se articulam de modo autônomo, desafiando nossa liberdade e condicionando nossas escolhas. Sim, a gente decide, seleciona, faz opções, somos responsáveis por elas, mas não necessariamente somos livres ao fazer isso.
De fato, não temos uma essência prévia, tal como a porta ou o cachorro, mas isso não significa que tenhamos autonomia absoluta sobre o destino de nossas vidas. O que nos tornaremos não é algo que já esteja pré-determinado desde antes do nascimento, mas também não é produto apenas de nossas escolhas voluntárias.
Como diria o poeta, somos quem podemos ser.
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